Amigos;
escrito em 2009...
foto do meu amigo Murilo: Um pote de balas na mesa substituía os cigarros.
Seria apenas mais um cigarro que Murilo consumiria, não fosse a falta de ar que sentiu logo após a costumeira tragada. Voltava do almoço para o trabalho na Assessoria de Informática, e seus gestos automáticos de pinçar o cigarro entre os dedos para pô-lo na boca, foram interrompidos pelo susto. Amparou o peito com umas das mãos, ergueu a cabeça e tentou puxar o ar pelas narinas, mas era como se seus pulmões continuassem vazios. Naquela tarde de 24 de julho de 2000, Murilo atirou o maço de cigarros na cesta de lixo e comprou uma caixa de chicletes antifumo. Não mascou nenhum chiclete, mas foi pra casa dando pinta de que seria seu último dia como fumante. Na manhã seguinte, acordou bem disposto e, como se nada tivesse acontecido, foi para a varanda fumar mais um cigarro.
Aprendendo a Fumar
Murilo detestou, na primeira vez que colocou um cigarro na boca, aos 19 anos. Mas em 1966, o hábito de fumar era charme dos ícones de sucesso, atores e até desportistas. Aparentemente, 50% de seus amigos fumavam. Então como resistir? Anos depois, fumando em média um maço e meio por dia, deparou com um pulmão enegrecido de fumante exposto dentro de um recipiente de vidro, com formol, em pleno Largo da Carioca. Levou um susto que lhe rendeu três dias de abstinência.
Os problemas de saúde surgiram na década de 90. Dificuldade de respirar, baixa resistência e problemas de estômago. Foi nessa época que sua pressão atingiu 15/8, mas ele não associou ao cigarro.
As Tentativas
Em 1983 tentou parar diminuindo, mas não durou mais de um mês. Depois, passou a colocar o dinheiro dos cigarros em um cofrinho. Deu certo até que o cofrinho foi roubado: “Fiquei com raiva e comprei logo dois pacotes de cigarros!” – lembrou.
Entre 1990 e 1991, tentou parar em conjunto com a mulher, mas sempre que um cedia à tentação derrubava o outro.
Em 1997, a esposa parou após retornar à igreja. A pressão aumentou e Murilo já não fumava mais em casa, ou na sala do trabalho. Porém, quando podia, fumava de modo a compensar.
A Parada
Quando perguntei ao Murilo o que lhe fez parar de fumar, sua resposta foi lacônica: “O medo de morrer imediatamente.” Dez dias depois, ele me trouxe o complemento da resposta no texto de Raymond Chandler, do livro “A Irmãzinha”:
“O medo de hoje sempre se sobrepõe ao medo de amanhã. É uma verdade básica da psicologia dramática que a parte é mais importante que o todo. (...) Se o suspense e a ameaça não derrotassem a razão, haveria muito pouco drama no mundo”.
Dessa forma, foi Chandler quem explicou porque, no dia 26 de julho de 2000, 48 horas após ter sofrido aquele forte sufocamento, mais uma vez no retorno do almoço, Murilo sentiu um novo sufocamento, bem mais forte, e o medo imediato de morrer. Jogou o maço de cigarros no lixo, mascou os chicletes antifumo e nunca mais pôs um cigarro na boca.
Abraços!
Bira.
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