quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Namorada, Vinte Anos Depois!

Amigos!


Devo confessar; no ano de 1985 tive um caso cujo cupido foi o jornalista José Inácio Werneck, na época, colunista do Jornal do Brasil. Werneck esteve no grupo que promoveu e organizou as primeiras Maratonas do Rio, nos anos 80. No JB, escreveu sobre a corrida, fazendo meus olhos – que ainda liam sem auxílio das lentes – brilharem de encanto. Foi assim que decidi, sem qualquer treino preliminar, me inscrever na maratona. Com 26 anos de idade, não tive dúvidas de que completaria o percurso, mesmo que levasse 6 horas pra isso! Levei 5h e 28m! Na prova, trotava e andava alternadamente, mas quando a concluí já estava “fisgado” pela paixão da corrida. Foi a primeira vez que disparei quando avistei a chegada, entregando-me à emoção, essa usina de energia.

Já era 10 da noite no Leme e a vibração da minha chegada contrastava com o pífio tempo do relógio, chamando atenção de todos: Felicidade contagia!

Saí dali disposto a melhorar aquel pífio tempo, mas pouco consegui. Fiz 4h 35min na Maratona do ano seguinte (Rio 86) e algo próximo na Maratona de São Paulo 87. Para melhorar de verdade, faltou muitas coisas, sobretudo informação e dedicação. Sobraram as terríveis cólicas renais, causadas por cálculos. Além das contusões nos joelhos, toda vez que eu começava a querer entrar em forma. Até que desisti da corrida, como quem termina com a namorada.

Em 86, corri conduzindo a imagem de São Judas Tadeu. Promessa para cura dos cálculos renais.

Duas décadas depois (jan/2008), reencontrei a velha namorada - a Corrida. Era manhã de domingo no Leblon e eu já tinha 48 anos, quando larguei na Leblon-Leme. Fiquei tímido para puxar assunto... Ela, Corrida, continuava jovem e mais linda do que nunca. Minha juventude, no entanto, se resumia à atitude de estar ali. Fiquei surpreso quando me vi em seus braços. Tomei banhos de suor e auto-estima.

De lá pra cá já são mais de três anos registrados neste blog. 


Daqui a 12 dias estarei na Maratona de Buenos Aires. Treinei muito para isso e pretendo corrigir os erros cometidos na Maratona do Rio e melhorar o tempo de 3h 36mim. Os cálculos renais não têm me importunado mais e as coxas fortes deram trégua aos joelhos. A rotina de treinos que abrangeu seis dias por semana, com picos de 100 km neste intervalo, troxe mais saúde e bem-estar. Depois de Buenos Aires, devo correr menos para o corpo se recuperar. Ano que vem, tudo recomeça. Planejo melhorar a alimentação e o sono, fazer reforço muscular e exercícios de flexibilidade (meu fraco) o que pode ser resumido numa só palavra: Disciplina. Ainda posso melhorar muito e quero mais!


Abraços!
Bira.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Correndo com o Saci

Amigos!



Feliz é o bairro que tem um vasto gramado onde treina um corredor! Esse bairro é Irajá, o gramado está no Trevo das Margaridas e o corredor sou eu. Utilizo aquela área, relativamente bem cuidada, para dar volume aos meus treinos, duas ou três vezes por semana. Não tenho concorrentes. Em seis meses, somente um dia vi alguém correndo ali. Dou vinte voltas em pouco menos de uma hora, somando uns 13 quilômetros. Sexta-feira passada foi um desses dias.

Enquanto a imprensa dava destaque à baixa umidade do ar, as matas brasileiras ardiam em chamas. Constatei isso ao longo da Rodovia Presidente Dutra, numa viagem de ida e volta a São Paulo. Mas agora eu estava ali, no fim da longa rodovia, correndo sobre o gramado meio seco.

A manhã do dia 03/09/2010 revelava um céu sem nuvens. O trânsito, na Av. Brasil, intensificava aos poucos tanto quanto a luz solar. Não havia indícios de que eu teria uma experiência sobrenatural num ambiente matinal, claro e movimentado, mas isso ocorreu. Tudo seguia como o planejado. Mais uma vez eu daria as 20 voltas no vasto canteiro para depois ir trabalhar. O treinamento na grama requer um pouco mais de atenção às irregularidades do piso, mas eu já conhecia cada centímetro daquele gramado. Esforçava-me para manter a concentração em não deixar cair o ritmo, na monotonia das passadas. Estava na volta de nº 13 quando uma lufada de vento fez surgir um redemoinho ao meu lado, dando vida às folhas mortas do chão, atirando-as sobre mim, junto aos ciscos e poeira. O susto fez meu coração disparar tanto quanto minhas pernas. Senti um arrepio e pensei: “É Saci Pererê!” Um redemoinho que surge do nada é artimanha do Saci. Em instantes, a nuvem de poeira ficou para trás e dissipou da mesma forma que surgira. Percebi que estava eufórico e me arrepiei de novo, me perguntando: “Será que o Saci está correndo comigo??” Já ia me benzer para exorcizar o espírito travesso, mas refleti: “Deixa o neguinho!... Vamos dar uma volta juntos neste gramado!” Gargalhei ao pensar no esforço que o perneta devia estar fazendo para me acompanhar, ainda mais com um cachimbo na boca! Definitivamente, para se tornar corredor, Pererê teria que instalar uma destas próteses modernas, largar o fumo e trocar a carapuça por um boné. Resumindo, seria o fim do Saci!... Imediatamente, pensei de novo: “Deixa o neguinho!” e quando a volta nº 14 começou, falei: “Vai Saci! Pula fora que seu esporte não é esse!”

Fechei o treino em 59 minutos quando o sol parecia mais forte e o vento mais fraco. Saci já havia partido, acredito que grato por ter encontrado alguém que não quis exorcizá-lo ou convertê-lo. Quanto a mim, vou continuar treinando de manhã porque à noite corro o risco de encontra a Mula-Sem-Cabeça que possui labareda de fogo no lugar das ventas... Não quero nem imaginar!


Abraços!

Bira.