Janelas de Lançamento: montagem com imagem da internet - Bira, 2012. |
quarta-feira, 18 de abril de 2012
As Janelas de Lançamento
(...) Se a tristeza explodia deixando rastros de fumaça branca no céu da Flórida, pipas coloridas floriam o céu fluminense (...)
sábado, 7 de abril de 2012
Onde Estão Todos?
Amigos!
Quando o alarme do celular disparou às 6h da manhã de 1º de maio de 2012, Mário já estava acordado embora continuasse deitado na cama. De um jeito automático interrompeu o irritante toque do aparelho. Era feriado e ele não tinha pressa nem compromissos. Cobriu-se totalmente com o lençol deixando apenas uma fenda onde enfiou o nariz para respirar e continuou a matutar seus planos. Sonhara com amigos de 15, 20 anos atrás e animou-se com a idéia de revê-los. Grandes amigos que lhe resgataram de um inferno emocional traduzido em depressão profunda. Anjos amigos a quem julgava dever todo o sucesso obtido na vida desde então. Fobia, pânico e idéias suicidas compunham o cardápio que sua mente nebulosa servia à própria alma naquele período sombrio. Hoje, Mário é empresário próspero, marido de Beatriz Novaes - a famosa escritora que paria lindos filhos para ele e os mais badalados Best Sellers, para o público.
Somente amigos mais velhos, hoje distantes, lembram de quando o jovem e brilhante estudante de Economia mergulhou na mais profunda depressão. Era final dos anos 80 na bela Florianópolis e tal fato foi um golpe de samurai que degolou, de vez, o casamento de seus pais. Após a separação, sua mãe decidiu retornar para o Rio, sua cidade de origem. A possibilidade de tentar uma cura geográfica fez o filho de 26 anos segui-la. Mas se latitude e longitude não curam depressão, o convívio com novos amigos, membros de um grupo de terapia e meditação, trouxe esperança. A esperança mandou buscar o brilho que retornou ao olhar de Mário. E o sofrimento dissipou na alma como tempestade no céu.
Numa tarde de Primavera de 1996 o sol pintou de azul toda a cúpula do céu. Por sobre os braços do Cristo Redentor flutuavam alguns chumaços de nuvens acesas. Elas tinham o mesmo branco do vestido da noiva com quem Mário estava se casando àquela hora. Os sorrisos de seus amigos se espalhavam pelos bancos da igreja lotada. Para eles, Mário era o mais belo fruto do Grupo Meditando com Cristo: um exemplo de recuperação.
Logo, o recém-casado tornou-se empresário e seu contato com o grupo escasseou, escasseou... Até que o tempo parou na sala de terapia. Pelo menos foi essa a impressão de Mário que ali não mais esteve por 15 anos. Inconscientemente ele achava que o grupo continuava lá, tendo os mesmos amigos a lhe esperar - como numa foto. Mário ainda apareceu em uma ou outra ocasião festiva, até sumir de vez e perder contato.
Casamento, filhos, sucesso (seu e da mulher escritora), negócios, viagens... E assim se foram mais de 15 anos!... Até que Mário acordou na manhã de 1º de maio de 2012 com saudade dos velhos amigos a quem devia tanto. Abriu o freezer da memória sem se dar conta que as pessoas não são congeláveis como peças de carne embalada. Procurou nas gavetas uma velha agenda com nomes e telefones, mas só conseguiu falar com o Xico Oliveira:
̶ Oliveira? É o Mário... do Grupo; tá lembrado?
̶ Mário, meu amigo!... Quanto tempo!...
̶ Pois é!... Sonhei com os amigos esta noite. Deu saudade, preciso revê-los. Hoje à noite tem reunião?
̶ Creio que sim... Tenho ido raramente... A última vez foi a cerca de seis meses. Mas tá tudo mudado - outras pessoas - disse Xico.
̶ E a nossa turma?... Onde estão todos?
̶ Mário, acorda!... Lá se vão 20 anos! Ali tinha muita gente que já estava bem idosa naquela época. Alguns já devem ter morrido ou já nem saem mais de casa. Os que chegaram depois nem mesmo nos conhecem.
̶ Mas é claro... - Mário penssou mais do que falou, gestilando ao telefone como se Xico pudesse vê-lo.
̶ Na sua mente ficou a imagem de um grupo que não mais existe e sempre existirá naquilo que fez de eterno...
̶ E onde estão todos? - repetiu Mário entre lágrimas.
̶ Boa pergunta, Mário!... Ironicamente, o sucesso decorrente de nosso encontro nos conduziu para caminhos distintos, dissipando o Grupo - mas eu acho que isso é regra em tudo aquilo que é bom. Hoje ninguém seria mais o mesmo, mesmo que não envelhecessem uns ou não morressem outros.
̶ Mas se não encontramos todos, pelo menos seria possível reunir de novo alguns?
̶ Podemos tentar... Eu faço o seguinte: vou pesquisar os telefones que tenho e lhe mandar por e-mail. Então você liga para cada um e marcamos o encontro. Ok?
̶ Ok, estou no "aguardo"!
No dia seguinte, Xico mandou a relação de nomes e telefones para o e-mail de Mário. Este, ocupado com um grande negócio que sua empresa teria para fechar sequer abriu a caixa de e-mail. Atribulado, somente três dias depois lembrou do fato (enquanto abria um pequeno freezer para servir-se de água gelada) e pensou em voz alta:
̶ É, eu acho que não adianta ficar ligando para todos... Quem não morreu está velho demais para sair de casa e os demais já seguiram seu rumo ou mudaram de telefone... Paciência, o Grupo continuará eterno no coraç... (foi interrompedido pelo chamado da secretária):
̶ Dr. Mário; os gerentes das filiais da empresa o aguardam na sala de reunião.
Então Mário tomou um rápido gole d'água e seguiu apressado para a reunião... No meio do caminho voltou: Esquecera de fechar o freezer. Fechou.
Abraços!
Bira.
Gif animado: montagem com recortes de imagem da internet, com Gimp (Bira - 15/01/13).
O tempo passa e as imagens de um passado
promissor congelam na mente - como um auditório que continua lotado no
imaginário... No entanto as pessoas envelhecem, morrem ou se deslocam
constantemente: Onde Estão Todos?
Quando o alarme do celular disparou às 6h da manhã de 1º de maio de 2012, Mário já estava acordado embora continuasse deitado na cama. De um jeito automático interrompeu o irritante toque do aparelho. Era feriado e ele não tinha pressa nem compromissos. Cobriu-se totalmente com o lençol deixando apenas uma fenda onde enfiou o nariz para respirar e continuou a matutar seus planos. Sonhara com amigos de 15, 20 anos atrás e animou-se com a idéia de revê-los. Grandes amigos que lhe resgataram de um inferno emocional traduzido em depressão profunda. Anjos amigos a quem julgava dever todo o sucesso obtido na vida desde então. Fobia, pânico e idéias suicidas compunham o cardápio que sua mente nebulosa servia à própria alma naquele período sombrio. Hoje, Mário é empresário próspero, marido de Beatriz Novaes - a famosa escritora que paria lindos filhos para ele e os mais badalados Best Sellers, para o público.
Somente amigos mais velhos, hoje distantes, lembram de quando o jovem e brilhante estudante de Economia mergulhou na mais profunda depressão. Era final dos anos 80 na bela Florianópolis e tal fato foi um golpe de samurai que degolou, de vez, o casamento de seus pais. Após a separação, sua mãe decidiu retornar para o Rio, sua cidade de origem. A possibilidade de tentar uma cura geográfica fez o filho de 26 anos segui-la. Mas se latitude e longitude não curam depressão, o convívio com novos amigos, membros de um grupo de terapia e meditação, trouxe esperança. A esperança mandou buscar o brilho que retornou ao olhar de Mário. E o sofrimento dissipou na alma como tempestade no céu.
Numa tarde de Primavera de 1996 o sol pintou de azul toda a cúpula do céu. Por sobre os braços do Cristo Redentor flutuavam alguns chumaços de nuvens acesas. Elas tinham o mesmo branco do vestido da noiva com quem Mário estava se casando àquela hora. Os sorrisos de seus amigos se espalhavam pelos bancos da igreja lotada. Para eles, Mário era o mais belo fruto do Grupo Meditando com Cristo: um exemplo de recuperação.
Casamento, filhos, sucesso (seu e da mulher escritora), negócios, viagens... E assim se foram mais de 15 anos!... Até que Mário acordou na manhã de 1º de maio de 2012 com saudade dos velhos amigos a quem devia tanto. Abriu o freezer da memória sem se dar conta que as pessoas não são congeláveis como peças de carne embalada. Procurou nas gavetas uma velha agenda com nomes e telefones, mas só conseguiu falar com o Xico Oliveira:
̶ Oliveira? É o Mário... do Grupo; tá lembrado?
̶ Mário, meu amigo!... Quanto tempo!...
̶ Pois é!... Sonhei com os amigos esta noite. Deu saudade, preciso revê-los. Hoje à noite tem reunião?
̶ Creio que sim... Tenho ido raramente... A última vez foi a cerca de seis meses. Mas tá tudo mudado - outras pessoas - disse Xico.
̶ E a nossa turma?... Onde estão todos?
̶ Mário, acorda!... Lá se vão 20 anos! Ali tinha muita gente que já estava bem idosa naquela época. Alguns já devem ter morrido ou já nem saem mais de casa. Os que chegaram depois nem mesmo nos conhecem.
̶ Mas é claro... - Mário penssou mais do que falou, gestilando ao telefone como se Xico pudesse vê-lo.
̶ Na sua mente ficou a imagem de um grupo que não mais existe e sempre existirá naquilo que fez de eterno...
̶ E onde estão todos? - repetiu Mário entre lágrimas.
̶ Boa pergunta, Mário!... Ironicamente, o sucesso decorrente de nosso encontro nos conduziu para caminhos distintos, dissipando o Grupo - mas eu acho que isso é regra em tudo aquilo que é bom. Hoje ninguém seria mais o mesmo, mesmo que não envelhecessem uns ou não morressem outros.
̶ Mas se não encontramos todos, pelo menos seria possível reunir de novo alguns?
̶ Podemos tentar... Eu faço o seguinte: vou pesquisar os telefones que tenho e lhe mandar por e-mail. Então você liga para cada um e marcamos o encontro. Ok?
̶ Ok, estou no "aguardo"!
No dia seguinte, Xico mandou a relação de nomes e telefones para o e-mail de Mário. Este, ocupado com um grande negócio que sua empresa teria para fechar sequer abriu a caixa de e-mail. Atribulado, somente três dias depois lembrou do fato (enquanto abria um pequeno freezer para servir-se de água gelada) e pensou em voz alta:
̶ É, eu acho que não adianta ficar ligando para todos... Quem não morreu está velho demais para sair de casa e os demais já seguiram seu rumo ou mudaram de telefone... Paciência, o Grupo continuará eterno no coraç... (foi interrompedido pelo chamado da secretária):
̶ Dr. Mário; os gerentes das filiais da empresa o aguardam na sala de reunião.
Então Mário tomou um rápido gole d'água e seguiu apressado para a reunião... No meio do caminho voltou: Esquecera de fechar o freezer. Fechou.
Abraços!
Bira.