terça-feira, 24 de agosto de 2010

Meia do Rio - Recheio de Torrone

Amigos!




Não vou falar de sol, das montanhas, nem das ondas. Não subirei em um helicóptero virtual para descrever o panorama da concentração ou largada da prova, naquela manhã de domingo, em São Conrado. Dispensarei retratar o azul-azul do céu ou o verde-azul do mar. Durante a Meia Maratona do Rio, a TV já fizera tudo isso ao vivo, para todo o Brasil. São milhões de cores que se encaixam na alta-definição dos modernos monitores de LCD. Foram milhões de lares que, mais uma vez, se encantaram com o belo litoral carioca. Se for verdade que “uma imagem vale mais que mil palavras”, então quantos livros valem mil imagens em alta-definição? Sendo assim, dispensarei aludir à paisagem vista do alto da Niemayer, dos oito quilômetros de praia entre o Leblon e o Leme, da enseada de Botafogo e do Aterro do Flamengo – local de chegada. Vou falar de algumas entre 19 mil pessoas reunidas, no dia 22 de agosto de 2010, para percorrer 21.097 metros de asfalto.

Estávamos a poucos metros da largada. Eu, Ozéias, Adriano, Sandro, Alfinete e Bruna vestíamos a camiseta amarela da Montervèrgine e, no meio de tanta gente comprimida, parecíamos recheio do famoso torrone que o nosso patrocinador fabrica. Faltavam 30 minutos para o início da prova. Enquanto o narrador do evento dava avisos, a música não parava e a ansiedade aumentava. Murilo, Carlos e Jorge estavam por perto, mas espalhados.






















Entre as figuras folclóricas das corridas, avistei Índio e o Homem-Árvore, bem lá na frente – diante das câmeras, é claro. Talvez o Índio tenha montado uma oca e passado a noite ali, para garantir o lugar, e o Árvore, de certo, ficou plantado ao seu lado... Faz parte do show, tanto quanto as centenas de faixas que são abertas e mostradas na TV. 

E se todo aquele burburinho composto pelo som das falas, do mar e dos alto-falantes aos poucos cessasse? Se primeiramente o narrador se calasse, ouviríamos melhor, as músicas. Se interrompessem as músicas, ouviríamos melhor, as pessoas. Se as pessoas ficassem quietas, escutaríamos as ondas do mar. E se o mar se aquietasse, perceberíamos um outro burburinho composto pelo batimento dos corações de 19 mil corredores! Mas se por último, suprimíssemos também este burburinho e qualquer outro ruído avulso não sobraria o silêncio absoluto. Perceberíamos altas ondas de ansiedade, pré-largada, mas fortes que as ondas do mar. São as ondas que se formam no oceano que habita em cada ser. Essa mesma força que pode conduzir um homem às grandes realizações, mas que às vezes o destrói, feito tsunami.

Encurta o tempo que resta para a largada. Encurtam as frases de quem ainda fala e o espaço entre-corpos na contagem regressiva. E a corrida começa! O primeiro desafio é tentar mover-se no meio da massa. Naturalmente, os corredores estendiam os braços escorando-se nas costas de quem estava à frente, lembrando fila de escola. Logo foi possível acelerar, não muito, e o recheio de torrone (Ozéias, Sandro, Adriano, Alfinete, Bruna, Murilo, Carlos, Jorge e eu) foi mastigado pela multidão.

Como o esperado, todos concluíram a prova e imediatamente renovaram suas metas.
                      
Por volta das 11h e 30min o mar estava calmo. Não só o mar que banha minha cidade, mas também o mar que ninguém ouve e ninguém vê.







Acima: Bira, Carlos, Adriano, Sr. Fernando (nosso patrocinador), Alfinete, Bruna, Sandro, Ozéias e Murilo.

Abraços!
Bira.

sábado, 21 de agosto de 2010

Onde está a Beleza do Rio?

(...) Já paguei três meses de musculação e não frequentei nenhum dia. Sei que estou perdendo dinheiro, mas hoje eu quero é correr e passar por ruas onde nunca pisei (...)


Cristo do Subúrbio, montagem com fotos da internet - Bira, 28/10/15.

Onde está a Beleza do Rio?

Amigos!

Embora precise, eu não conseguiria malhar dentro de uma academia nesta manhã tão clara. Por mais amplo que fosse o janelão da academia, eu me sentiria recluso. Depois de ter passado a noite fria embaixo do edredom, agora tinha um sol me convidando para correr.

Esta manhã de inverno possui ar fresco e nenhum chamusco de nuvem maculando o azul do céu. É certo que vai esquentar, mas os raios solares ainda provocam sombras enviesadas no chão. Já paguei três meses de musculação e não frequentei nenhum dia. Sei que estou perdendo dinheiro, mas hoje eu quero é correr e passar por ruas onde nunca pisei. A sensação de estar perdido, enquanto corre, aguçam os sentidos. Provoca insegurança não saber o que surgirá depois da próxima e inédita esquina. É preciso ficar atento, e isto aumenta a percepção do mundo ao redor.

O subúrbio do Rio não tem mar nem a chamada “gente bonita” que desfila de biquíni ou bermudão. As calçadas não têm pedras portuguesas e alguns terrenos viraram lixão. Quando saio de casa, em Irajá, para correr meus longões, a tendência é seguir em direção ao Centro e Zona Sul.

- Pelo menos posso encerrar o treino dando um mergulho no mar e bebendo água de coco - penso.

Mas hoje farei diferente: Para onde vou?... Não sei.

Optei por seguir na contramão do metrô, de Irajá até pouco antes da estação Colégio. Adentrei numa rua à esquerda, achando que estaria seguindo para Rocha Miranda, mas abandonei o curso na próxima esquina. Algumas novas mudanças de trajeto e percebi que não sabia mais onde estava (que beleza!). O cronômetro deveria estar marcando uns 20 minutos e eu já “me perdera”. Vibrei, enquanto um vira-lata faminto, sentado na calçada, sequer me via passar.

Correndo no asfalto, rente ao meio-fio, percebi que a COMLURB passou por ali, deixando a rua limpa... “Até quando?”, pensei. Diante dos muros pichados, mal construídos ou sem reboco, as pessoas desprezam a limpeza das calçadas jogando tudo no chão.

- Onde está a beleza do subúrbio? - me perguntei.

Mais uma esquina e dei de cara com a estação Coelho Neto do metrô. Já sabia de novo onde pisava e prossegui no sentido Pavuna. Cruzei sob a Av. Brasil e me embrenhei as ruas de Acari. Não dava para me perder ali, mas poderia seguir para a Baixada. Margeei um rio largo, poluído e assoreado, um conjunto residencial de prédios populares e a linha férrea num trajeto de uns cinco quilômetros. Dentro do rio vi urubus disputando uma “refeição”, e me perguntei:

- Onde está a beleza da periferia?

Se por um lado, o solo não apresentasse tanto atrativo, por outro, a luminosidade do céu aumentava e dava mais vida ao azul. Nesses três quartos de hora vi três aviões passarem, rumo ao Galeão, sem nuvens para perfurar. Mantive o ritmo moderado das passadas (uns 10km/h) e minha respiração estava tranquila. A apenas quatro dias da Meia Maratona não se deve forçar.

Não devia faltar muito para chegar a Pavuna, quando o longo muro da estrada de ferro recuou, revelando uma cancela que me deu a opção de virar à esquerda. Uma placa dizia ser caminho para Anchieta. Aceitei a sugestão e experimentei de novo a sensação de alerta – em que bairro eu estava?

Mantive-me na estrada onde corre o trânsito para não entrar em terreno hostil. Passei rente a uma favela e cruzei uma área industrial. Vi barraca que vendia pão-com-“linguisa” na frente duma fábrica; um catador de garrafas; uma égua encardida amarrada no pasto; uma sucata de carro incendiado...

- Onde está a beleza?...

Mas não deixo de lembrar um sabiá ciscando insetos no gramado e um belo casal de galinhas d’angola que poderia ser um despacho vivo. Mais adiante galinhas caipiras eram criadas soltas numa área mais bucólica. Esquinas passavam e o trânsito ficava intenso, até que desembocou num pequeno shopping que tinha o nome do bairro: Guadalupe. Olhei pro relógio que marcava pouco mais de uma hora de treino e pensei:

- A Av. Brasil passa por aqui, melhor voltar por ela.

Um transeunte me indicou uma rua à esquerda e eu segui. Antes de chegar à Brasil, descobri uma pista de caminhada que margeia um rio naquele local, da mesma forma que ocorre na Vila da Penha.

Na volta pela avenida, outros quatro aviões passaram, desta vez no mesmo sentido que eu. De Guadalupe à Irajá, absorvi barulho e gás carbono em níveis aparentemente suportáveis. Depois de passar em frente ao CEASA, abandonei a aquela via e corri mais uns quatro quilômetros nas ruas de Irajá. Encerrei o treino (de 1h 56min) e entrei no sacolão para comprar couve, conforme o pedido de minha mulher.

Qualquer dia desses voltarei a percorrer esses recantos do Rio onde a beleza não salta aos olhos. Onde o esvaziamento econômico atirou suas vítimas e encobriu o encanto daquele povo. Quero acreditar que beleza da periferia está apenas encoberta, reunindo forças para brotar dos escombros. Um dia ela vai ressurgir, bem antes que se cumpram as promessas de ressurgimento do Redentor. Se o Redentor continua aprisionado nas páginas do Livro Sagrado, onde está exilada a beleza do subúrbio? Se o subúrbio faz parte do Rio, onde está a beleza do Rio?

(Texto reeditado e modificado em 28/10/15)

Abraços!
Bira





quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Rumo a Buenos Aires Maraton!

Amigos!

Antes mesmo que pintasse aquele vazio que acometem os heróis pós-embate, refiz a minha meta: Agora que completei a Maratona do Rio, inscrevi-me na de Buenos Aires! Também pela internet foi possível trocar as passagens pelos pontos do cartão de crédito. Só não reservei hotel, ainda. Saber que terei de continuar correndo os cerca de 100km semanais me acalmou. Já estava habituado em treinar seis dias na semana. Já estava viciado nos longões de sábado.
A Maratona de Buenos Aires (foto acima) será em outubro, 10. É mais um sonho de corredor gotejar suor nas avenidas que beiram o Rio de la Plata. Melhor ainda seria baixar o tempo alcançado no Rio (3h36’). Ganhei mais 60 dias para treinar e melhorar, assim espero.
MEUS TREINOS
GRAMA (2 x p/ semana, 1h a 1h30’, 13 a 19km)
– Faço no Trevo das Margaridas, início da Rodovia Rio-São Paulo, onde tem três áreas de grama. Escolho a maior com 650 metros de circunferência, piso fofo e seguro. Este tipo de solo é fundamental para quem treina muitos quilômetros e deseja preservar os joelhos.

AV. OLIVEIRA BELO

– A rua próxima ao Carioca Shopping tem pista demarcada de 1.700m (metragem correspondente à pista envolta do Maracanã). Às vezes fica abarrotada de caminhantes. Quando não, é propícia aos treinos de ritmo, onde corremos menos, no entanto, mais forte e adquirimos velocidade.


FARTLEK nas proximidades
– Para não ficar apenas rodopiando nos canteiros da Dutra ou na “grande esteira de asfalto” da Oliveira Belo é preciso correr nas proximidades. Subir ladeiras, entrar em ruas que nunca passou de seu próprio bairro, transpassar seus limites brincando de correr. "Proximidades" para corredor, no entanto, têm medidas além do nomal.

OS LONGÕES
– Manhã de sábado é sinônimo de longão que pode ter entre 20 e 32km. Pode ser feito na estrada, na subida do Corcovado, na serra, no entorno da Lagoa, do Bosque ou rente ao mar. Minha cidade é das mais generosas do mundo, ao oferecer paisagens tão inspiradoras. Longão é o desfecho da semana, quando o organismo experimenta o sabor da prova que lhe espera e nutre o espírito de esperança. Entre tantos longões, os mais extensos foram de Irajá/Copacabana (31k). Nos três primeiros que fiz, cheguei esgotado ao calçadão. Já no último sábado concluí este percurso sem sofrer tanto - ficou clara a evolução.
De treino em treino, a maratona se constrói bem antes do seu dia. Tenho esperança de concluir Buenos Aires Maraton com o tempo que projetara para o Rio: 3h 19’. Daqui a 59 dias saberemos o resultado.




Abraços!
Bira

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Maratona - Parte Final - Churrasco dos Atletas

Amigos!

Por volta das 13h, do último sábado, o sol pendia num céu limpo e azul, iluminando e aquecendo o terraço lá de casa. Se fosse no verão, ficaria impraticável promover um churrasco àquela hora, em local sem cobertura. Mas o mês de julho traz um restinho de minuano até o Rio, amenizando o calor.

Quando as primeiras carnes saíram da brasa, já tinha chegado gente. Nos pratos o previsível: arroz branco, maionese, farofa, molho à campanha, alcatra, linguiça e fango. Foi a hora de demonstrar habilidade para falar e sorrir, comendo farofa, ou abraçar um amigo que chega, equilibrando prato e copo nas mãos.

Reunimos ao todo umas 25 pessoas. Os corredores, em geral, ficaram de um lado e nem preciso dizer do que falavam. Mas suas esposas - algumas que nem se conheciam, falavam de tudo. Crianças brincavam nos computadores, comiam fruta, bebiam Coca-cola, saltavam pipa. Felipe, de um ano, engatinhava e fazia graça para delírio do seu avô.


Enquanto isso, o sol se fez maratonista e percorreu toda a trilha do céu para desaparecer detrás da distante montanha. Sem sol, o terraço ficou ainda melhor - hora de reacender o fogo, assar o restante da carne, beber a última cerveja.


E a turma que só se encontra "correndo" pode comemorar sentada o final de uma etapa de treinamento duro que culminou na Maratona do Rio. Cada um de nós correu de 90 a 100 km por semana, nem sempre juntos, mas procurando nos encontrar nos longões de sábado. O churrasco pós-prova estendeu essa relação aos nossos familiares, fortaleceu e justificou nosso empenho.


Os planos para próximas corridas já foram traçados, pois seguimos o exemplo daquele sol-maratonista que amanhã estará dando mais uma largada ao brotar no horizonte, para percorrer, incansável, toda a cúpula do céu.

Eu, você e o sol, somos todos campeões!

Abraços!
Bira.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Maratona Parte IV: Flashes da Chegada

Amigos!

Sem palavras, coloco abaixo flashes da chegada na Maratona do Rio após 3h36min de prova ou 42 quilômetros de asfalto.

Muito obrigado pelas inúmeras mensagens que recebi, em retorno aos e-mails que mandei. Fiquei imensamente feliz em saber que a emoção que senti se fez em bits, viajou no espaço cibernético e aportou nos corações dos meus amigos.

Arquivei todas as mensagens numa pasta espacial, do meu e-mail, que dei o nome de Maratona...



Abraços!

Bira