Acabo de chegar do primeiro treino, no primeiro dia de 2011. Em meio ao mormaço de meio-dia (só acordei às 11h) corri pelas ruas vazias do subúrbio. Na Av. Brás de Pina, Vila da Penha, o asfalto novo estava negro, liso, macio e por uns momentos sem carros. Eu me senti o dono da rua e fiz até aviãozinho no meio da pista, já que uma das coisas que o corredor não deve esquecer é de brincar de correr. Foi uma hora e quinze minutos de treino despretencioso, até eu chegar em casa.
O público começa a se deslocar para subir ao palco e ver de perto os painés de Portinari
Na quinta-feira passada, à tarde, estive no Theatro Municipal para ver os painéis de Portinari, Guerra e Paz. Assisti ao breve documentário exibido antes das cortinas se abrirem, para revelar, no palco, as gigantestas telas que o Governo Brasileiro doou à ONU, a pouco mais de 50 anos, ou seja, a um pouco mais da minha idade (51). Fiquei emocionado quando os refletores se acenderam revelando os quadros. Demorou alguns instantes para que a platéia retomasse o controle das mãos e aplaudisse, naquele momento mágico. Refleti sobre o atual grande momento que a minha cidade atravessa. O Rio que não é só dos cariocas, mas do Brasil e do mundo. Essa cidade que foi sendo esvaziada, cultural e economicamente, coincidentemente desde que os painés de Portinari partiram para Nova York e o título de Capital Federal, para Brasília.
Vistos do palco, os painéis não cabem no foco da máquina.
Carioca, eu vivi meio século vendo o Rio pagar o preço pela ousadia de sempre se opor ao Regime Militar, elegendo políticos do antigo MDB - a aposição consentida. Depois da anistia, tivemos o atrevimento de eleger Leonel Brizola recém chegado do exílio. Aprofundaram-se crise e esvaziamento. A Direita precisava enfraquecer o Rio, foco do pensamento e da resistência. Perdemos empresas para o interior paulista e o centro da cultura foi cooptado pelo dinheiro de São Paulo. Sobrou-nos os arrastões nas praias e nas linhas vermelhas...
Pastilha por pastilha, os restauradores ainda removem áreas do piso...
Quando o Rio venceu, a pouco, a disputa para sediar as Olimpíadas, nós cariocas vibramos como nunca. Aos poucos, a expectativa vai se confirmando e a cidade ressurgindo. Parece mentira que estamos saindo da estagnação e eu, que corro nas ruas do Rio - fazendo disso minha reforma particular - sinto muito mais identidade com esta cidade que se estende para muito além do calçadão.
...do magnífico restaurante do Theatro Municipal.
Este ano volto a malhar para reforçar a musculatura e atingir melhores marcas. Se tiver bem e conseguir treinar devidamente, talvez faça uma maratona de aventura em agosto, lá em Santa Catarina. Também penso fazer uns mosaicos em paredes da minha casa - painéis com pedaços de azulejos. Se o Rio está ficando ainda mais belo, por que não a minha casa?...
Desejos a todos um Feliz 2011!
Abraços!
Bira
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