sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Assim na Terra como no Céu...

Amigos;

Virose, lombalgia, dor de cabeça, limpeza da caixa-d`água e reformas na casa me afastaram dos treinos neste fim-de-ano. Não tive condições de correr a Panamericana (10k, no Aterro), mas no início de dezembro fiz a Volta da Pampulha, mesmo estando 20 dias sem correr. A gente até esquece que está longe de casa, quando se depara com tantos amigos do Rio correndo em volta da lagoa, cartão postal de BH. Mas a carreira não findou ao cruzar a linha de chegada: ainda com roupa de corrida, me enfiei num taxi, rumo ao aeroporto, para não perder o vôo de volta. O taxi ficou mais caro que o avião, mas o "banho" saiu de graça: Antes de trocar de roupa no banheiro do aeroporto, esfreguei sabonete da cintura para cima e enxaguei o corpo no lavatório. Deu para entrar no avião penteado, cheiroso e limpinho... Ainda bem.
  


 

Domingo passado participei da Corrida Light - Rio Antigo, no Centro da Cidade. Achei que não teria gás para fazer os 10k em menos de 45', mas fiz em 42' 05" - o quarto na faixa etária. Faltou pouco para subir no pódio.
 
 Voo de trike a Barra: o vento forte exigia destreza do piloto.

Se naquela manhã de domingo eu não subi ao pódio, não foi porque eu não havia treinado. Havia muito mais altitude reservada para mim, no céu da Barra, nas asas do trike do meu amigo Guilherme. No Club de Aeronáutica, próximo ao Bosque da Barra, decolei no ultra leve para observar o mundo com os olhos das águias. As cores, o vento, o frescor... Tirei fotos aéreas para uma matéria na Revista Ast-Rio e nem vou descrever o passeio aqui, sem fazê-lo primeiro na revista. Só posso dizer que se todo o ano de 2010 começasse no momento em que subi no trike e terminasse, minutos depois, quando pousamos, já teria sido um dos melhores anos de minha vida!...
  
Os amigos Guilherme e Roberto, antes da primeira decolagem. 

O sorriso fica tatuado na alma de quem voa.

Cores do Rio...


 Depois do vôo, como se não bastasse, ainda ouvir palavras de carinho do Guilherme.

 Em 2010 eu estive nas nuvens, tanto na terra quanto no céu. Ainda restaram paredes, aqui em casa, para pintar e muito sonhos pro ano que vem. Desejo a todos um Feliz Natal!

Abraços!

Bira

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Diga-me com quem Corres: Ozéias

(...) Eu precisava pensar em como ía erguer a minha vida (...) Então comecei a caminhar 1h e 30min por dia, mesmo que chovesse canivete!(...)


Caminhão em que Ozéias trabalhava antes de começar a correr - foto de arquivo pessoal.


Diga-me com quem Corres: Ozéias

Amigos!

O que você faria?... 
Se você fosse um caminhoneiro que vendeu seu único caminhão para pagar dívidas?

O que você faria?... 
Se depois de quatro anos de trabalho duro, na estrada, só lhe restasse R$ 5.000,00 e mais nada? 
O que você faria eu não sei... Só sei que em 2004, Ozéias – o herói desta história – simplesmente, foi caminhar...

Saindo do Fundo do Poço

Pesando 126kg para 1,77m de altura, aos 31 anos, Ozéias Carlos B. Lira já era um obeso grau III ou obeso mórbido. No "fundo do poço financeiro", segundo suas próprias palavras, decidiu recuperar não apenas patrimônio, mas silhueta do tempo de militar e a auto-estima abalada, toda vez que lhe chamavam de Geléia, Leitão ou Baleia.

- Eu precisava pensar em como ía erguer a minha vida (...) Então comecei a caminhar 1h e 30min por dia, mesmo que chovesse canivete!... - relembra.

Ozéias no tempo de militar da Brigada PQD...
... Depois chegou a pesar 126 km - "vida de caminhoneiro", diz.

Saía para caminhar motivado pelas palavras de sua mãe e seu irmão, mas na rua ouvia piadinhas, como: "Pra você emagrecer vai ter de dar a volta ao mundo!" ou " ...Só tomando chumbinho que 'seca rápido'!"

Com determinação e a disciplina aprendida no quartel, começou a perder 1kg a cada duas semanas. Motivado, aumentou a intensidade das passadas e perdeu 22kg. naquele mesmo ano (2004). A partir de então, os gozadores saíram de cena para dar vez aos curiosos, que perguntavam: "Qual remédio você está tomando?" ou "Qual é o seu médico?"

Quando chegou aos 100kg, em 2005, o ex-Faustão começou a trotar, de segunda à sábado, na pista de pedrestres da movimentada Rua Oliveira Belo, Vila da Penha. Foi quando participou de sua primeira prova: a Corrida de São Sebastião - 10km, no Aterro do Flamengo. Logo, um amigo lhe convidou para ingressar na equipe de corredores Acoruja, mas de princípio ele rechaçou achando que "lá só tinha pessoas magras e que corriam muito".


O Caminhoneiro


Em 1999, o sucesso obtido como motorista de kombi levou Ozéias a comprar seu caminhão baú 1113 Mercedes Bens, trabalhando em sociedade com o irmão até 2003. Foi necessário dormir na boléia, virar noites, se alimentar mal e ganhar muito peso. Entre muitas histórias deste período, ele conta que certa vez foi coletar uma carga em uma empresa localizada em um dos acessos ao Complexo do Alemão. Foi parado na barreira do tráfico e teve de responder a várias perguntas, abrir o baú para uma revista e seguir com o baú aberto até o portão da empresa. Para piorar, não pode entrar de imediato no depósito e, durante uma hora, os traficantes se alojaram no baú do caminhão, portando fuzis e anunciando droga. Hoje, nosso corredor trabalha em uma empresa na Penha e, de segunda a sexta, é possível correr à noite.


Cinco Maratonas




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Quando se increveu para a primeira maratona (42k), logo em 2005, o fez escondido da família. Durante a prova perguntava a si mesmo: "O que é que eu tô fazendo aqui nessa porra!" - mas completou a corrida. Depois da prova não conseguia subir um degrau sequer, seus pés perderam seis unhas e levou uma semana para se recuperar. A emoção da chegada, no entanto, falou mais alto do que qualquer sofrimento e o fez retornar nas maratonas de 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010, destas vezes, já habituado e sem o mesmo sofrimento.

Agregador, Ozéias manda e-mails ou telefona, convidando toda turma sempre que tem longão. Daqueles 126kg, que carregava, só sobraram 72 (!) e até hoje tem pessoas que lhe param na Rua Oliveira Belo para perguntar se ele é aquele gordinho que dava duas voltas na pista (3.400m) e depois caía morto.
 
Para compor esta postagem eu fiz várias perguntas ao Ozéias, só esqueci de perguntar ao meu ídolo se "valeu a pena ter ido à falência, para depois romper a própria casca e se libertar da própria prisão?"... Pensando bem, é uma pergunta totalmente dispensável: todo mundo já sabe a resposta.

Abraço!
Bira.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mais Imagens do Revezamento!

Amigos!



Apenas algumas fotos e poucas palavras...


 Pra começar, nosso garoto Antônio... Experiência e Vitalidade!




 No começo da corrida tudo é festa... Sorrisos! Depois é que o bicho pega!


Dizem que o Ozéias já foi gordo, mas eu nunca acreditei!

 Esse aí nem tocava no solo... Se tocou eu nem percebi!






Adriano cheio de estilo. Parece até capa da Runner's!

Nosso "cinegrafista" em destaque!... Voou na pista e depois pegou a bike para filmar os amigos!


A equipe Body Shape Academia (ordem das fotos): Antônio, Bira, Ozéias, Sandro, Adriano e Alessandro!

Mais Abraços!

Bira
(confira os vídeos na postagem anterior!)
http://www.bira-log.blogspot.com/

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Maratona Pão de Açúcar de Revezamento - Etapa Rio - 07/11/2010.

Amigos!



Nossa equipe (Academia Body Shape) fez bonito na Maratona de Revezamento Pão de Açúcar, domingo, 07-11-2010, no Aterro: Em pé: Adriano, Sandro, eu, Ozéias e Antônio. Agachado, o Alessandro que além de correr seu trecho, pegou a bicicleta para registrar as imagens abaixo. Ficamos em sexto com 2h46min e uns quebrados... Valeu!

Bira - Km 1




















Bira - KM 4 e 5






















Adriano - Km



Sandro - Km



Ozéias - Km



Antônio - Km



Abraços!

Bira

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quem é o Dono da Terra?

Amigos!


Finalmente eu e Edna passamos alguns dias (mais precisamente 5) fora do Rio e da rotina. Individualmente eu não posso dizer que estivesse carente de fazer um passeio, faz pouco tempo que estive correndo em Belo Horizonte, Porto Alegre, Buenos Aires e etc, mas sempre fui sozinho. Além do mais, mesmo que estivesse com a Edna nestas corridas, não seria a mesma coisa para o casal. Uma coisa é um casal viajar em função de um evento, outra é viajar por eles mesmos. E assim nós fomos para Recife e Porto de Galinhas.


Chegamos na tarde de sexta-feira, 22/10/10, na capital pernambucana. O cansaço de dois vôos atrasados atirou nossos corpos de chumbo na cama do excelente hotel. Foi preciso coragem para se livrar da maciez da espuma, tomar um banho e trocar de roupa. Mas se a noite não espera para chegar, tínhamos que aproveitar as últimas horas de luz natural para visitar Olinda.


O céu cinzento logo ficaria negro e sem brilho de estrelas. Não daria tempo de ver muita coisa, além das fachadas de igrejas fechadas, violeiros, toalhas de rendas e alguns ateliês, numa espécie de degustação - fast-tuor, fast-food - tapioca de coco com coca-cola e corra que lá vem a chuva!... Os planos de petiscar à noite no Recife Antigo foram por água abaixo. Terminamos comendo pizza no grandioso Shopping Recife, a oito quadras do hotel.

Na manhã seguinte a chuva só piorou. Corri uma hora e meia no calçadão da Praia de Boa Viagem, desviando de poças e atento à água que os pneus atiram na calçada. Minha mulher nem se animou para dar uma olhada na praia, debaixo de chuva. Por R$100,00, um taxi nos levou à pousada em Porto de Galinhas. Como não parou de chover, passeamos na cidade olhando lojas e voltamos cedo para a pousada, torcendo pela vitória do sol em sua batalha contra as nuvens.
 
Quando acordei na manhã de domingo, ainda nem haviam servido café no restaurante da pousada. Comi algum biscoito e saí pra correr pela estrada. Percebi melhor que a cidade - Ipojuca - está se preparando como nunca para este verão. A estrada que conduz a Porto de Galinhas está ganhando iluminação sem fios aparentes, asfalto liso e belas calçadas com ciclovia e pista para caminhada. Fiquei feliz em ver que o nordeste está progredindo. Este povo lindo, acolhedor e humano merece ter sustento em sua própria terra. Durante a viagem de taxi, já tinha observado as obras da refinaria Abreu e Lima e obras de abastecimento. Tubulações que conduzirão água da Bacia do São Francisco às cidades nordestinas. Enquanto corria, lembrava do relato orgulhoso e vibrante do taxista ao descrever o progresso de seu Pernambuco. Mesmo sendo de manhã, durou pouco para que eu retirasse a camiseta no calor do nordeste. Corri uns oito quilômetros de asfalto até desembocar na Praia de Macaraípe, reduto dos surfistas. Ali perto as obras já estavam quase concluídas e eu já me sentia feliz imaginando tudo pronto, quando avistei ao lado da pista vária demarcações no terreno. Barracos eram erguidos, maculando o paisagismo antes mesmo de sua conclusão. Automaticamente fiquei indignado, ainda correndo, me perguntando: "De que vale investir tanto nesta bela obra, se já está surgindo uma favela ao longo do caminho?" Enquanto isso, um "invasor" remexia em um canteiro, plantando ou colhendo verduras. Uma mulher abriu a porta de seu barraco e me viu passando na estrada. Sem perceber meu olhar crítico, oculto pelas lentes espelhadas dos óculos de sol, ela abriu um belo sorriso de falou com uma voz que vinha do coração: "Bom-dia!..." Quase tropecei em suas palavras, mas respondi prontamente: "Bom-dia!..." Se minhas pernas não pararam, minha mente deu um nó. Eu ali, na condição de turista, julgando saber o que é melhor para a cidade. Deparando com barracos e esquecendo que dentro deles tem gente que também merece um teto. Foi preciso ouvir aquele "bom-dia" para pensar nisso. Senti-me um pouco culpado.


Afinal de contas, a quem pertence a terra? Ao turista que não quer ver barraco fincado à beira da estrada? Ao comerciante que quer ver mais turista? Ao desprovido que levanta seu teto onde é possível?...



Não deu para responder tanta pergunta do mesmo jeito que pude responder ao inesperado "bom-dia". Distraí a mente retornando à pousada, desta vez, correndo pelas praias. A chuva se foi e prevaleceu o mormaço na manhã e tarde de domingo. A praia ficou cheia

 .

Na segunda o céu sorria exibindo um sol branco-colgate. O vento soprava forte nas velas das jangadas. As piscinas naturais, mais uma vez, estavam repletas de peixes coloridos. Bares sobre rodas se deslocavam nas areias vendendo coqueteis e tocando música. A doce pina-colada custava R$10,00 e era preparada com vodca e frutas dentro de um abacaxi sem poupa. O peixe frito com macaxeira e salada, servido na praia, estava uma delícia. Só saímos dali no fim da tarde.

 
Na terça fizemos o passeio de ponta-a-ponta, conduzido pelo buggy que estaciona em quatro praias entre Maracaípe e Muro Alto. Nesta última eu não resisti à tentação de correr sobre uma areia batida e de cor branco-pérola, até bem próximo do Porto de Suape - ida e vota, uns 5 km em ritmo forte - uma beleza! Em Maracaípe a extensão de areia parecia não ter fim, até que se chegasse ao mar... Só que já era hora de voltar. Às nove da noite, já estávamos em casa - o melhor lugar do mundo!




DESCANSO DAS PLANILHAS
Passada a Maratona de Buenos Aires, resolvi esquecer as planilhas de treinamento. Não deixei de treinar, mas é preciso dar um descanso para voltar forte em 2011. Domingo participei com os amigos da Maratona Pão de Açúcar de Revezamento, mas isso é assunto para a próxima postagem.

Abraços!

Bira

Divulguem o Blog encaminhando esta postagem!
http://bira-log.blogspot.com 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Buenos Aires Maraton II - O Choro da Vida

Amigos!

A emoção encobriu o meu cansaço feito os troncos de árvore que encobriam a pista do parque, a poucos metros da chegada.

O voo atrasou e o avião pousou às três da tarde no Aeroporto de Ezeiza. O céu aberto apresentava uma luz estupenda, parecia meio-dia. Apesar disso, o termômetro oscilava entre 18 e 20 graus, pensei: "Se fosse no Rio, eu estaria cantando o "Ala-laô..." No caminho entre o saguão do terminal e o ponto de ônibus, escolhi caminhar pelo sol.

É larga e bem cuidada a estrada que se estende até o Centro. Tem gramados bem aparados, pinheiros e outras espécies de árvores que não vemos no Rio. Bastou 25 minutos de estrada, no entanto, para ver o concreto espantar o verde, tornando aquela metrópole tão impermeável quanto as demais. Procurei na estrada uma placa de "Benvindo", mas àquela altura eu já devia ter passado por ela.

Quando o ônibus deixou a larga via e se embrenhou na lentidão do trânsito, percebi que a luz do sol já era enviezada e menos intensa. No Centro da Cidade, o mesmo concreto que antes enterrou o verde, agora se elevava tentando encobrir o azul do céu. As sobras dos prédios se uniam num simulacro da noite. Cheguei ao hotel.

*             *           *



E não é que os americanos tinham razão?!... Buenos Aires, finalmente, é a capital do Brasil. O real forte inverteu a mão e os argentinos, que tristemente opataram pela adesão ao ALCA, foram abatidos pela crise. Na Rua Florida só se fala Português.

Depois de hospedado, minha primeira preocupação foi retirar o kit de corrida. Mapa na mão, deu para ir a pé do hotel até a Faculdade de Direito. Depois, bati-perna, jantei e voltei para o quarto. Acordei às 8:30h de sábado, refeito de não ter dormido na noite anterior. Não quis fazer cith tour e fui tomar café num shopping distante, aproveitando para caminhar pela Av. Corrientes. Observei nos cartazes dos inúmeros teatros e casas de espetáculos daquela avenida que brasileiros também estão em cartaz. Maria Bethania, Elza Soares e outros...



Às oito da noite resolvi deixar tudo arrumado, tanto para a corrida quanto para o retorno no dia seguinte. Às nove deitei, mas durante toda a noite eu só dormi por uma hora. Levantei às cinco bem disposto e fui, de taxi, para o local da largada.

O frio não era forte nas redondezas do estádio do River Plate. Árvores grandes e de copa pouco densa filtravam a luz da manhã. Não havia tumulto. Os atletas respeitavam sua área de largada definida de acordo com seu ritmo de prova. Descobri que além dos brasileiros, estava cheio de chilenos ali. Faltando oito minutos para a largada, a "música de academia" parou para que um vistoso (e inadequado) cantor de terno bege e voz grave, interpretasse o interminável hino argentino. Mas logo deu sete e trinta e a arquibancada delirou quando seis mil e quatrocentos atletas dispararam na largada.



A Maratona de Buenos Aires não é tão bela quanto a do Rio, mas deu um show de organização. Para se ter uma idéia, se Gatorade tivesse álcool eu terminaria bêbado. A bebida foi distribuída em oito pontos, além de muita água em garrafas pet, chuveiros ou nas esponjas embebidas. Voluntários entregavam bananas e laranjas cortadas de modo a facilitar a degustação. Uvas passas e ameixas secas sem caroço repunham a energia dos corredores. Mas se nada disso servisse para dar mais gás aos maratonistas, o incentivo de jovens uniformizados ao longo do percurso certamente o faria, e fez! Os quilômetros passavam brincando sob as solas dos tênis. Aproveitei o clima e brinquei muito com a garotada, estendendo a palma da mão para ser tocado, fazendo aviãozinho, e eles respondiam com o coro de "Brasil, Brasil!..." Uma festa!


Cantores, músicos e dançarinos foram posicionados em vários pontos do trajeto. Se no kilômetro 5 um casal dançasse tango, no 10, um conjunto mandava um rock. Mais à frente, outros cantavam boleros, ritmos regionais e até o nosso samba. Na altura do kilometro, 15 duas loiras - crones de Xuxa - balançavam cabelos e coxas para delírio das crianças e dos marmanjos, por diferentes motivos.

Fiz tanta festa e acabei chamando à atenção de outro carioca, residente em Brasília, que emparelhou ao meu lado. Corremos por vários kilometros conversando e essa foi a melhor ajuda que obtive. Não fosse isso, eu acabaria seduzido a aumentar o ritmo muito antes da hora. Mas foi este mesmo cara que no kilometro 28 comentou: "Tem muita gente nos passando, agora..."  Fiquei com medo, acelerei e não vi mais o cara. Àquela altura meu ritmo projetava a chegada
8para 3h26'. Passei bem pelo fatídico km32 onde percebi que o tempo de chegada caíra para 3h22'. Animado, não pensei que sentiria a queda de rendimento ocorrida no km37, acompanhada duma ardência nos ombros e ameaça de dor no abdome. Vi que não daria para reagir e me contive até o retão do km39. Pasaram as dores, dando vez a um esgotamento que não me deixava acelerar. Foi quando eu disse para mim mesmo: "É tudo emocional!... Se já me sento melhor, posso acelerar!" Deu certo e eu sentei-o-pé o mais que pude até o fim da corrida.





Cheguei com o meu cronômetro marcando 3h26'42". Dez minutos melhor que na

Maratona do Rio. Chorei copiosamente. Chorei o que não quis chorar na maratona carioca. Chorei por tudo que me fez voltar a correr e por toda vida que me levou aquele momento. Um corredor argentino amparou-me com um abraço, chamando-me de "campeón", mas ele próprio acabou chorando junto... Parecia tango!...

Ainda sinto vontade de chorar o choro da vida, que me trouxe ao mundo a meio século e que me faz renascer em momentos como esse.

Quando fui conferir o tempo oficial fiquei meio frustrado pois havia uma diferença inexplicável de 4 minutos: Foi registrado 3h30'30", enquanto que o meu cronômetro marcara 3h26'42"... Mas não tem problema: A próxima maratona eu vou percorrer em 3h20'!... Aguardem e confiram!

Abraços!

Bira.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Buenos Aires Maraton I - A Conexão de 5h.

Amigos!

Pouco antes das seis da manhã não é possível avistar São Paulo da janela do avião. A cidade foi encoberta por um imenso tapete de nuvens que reflete os primeiros raios solares, lembrando pele de ovelha. Do lado de cima daquele manto, o céu é azul claro e o sol emite raios amarelados que se esgueiram entre nuvens distantes. Minutos depois, a nave perde altura na intenção de pousar e transpassa a barreira turbulenta de nuvens. Sob o tapete, o céu então se acinzenta e a cidade se revela, embebida de orvalho, no Aeroporto de Guarulhos. Não faz frio, mas a sexta-feira promete chuva na Terra da Garoa.

A noite passou e eu não dormi. O vôo noturno obrigou-me a chegar no Aeroporto do Galeão antes das três da manhã. Agora, em Guarulhos, devo aguardar infinitas cinco horas para trocar de avião e seguir para Buenos Aires... Paciência. Deito a bagagem no carrinho, relaxo o corpo sobre a poltrona de aço e escrevo. O cheiro dos folhados não me desperta fome naquela manhã. Preferiria comer uma fruta e pão francês crocante com manteiga. No lugar de café, um suco. Mas nem tenho pressa de procurar isso agora.

Nesta véspera de feriadão (08/10) o terminal está movimentado. Uma onda de sono faz meus olhos cerrarem e as mãos pararem de escrever. Antes que a caneta caia, acordo, mas não abro os olhos – brinco de tentar visualizar o panorama no terminal. De olhos cerrados ouço as rodas dos carrinhos e das malas deslizarem no chão de granito. O espocar dos saltos de sapatos femininos marcando o ritmo de conversas contidas. Sinto que vou dormir e, por segurança, jogo as pernas sobre a bagagem.

O sono vem e interrompe este relato...

Abraços!

Bira

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Namorada, Vinte Anos Depois!

Amigos!


Devo confessar; no ano de 1985 tive um caso cujo cupido foi o jornalista José Inácio Werneck, na época, colunista do Jornal do Brasil. Werneck esteve no grupo que promoveu e organizou as primeiras Maratonas do Rio, nos anos 80. No JB, escreveu sobre a corrida, fazendo meus olhos – que ainda liam sem auxílio das lentes – brilharem de encanto. Foi assim que decidi, sem qualquer treino preliminar, me inscrever na maratona. Com 26 anos de idade, não tive dúvidas de que completaria o percurso, mesmo que levasse 6 horas pra isso! Levei 5h e 28m! Na prova, trotava e andava alternadamente, mas quando a concluí já estava “fisgado” pela paixão da corrida. Foi a primeira vez que disparei quando avistei a chegada, entregando-me à emoção, essa usina de energia.

Já era 10 da noite no Leme e a vibração da minha chegada contrastava com o pífio tempo do relógio, chamando atenção de todos: Felicidade contagia!

Saí dali disposto a melhorar aquel pífio tempo, mas pouco consegui. Fiz 4h 35min na Maratona do ano seguinte (Rio 86) e algo próximo na Maratona de São Paulo 87. Para melhorar de verdade, faltou muitas coisas, sobretudo informação e dedicação. Sobraram as terríveis cólicas renais, causadas por cálculos. Além das contusões nos joelhos, toda vez que eu começava a querer entrar em forma. Até que desisti da corrida, como quem termina com a namorada.

Em 86, corri conduzindo a imagem de São Judas Tadeu. Promessa para cura dos cálculos renais.

Duas décadas depois (jan/2008), reencontrei a velha namorada - a Corrida. Era manhã de domingo no Leblon e eu já tinha 48 anos, quando larguei na Leblon-Leme. Fiquei tímido para puxar assunto... Ela, Corrida, continuava jovem e mais linda do que nunca. Minha juventude, no entanto, se resumia à atitude de estar ali. Fiquei surpreso quando me vi em seus braços. Tomei banhos de suor e auto-estima.

De lá pra cá já são mais de três anos registrados neste blog. 


Daqui a 12 dias estarei na Maratona de Buenos Aires. Treinei muito para isso e pretendo corrigir os erros cometidos na Maratona do Rio e melhorar o tempo de 3h 36mim. Os cálculos renais não têm me importunado mais e as coxas fortes deram trégua aos joelhos. A rotina de treinos que abrangeu seis dias por semana, com picos de 100 km neste intervalo, troxe mais saúde e bem-estar. Depois de Buenos Aires, devo correr menos para o corpo se recuperar. Ano que vem, tudo recomeça. Planejo melhorar a alimentação e o sono, fazer reforço muscular e exercícios de flexibilidade (meu fraco) o que pode ser resumido numa só palavra: Disciplina. Ainda posso melhorar muito e quero mais!


Abraços!
Bira.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Correndo com o Saci

Amigos!



Feliz é o bairro que tem um vasto gramado onde treina um corredor! Esse bairro é Irajá, o gramado está no Trevo das Margaridas e o corredor sou eu. Utilizo aquela área, relativamente bem cuidada, para dar volume aos meus treinos, duas ou três vezes por semana. Não tenho concorrentes. Em seis meses, somente um dia vi alguém correndo ali. Dou vinte voltas em pouco menos de uma hora, somando uns 13 quilômetros. Sexta-feira passada foi um desses dias.

Enquanto a imprensa dava destaque à baixa umidade do ar, as matas brasileiras ardiam em chamas. Constatei isso ao longo da Rodovia Presidente Dutra, numa viagem de ida e volta a São Paulo. Mas agora eu estava ali, no fim da longa rodovia, correndo sobre o gramado meio seco.

A manhã do dia 03/09/2010 revelava um céu sem nuvens. O trânsito, na Av. Brasil, intensificava aos poucos tanto quanto a luz solar. Não havia indícios de que eu teria uma experiência sobrenatural num ambiente matinal, claro e movimentado, mas isso ocorreu. Tudo seguia como o planejado. Mais uma vez eu daria as 20 voltas no vasto canteiro para depois ir trabalhar. O treinamento na grama requer um pouco mais de atenção às irregularidades do piso, mas eu já conhecia cada centímetro daquele gramado. Esforçava-me para manter a concentração em não deixar cair o ritmo, na monotonia das passadas. Estava na volta de nº 13 quando uma lufada de vento fez surgir um redemoinho ao meu lado, dando vida às folhas mortas do chão, atirando-as sobre mim, junto aos ciscos e poeira. O susto fez meu coração disparar tanto quanto minhas pernas. Senti um arrepio e pensei: “É Saci Pererê!” Um redemoinho que surge do nada é artimanha do Saci. Em instantes, a nuvem de poeira ficou para trás e dissipou da mesma forma que surgira. Percebi que estava eufórico e me arrepiei de novo, me perguntando: “Será que o Saci está correndo comigo??” Já ia me benzer para exorcizar o espírito travesso, mas refleti: “Deixa o neguinho!... Vamos dar uma volta juntos neste gramado!” Gargalhei ao pensar no esforço que o perneta devia estar fazendo para me acompanhar, ainda mais com um cachimbo na boca! Definitivamente, para se tornar corredor, Pererê teria que instalar uma destas próteses modernas, largar o fumo e trocar a carapuça por um boné. Resumindo, seria o fim do Saci!... Imediatamente, pensei de novo: “Deixa o neguinho!” e quando a volta nº 14 começou, falei: “Vai Saci! Pula fora que seu esporte não é esse!”

Fechei o treino em 59 minutos quando o sol parecia mais forte e o vento mais fraco. Saci já havia partido, acredito que grato por ter encontrado alguém que não quis exorcizá-lo ou convertê-lo. Quanto a mim, vou continuar treinando de manhã porque à noite corro o risco de encontra a Mula-Sem-Cabeça que possui labareda de fogo no lugar das ventas... Não quero nem imaginar!


Abraços!

Bira.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Meia do Rio - Recheio de Torrone

Amigos!




Não vou falar de sol, das montanhas, nem das ondas. Não subirei em um helicóptero virtual para descrever o panorama da concentração ou largada da prova, naquela manhã de domingo, em São Conrado. Dispensarei retratar o azul-azul do céu ou o verde-azul do mar. Durante a Meia Maratona do Rio, a TV já fizera tudo isso ao vivo, para todo o Brasil. São milhões de cores que se encaixam na alta-definição dos modernos monitores de LCD. Foram milhões de lares que, mais uma vez, se encantaram com o belo litoral carioca. Se for verdade que “uma imagem vale mais que mil palavras”, então quantos livros valem mil imagens em alta-definição? Sendo assim, dispensarei aludir à paisagem vista do alto da Niemayer, dos oito quilômetros de praia entre o Leblon e o Leme, da enseada de Botafogo e do Aterro do Flamengo – local de chegada. Vou falar de algumas entre 19 mil pessoas reunidas, no dia 22 de agosto de 2010, para percorrer 21.097 metros de asfalto.

Estávamos a poucos metros da largada. Eu, Ozéias, Adriano, Sandro, Alfinete e Bruna vestíamos a camiseta amarela da Montervèrgine e, no meio de tanta gente comprimida, parecíamos recheio do famoso torrone que o nosso patrocinador fabrica. Faltavam 30 minutos para o início da prova. Enquanto o narrador do evento dava avisos, a música não parava e a ansiedade aumentava. Murilo, Carlos e Jorge estavam por perto, mas espalhados.






















Entre as figuras folclóricas das corridas, avistei Índio e o Homem-Árvore, bem lá na frente – diante das câmeras, é claro. Talvez o Índio tenha montado uma oca e passado a noite ali, para garantir o lugar, e o Árvore, de certo, ficou plantado ao seu lado... Faz parte do show, tanto quanto as centenas de faixas que são abertas e mostradas na TV. 

E se todo aquele burburinho composto pelo som das falas, do mar e dos alto-falantes aos poucos cessasse? Se primeiramente o narrador se calasse, ouviríamos melhor, as músicas. Se interrompessem as músicas, ouviríamos melhor, as pessoas. Se as pessoas ficassem quietas, escutaríamos as ondas do mar. E se o mar se aquietasse, perceberíamos um outro burburinho composto pelo batimento dos corações de 19 mil corredores! Mas se por último, suprimíssemos também este burburinho e qualquer outro ruído avulso não sobraria o silêncio absoluto. Perceberíamos altas ondas de ansiedade, pré-largada, mas fortes que as ondas do mar. São as ondas que se formam no oceano que habita em cada ser. Essa mesma força que pode conduzir um homem às grandes realizações, mas que às vezes o destrói, feito tsunami.

Encurta o tempo que resta para a largada. Encurtam as frases de quem ainda fala e o espaço entre-corpos na contagem regressiva. E a corrida começa! O primeiro desafio é tentar mover-se no meio da massa. Naturalmente, os corredores estendiam os braços escorando-se nas costas de quem estava à frente, lembrando fila de escola. Logo foi possível acelerar, não muito, e o recheio de torrone (Ozéias, Sandro, Adriano, Alfinete, Bruna, Murilo, Carlos, Jorge e eu) foi mastigado pela multidão.

Como o esperado, todos concluíram a prova e imediatamente renovaram suas metas.
                      
Por volta das 11h e 30min o mar estava calmo. Não só o mar que banha minha cidade, mas também o mar que ninguém ouve e ninguém vê.







Acima: Bira, Carlos, Adriano, Sr. Fernando (nosso patrocinador), Alfinete, Bruna, Sandro, Ozéias e Murilo.

Abraços!
Bira.

sábado, 21 de agosto de 2010

Onde está a Beleza do Rio?

(...) Já paguei três meses de musculação e não frequentei nenhum dia. Sei que estou perdendo dinheiro, mas hoje eu quero é correr e passar por ruas onde nunca pisei (...)


Cristo do Subúrbio, montagem com fotos da internet - Bira, 28/10/15.

Onde está a Beleza do Rio?

Amigos!

Embora precise, eu não conseguiria malhar dentro de uma academia nesta manhã tão clara. Por mais amplo que fosse o janelão da academia, eu me sentiria recluso. Depois de ter passado a noite fria embaixo do edredom, agora tinha um sol me convidando para correr.

Esta manhã de inverno possui ar fresco e nenhum chamusco de nuvem maculando o azul do céu. É certo que vai esquentar, mas os raios solares ainda provocam sombras enviesadas no chão. Já paguei três meses de musculação e não frequentei nenhum dia. Sei que estou perdendo dinheiro, mas hoje eu quero é correr e passar por ruas onde nunca pisei. A sensação de estar perdido, enquanto corre, aguçam os sentidos. Provoca insegurança não saber o que surgirá depois da próxima e inédita esquina. É preciso ficar atento, e isto aumenta a percepção do mundo ao redor.

O subúrbio do Rio não tem mar nem a chamada “gente bonita” que desfila de biquíni ou bermudão. As calçadas não têm pedras portuguesas e alguns terrenos viraram lixão. Quando saio de casa, em Irajá, para correr meus longões, a tendência é seguir em direção ao Centro e Zona Sul.

- Pelo menos posso encerrar o treino dando um mergulho no mar e bebendo água de coco - penso.

Mas hoje farei diferente: Para onde vou?... Não sei.

Optei por seguir na contramão do metrô, de Irajá até pouco antes da estação Colégio. Adentrei numa rua à esquerda, achando que estaria seguindo para Rocha Miranda, mas abandonei o curso na próxima esquina. Algumas novas mudanças de trajeto e percebi que não sabia mais onde estava (que beleza!). O cronômetro deveria estar marcando uns 20 minutos e eu já “me perdera”. Vibrei, enquanto um vira-lata faminto, sentado na calçada, sequer me via passar.

Correndo no asfalto, rente ao meio-fio, percebi que a COMLURB passou por ali, deixando a rua limpa... “Até quando?”, pensei. Diante dos muros pichados, mal construídos ou sem reboco, as pessoas desprezam a limpeza das calçadas jogando tudo no chão.

- Onde está a beleza do subúrbio? - me perguntei.

Mais uma esquina e dei de cara com a estação Coelho Neto do metrô. Já sabia de novo onde pisava e prossegui no sentido Pavuna. Cruzei sob a Av. Brasil e me embrenhei as ruas de Acari. Não dava para me perder ali, mas poderia seguir para a Baixada. Margeei um rio largo, poluído e assoreado, um conjunto residencial de prédios populares e a linha férrea num trajeto de uns cinco quilômetros. Dentro do rio vi urubus disputando uma “refeição”, e me perguntei:

- Onde está a beleza da periferia?

Se por um lado, o solo não apresentasse tanto atrativo, por outro, a luminosidade do céu aumentava e dava mais vida ao azul. Nesses três quartos de hora vi três aviões passarem, rumo ao Galeão, sem nuvens para perfurar. Mantive o ritmo moderado das passadas (uns 10km/h) e minha respiração estava tranquila. A apenas quatro dias da Meia Maratona não se deve forçar.

Não devia faltar muito para chegar a Pavuna, quando o longo muro da estrada de ferro recuou, revelando uma cancela que me deu a opção de virar à esquerda. Uma placa dizia ser caminho para Anchieta. Aceitei a sugestão e experimentei de novo a sensação de alerta – em que bairro eu estava?

Mantive-me na estrada onde corre o trânsito para não entrar em terreno hostil. Passei rente a uma favela e cruzei uma área industrial. Vi barraca que vendia pão-com-“linguisa” na frente duma fábrica; um catador de garrafas; uma égua encardida amarrada no pasto; uma sucata de carro incendiado...

- Onde está a beleza?...

Mas não deixo de lembrar um sabiá ciscando insetos no gramado e um belo casal de galinhas d’angola que poderia ser um despacho vivo. Mais adiante galinhas caipiras eram criadas soltas numa área mais bucólica. Esquinas passavam e o trânsito ficava intenso, até que desembocou num pequeno shopping que tinha o nome do bairro: Guadalupe. Olhei pro relógio que marcava pouco mais de uma hora de treino e pensei:

- A Av. Brasil passa por aqui, melhor voltar por ela.

Um transeunte me indicou uma rua à esquerda e eu segui. Antes de chegar à Brasil, descobri uma pista de caminhada que margeia um rio naquele local, da mesma forma que ocorre na Vila da Penha.

Na volta pela avenida, outros quatro aviões passaram, desta vez no mesmo sentido que eu. De Guadalupe à Irajá, absorvi barulho e gás carbono em níveis aparentemente suportáveis. Depois de passar em frente ao CEASA, abandonei a aquela via e corri mais uns quatro quilômetros nas ruas de Irajá. Encerrei o treino (de 1h 56min) e entrei no sacolão para comprar couve, conforme o pedido de minha mulher.

Qualquer dia desses voltarei a percorrer esses recantos do Rio onde a beleza não salta aos olhos. Onde o esvaziamento econômico atirou suas vítimas e encobriu o encanto daquele povo. Quero acreditar que beleza da periferia está apenas encoberta, reunindo forças para brotar dos escombros. Um dia ela vai ressurgir, bem antes que se cumpram as promessas de ressurgimento do Redentor. Se o Redentor continua aprisionado nas páginas do Livro Sagrado, onde está exilada a beleza do subúrbio? Se o subúrbio faz parte do Rio, onde está a beleza do Rio?

(Texto reeditado e modificado em 28/10/15)

Abraços!
Bira





quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Rumo a Buenos Aires Maraton!

Amigos!

Antes mesmo que pintasse aquele vazio que acometem os heróis pós-embate, refiz a minha meta: Agora que completei a Maratona do Rio, inscrevi-me na de Buenos Aires! Também pela internet foi possível trocar as passagens pelos pontos do cartão de crédito. Só não reservei hotel, ainda. Saber que terei de continuar correndo os cerca de 100km semanais me acalmou. Já estava habituado em treinar seis dias na semana. Já estava viciado nos longões de sábado.
A Maratona de Buenos Aires (foto acima) será em outubro, 10. É mais um sonho de corredor gotejar suor nas avenidas que beiram o Rio de la Plata. Melhor ainda seria baixar o tempo alcançado no Rio (3h36’). Ganhei mais 60 dias para treinar e melhorar, assim espero.
MEUS TREINOS
GRAMA (2 x p/ semana, 1h a 1h30’, 13 a 19km)
– Faço no Trevo das Margaridas, início da Rodovia Rio-São Paulo, onde tem três áreas de grama. Escolho a maior com 650 metros de circunferência, piso fofo e seguro. Este tipo de solo é fundamental para quem treina muitos quilômetros e deseja preservar os joelhos.

AV. OLIVEIRA BELO

– A rua próxima ao Carioca Shopping tem pista demarcada de 1.700m (metragem correspondente à pista envolta do Maracanã). Às vezes fica abarrotada de caminhantes. Quando não, é propícia aos treinos de ritmo, onde corremos menos, no entanto, mais forte e adquirimos velocidade.


FARTLEK nas proximidades
– Para não ficar apenas rodopiando nos canteiros da Dutra ou na “grande esteira de asfalto” da Oliveira Belo é preciso correr nas proximidades. Subir ladeiras, entrar em ruas que nunca passou de seu próprio bairro, transpassar seus limites brincando de correr. "Proximidades" para corredor, no entanto, têm medidas além do nomal.

OS LONGÕES
– Manhã de sábado é sinônimo de longão que pode ter entre 20 e 32km. Pode ser feito na estrada, na subida do Corcovado, na serra, no entorno da Lagoa, do Bosque ou rente ao mar. Minha cidade é das mais generosas do mundo, ao oferecer paisagens tão inspiradoras. Longão é o desfecho da semana, quando o organismo experimenta o sabor da prova que lhe espera e nutre o espírito de esperança. Entre tantos longões, os mais extensos foram de Irajá/Copacabana (31k). Nos três primeiros que fiz, cheguei esgotado ao calçadão. Já no último sábado concluí este percurso sem sofrer tanto - ficou clara a evolução.
De treino em treino, a maratona se constrói bem antes do seu dia. Tenho esperança de concluir Buenos Aires Maraton com o tempo que projetara para o Rio: 3h 19’. Daqui a 59 dias saberemos o resultado.




Abraços!
Bira

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Maratona - Parte Final - Churrasco dos Atletas

Amigos!

Por volta das 13h, do último sábado, o sol pendia num céu limpo e azul, iluminando e aquecendo o terraço lá de casa. Se fosse no verão, ficaria impraticável promover um churrasco àquela hora, em local sem cobertura. Mas o mês de julho traz um restinho de minuano até o Rio, amenizando o calor.

Quando as primeiras carnes saíram da brasa, já tinha chegado gente. Nos pratos o previsível: arroz branco, maionese, farofa, molho à campanha, alcatra, linguiça e fango. Foi a hora de demonstrar habilidade para falar e sorrir, comendo farofa, ou abraçar um amigo que chega, equilibrando prato e copo nas mãos.

Reunimos ao todo umas 25 pessoas. Os corredores, em geral, ficaram de um lado e nem preciso dizer do que falavam. Mas suas esposas - algumas que nem se conheciam, falavam de tudo. Crianças brincavam nos computadores, comiam fruta, bebiam Coca-cola, saltavam pipa. Felipe, de um ano, engatinhava e fazia graça para delírio do seu avô.


Enquanto isso, o sol se fez maratonista e percorreu toda a trilha do céu para desaparecer detrás da distante montanha. Sem sol, o terraço ficou ainda melhor - hora de reacender o fogo, assar o restante da carne, beber a última cerveja.


E a turma que só se encontra "correndo" pode comemorar sentada o final de uma etapa de treinamento duro que culminou na Maratona do Rio. Cada um de nós correu de 90 a 100 km por semana, nem sempre juntos, mas procurando nos encontrar nos longões de sábado. O churrasco pós-prova estendeu essa relação aos nossos familiares, fortaleceu e justificou nosso empenho.


Os planos para próximas corridas já foram traçados, pois seguimos o exemplo daquele sol-maratonista que amanhã estará dando mais uma largada ao brotar no horizonte, para percorrer, incansável, toda a cúpula do céu.

Eu, você e o sol, somos todos campeões!

Abraços!
Bira.