sábado, 23 de abril de 2011

Cavaleiro do Ar

(...) O rosto de quem voa parece absorver a luminosidade do céu. Parece que uma parte de nós ficou lá em cima ou sempre esteve ali, nos esperando, para nos completar (...)


Guilherme Heusi explora o céu da Barra da Tijuca e faz careta para  a foto.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Correndo na Ponte

Onde está quem falou que a ponte balança e que o vento sopra forte no vão central? Cadê a menina que tinha medo de altura?...


Correndo na Ponte

Amigos!

Onde está quem falou que a ponte balança e que o vento sopra forte no vão central? Cadê a menina que tinha medo de altura?... Antes da prova esperava-se por tudo, mas ninguém iria supor a ausência de vento enquanto corríamos entre as quenturas do asfalto e do sol...


ATRAVESSANDO A BAÍA
A barca das 6 partiu dez minutos depois lotada de corredores. Da Praça XV a Niterói são vinte minutos mas parece muito mais. Se não fosse a benevolência dos corredores, alguns pagodeiros desafinados ganhariam uma bela vaia. Era preferível prestar atenção no barulho das ondas espatifando-se no casco da embarcação ou no corredor ao lado que elevava a voz para ser entendido em meio ao burburinho. Entre flashes e poses prevalecia um clima alegre. Além do balanço desatinado do pagode e do mar surgia uma ponte gigantesca, vasta e estática - um monumento fixo que se contrapõe à nossa insegurança, fruto das dúvidas: "vou correr bem?... vou perder rendimento na subida do vão central?..."

Desembarcamos em Niterói e seguimos pelo complexo arquitetônico Caminho Niemeyer, local da largada que aconteceu às 8 em ponto, para 6 mil corredores.


CORRIDA
Minha impressão foi que a corrida começou, de fato, no km2 - a passagem do pedágio. Até aquele ponto, havíamos contornado ruas do Centro tomando cuidado para não tropeçar nos demais corredores amontoados. Na ponte havia mais espaço para acelerar e eu percebi, frustrado, que não tinha fôlego suficiente para isso - culpa do resfriado. Foram reservadas duas pistas para os corredores o que foi suficiente.

Gaivotas deslizavam facilmente no céu causando inveja àqueles que faziam tanto esforço para superar a longa subida. Do lado direito, dezenas de navios encrustrados na rarefeita nebrina permaneciam ancorados nos limites da baía. Do lado esquerdo, as longíquas praias do Flamengo, Botafogo e Urca delimitavam o vasto espelho d'água e eram delimitadas pela extensa barreira de prédios. Atrás deles, as montanhas do Rio, imponentes mas obscurecidas pela nebulosidade. Àquela altura o calor já era forte mas o céu não era límpido. O sol era um emplasto de unguento grudado nos ombros.

No km8 acabou a subida e a força da gravidade impulsionou minhas passadas. Até pensei que pudesse me recuperar mas durou pouco: a respiração deficiente não conduzia o oxigênio necessário às minha células - quebrei. Deu vontade de caminhar mas eu resisti e continuei no trote. Sofria cada vez que alguém me ultrapassava - e só estava no meio da corrida! Só faltou o Juca (minha tartaruga) passar por mim. Então cheguei na Perimetral, sorvi gel de carboidrato e bebida espotiva. Reagi no km16, na altura da Cidade do Samba, mas seria burrice foçar muito àquela altura. Completei os 21,4km em decepcionantes 1h51'. Só para ter uma idéia da minha frustração, meu pior tempo em treinos de 21km é 10 minutos melhor que isso.

RECEITA PARA CURAR RESFRIADO
A 32 dias da Maratona de Porto Alegre eu preciso me recuperar. Superar o resfriado e o trauma pelo tempo tão fraco. Quem tiver uma receita milagrosa de expectorante me manda. Tenho três semanas para treinar, uma para manutenção e a última para descanso, até lá - aceito sugestões.











Abraços!
Bira.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Borboletas e Flores

(...) Continuar correndo e desviando das poças, mas levar um banho da água que os pneus dos carros atiram, inclementes, sobre pedestres incautos (...)

De cima da árvore, à espreita, a bela garça aguarda o momento que o peixeiro atira os restos de pescado no poluído rio que mais parece um valão, em Irajá...

Borboletas e Flores

Amigos!

Sayão é meu amigo. Ele tem mais de setenta anos e um jeito malandro na fala. Gosta de samba e de gente – é sabido que ele já ajudou muitas pessoas. Mas o que mais me impressiona no Sayão é o fato de ele conhecer meio-mundo. Seja no Centro, Tijuca, Zona Oeste ou Zona Sul; nos meandros dos bairros; nas sombras das amendoeiras, tem sempre alguém cumprimentando o Sayão... Só vendo para acreditar!

Embora o admire, não tenho a pretensão de ser tão popular quanto Sayão, mas graças à corrida, nesses últimos anos, o número de acenos que recebo cresceu enormemente. Enquanto treino pelo meu bairro e adentro nas ruas e ladeiras das adjacências, vejo gente e gente me vê. Vejo uma cidade que normalmente não veria, quando experimento trajetos alternativos e melhor utilizo todo espaço que o Rio me oferece. É incrível correr pelos subúrbios deparando com o lixo e a desordem de bairros que são apenas corredores de passagem, mas ao dobrar uma esquina, surpreender-se ao descobrir uma rua ou praça limpa e bem cuidada pelos próprios moradores que criam borboletas e flores em singelos canteiros – é quando a verde esperança não cintila apenas na grama bem aparada. E pensar que eu não conheceria tais recantos não fossem os diversos treinos que realizo.

... "Minhas filhas (as garças) já são mais de trinta" - diz o "pai" orgulhoso, ao mesmo tempo que limpa uma corvina: a curiosa cena foi registrada durante um de meus treinos pelo bairro.

Outras variações que surpreendem ocorrem em dias de tempo instável. Em um longão de duas horas, pode-se experimentar um vento frio aspergindo orvalho, em Irajá, às oito e trinta da manhã e, três quartos de hora depois, passando por Benfica, sentir o sol romper as nuvens e deitar seu calor de outono carioca, feito compressa, em nossos ombros suados – momento de tirar a camisa e prendê-la no short. Meia hora depois, já tendo feito a curva em Triagem e rumando de volta a Irajá, encarar uma tempestade diante do Shopping Nova América. Continuar correndo e desviando das poças, mas levar um banho da água que os pneus dos carros atiram, inclementes, sobre pedestres incautos. Se um atleta de rua deve ter bom humor para encarar qualquer tempo, correr é uma lição de vida. Superar a passagem da chuva e do sol. Deixar para trás não só poças d´águas e lixo, mas flores e borboletas, não faz do corredor um ser solitário, fá-lo livre e integrado no todo. Este ser passageiro leva consigo o próprio mundo onde os problemas não foram suficientes para fazê-lo parar. Leva um sorriso, um aceno, um incentivo para quem parou e deseja retornar ao movimento. É nessa hora que alguns corredores de personalidade introspectiva se revelam grandes comunicadores, feito meu amigo Sayão. Descobrem que sem o uso da palavra é possível comunicar-se, com os mundos externo e interno, através da linguagem do movimento.


Abraços!
Bira