quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Fim do Mundo no Centro da Cidade

Amigos!

Quis falar do fim do mundo nesse blog, mas tem tanta gente melhor do que eu fazendo o mesmo que quase desisti. Não entendo do assunto e não vou ficar aqui cozinhando textos extraídos de outros sites... Então pensei em pegar o tablet e entrevistar pessoas pelo Centro, na hora do almoço. Escolhi o Largo da Carioca. Faltava eu chamar outro "maluco" para me acompanhar, então pensei no meu compadre Ivan Cândido. Ele foi câmera man e eu de repórter entrevistador. Ninguém sabia direito o que estava fazendo, mas vamos falar a verdade: a maioria dos nossos entrevistados também não aparentava entender do que falava.

Levei um monte de fora, mas encontrei alguns cariocas boa-praça que deram entrevista. Inclusive o Manoel - que aparece no vídeo "pau-da-vida" - deu a entrevista... Tive de cortar muita coisa para a mídia não ficar muito extensa. Outra verdade: não sei editar vídeos... Fiz o que pude! Confira:


Se você assistiu o vídeo acima e gostou muito, pode ser que esteja precisando de algum tipo de ajuda... Se não gostou nem um pouco, só me resta tentar limpar a barra pedindo para você clicar ao lado, nos MAIS LIDOS DESTE MÊS. Lá tem coisa muito melhor!

Abraço!
Bira.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Quando o Treino Supera a Corrida

(...) Vestidos com roupas coloridas já que seguiriam, perigosamente, o mesmo fluxo do trânsito, os corredores alternaram entre o acostamento e o gramado da rodovia Presidente Dutra (...)

Montagem sobre foto de Fábio Namiuti do Treinão de Aparecida: Corredores às margens da Dutra.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

De Volta ao Cristo Apagado

De Volta ao Cristo Apagado

Fiéis subindo um pequeno morro para orar, diariamente, são vistos da estação do metrô em Irajá. Este fato gerou a postagem O Novo Monte dos Milagres..., ago/12. " Ao escrevê-la, lembrei do surgimento da imagem de Cristo (1971 - foto) em uma pedreira, a quatro km dali. Lembrei da imprensa noticiando o fato que atraía milhares de pessoas. Achei que algo semelhante fosse ocorrer no atual "Monte", ao lado do metrô, mas os tempos são outros... Essa semana voltei a pensar na velha pedreira do Cristo. Afinal, o que foi feito dela?... Fui lá para conferir. Tirei fotos, colhi depoimentos e pesquisei os acervos de jornais na Biblioteca Nacional (BN) e internet... Resultado, quarenta e um anos depois, o Cristo da Pedreira está de volta!..
Montagem com foto da época, comparada com foto atual do alto relevo de Cristo.








 .

INTRODUÇÃO:

Dias desses eu fui pegar metrô na estação de Irajá e percebi fiéis subindo um pequeno morro, ao lado, para orar. Tal fato virou rotina e eu decidi fazer uma postagem sobre aquilo, com o título: O Novo Monte dos Milagres..., ago/12. Ao escrevê-la, lembrei do surgimento da imagem de Cristo (1971) em uma pedreira, a quatro km dali. Lembrei da imprensa noticiando o fato que atraiu milhares de pessoas ao local. Imaginei que algo semelhante pudesse ocorrer no denominado "Monte" atual, mas os tempos são outros... Esta semana voltei a pensar na velha pedreira do Cristo. Afinal, o que foi feito dela?... Fui lá para conferir. Tirei fotos, colhi depoimentos e pesquisei os acervos de jornais na Biblioteca Nacional (BN) e internet... Resultado: quarenta e um anos depois o Cristo da Pedreira está de volta!...

I - De Volta ao Cristo Apagado

Amigos!

Depois de 41 anos, eu já nem lembrava direito em que local surgiu o Cristo. Desci do ônibus, em Vista Alegre e na calçada, tratei de procurar um suposto morador com pelo menos uns cinquenta anos para pedir informação. Acertei na primeira tentativa, quando um passante me respondeu:

- É logo ali, sobe a Rua Estremadura e você verá uma praça à esquerda.

Subi, para descobrir que a praça era o antigo acesso à velha pedreira, agora parcialmente escondida atrás das árvores de uma vila. Avistei três pessoas na praça e me aproximei de um homem solitário:

- Boa tarde, amigo!... Você sabe me dizer onde foi que surgiu a imagem de Cristo na pedreira?

- Foi logo ali, atrás daquelas casas - e o homem apontou para um lugar aparentemente inacessível.

- E a imagem ainda está lá? - perguntei - Gostaria de tirar umas fotos, mas to vendo que não dá...

- Dá sim. Vem comigo que eu te levo!

Enquanto entrávamos na vila, lembrei que aquele local foi um campo de futebol de terra batida, margeado por mato e a parede de pedra; invadido pela multidão. Gente curiosa ou sedenta por milagres já não pisava mais ali. Um cachorro preguiçoso bocejava e alguns familiares comiam frango assado, com batata frita e cerveja, à sombra de uma amendoeira. A vila terminava na parede de granito que continha o Cristo.

- Mas onde está o Cristo? - perguntei apertando os olhos.

Demorou um pouco para localizá-lo. A imagem já não é tão nítida, quatro décadas depois. "Era como se o Cristo revelado estivesse voltando para dentro da pedreira" - delirei. Tive que subir na laje de uma casa para fotografá-lo com o tablet, concluindo assim, a primeira parte desta história.

Atencioso, Aécio me aponta o local do Cristo: "Eu era criança, colhia água em vidrinhos para vender aos fiéis..."









II - As Versões de Hoje

Meu recente e prestativo amigo (foto) revelou seu nome e idade:

- Eu me chamo Aécio, tenho 49 anos e já estou aposentado. Não me lembro muito daquela época, pois tinha apenas oito anos. Mas lembro que eu enchia vidrinhos de água que escorria da rocha e vendia aos visitantes. Enchia as mãos de moedas! - complementou sorrindo.

Foi o próprio Aécio que se propôs a me levar ao conjunto que fica acima da pedreira para entrevistar sua tia. No caminho contou que pelo menos três pessoas já despencaram da pedreira, mas que ali ninguém morria. Sua tia, de idade avançada, estava dormindo e nada pode somar.

Voltando à vila, entre os familiares que faziam refeição, falei com a advogada Sandra, 55, na época com 14 anos. Sandra relata que a imagem surgiu no local onde um raio caiu e uma lasca de pedra se desprendeu.

- Como eu  fui criada em família evangélica, observei de longe os fatos. Mas não tinha como ignorar as romarias. Pessoas obtinham graças e pagavam promessas levando réplicas de órgãos humanos moldados em cera. Isso durou cinco anos ou mais. Abaixo da imagem foi fincada uma cruz. Quando as visitas cessaram, uma família retirou a cruz para construir uma bela casa. Não durou muito para uma enorme pedra se desprender do rochedo e destruir totalmente a casa, justamente na hora que mãe e filha estavam saindo ao portão. Ninguém se feriu, mas não sobrou nada!

III - As Versões dos Jornais da Época


Muito além de uma cobertura, o jornal O Dia fez um autêntico sensacionalismo sobre ocorrido na noite de sábado, 16 de outubro de 1971. Se naquela época essas matérias arregimentassem grande público ao local, seus textos, quando lidos hoje nos arquivos da BN, causam risos:

ROSTO DO CRISTO NA PEDREIRA OPERA MILAGRES, 19/10/71
"Figura surgiu com grande nitidez precedida de estrondo, foco luminoso e sons melódicos suaves, parecendo cânticos sacros - Duas crianças caíram de grande altura e foram salvas - Romaria de fiéis á Estrada da Água Grande... Mais de 10 mil pessoas precedentes de Caxias, Nova Iguaçu, Petrópolis e outras cidades... Cerca de 12 mil pessoas residentes no conjunto assistiram á milagrosa aparição e ainda permanecem deslumbradas com o fenômeno... A romaria é impressionante. Pessoas enfermas em busca de cura, em dificuldades financeiras, jovens mal sucedidos no amor. Os moradores recordam com grande emoção e respeito, vários casos ali sucedidos... Teresa Mirtes Caldas, 17 anos, atribuiu ser um verdadeiro milagre, ter passado nos exames vestibulares para medicina e foi rezar ao pé da rocha... Romarias, pétalas e peças de cera de várias cidades do Interior Fluminense... Vigário declara: não vem acrescentar nada à Revelação de Deus... Apesar do calor ontem, cresceu o número de fiéis... Água da pedreira é usada para aliviar doenças... Carrocinhas de doces e refrescos apreendidas... Milhares de pessoas recolhem água da fonte... Padre da Igreja Ortodoxa celebra missa... Fincada cruz de dois metros no alto da pedreira... Pároco de Vista Alegre compareceu ao local para observar." (trechos extraídos de matérias entre 19 e 28/10/71)

Ao que parece, o Jornal do Brasil - JB, ignorou o fato o quanto pôde. Quando o reportou, foi para desmenti-lo.

PEDREIRA QUE ATRAI MUITOS DE MILAGRE SÓ TEM BOATOS, 21/10/71.
"Tudo começou quando um funcionário da Light que vigiava os transformadores ouviu um estrondo causado pela paralisação das máquinas da fábrica de Cimento Irajá. Assustado, ele iluminou a pedreira com sua lanterna, pensando que o ruído partira de lá. Estava sozinho no terreno baldio onde os transformadores ocupam uma pequena área... Descobriu a cavidade na pedra e passou a falar em milagres. Depois desapareceu, mas o boato já tinha se espalhado. Vieram os primeiros romeiros e acharam os restos de cabrito sob a pedra. Para a maioria dos que começaram a visitar o terreno não havia mais dúvidas: O local era sem dúvida sagrado..."

Foto com linha do tempo das manchetes pesquisadas em arquivos da Biblioteca Nacional - Bira.

A Folha de São Paulo exibiu pequenas matérias desmistificando os fatos.22 e 26/10/71.

ROCHA É NOVA EXPLORAÇÃO DE CRENDICE,
"Apesar da visita diária atingir a uma média de 5 mil pessoas, nem todos acreditam nos "milagres"... A crença dos moradores levou à descoberta, no último fim de semana, de novas "imagens" ao lado do "Cristo da pedra dos milagres"... Em 14/11/71 relatou: Apareceu um autor para o Cristo que, segundo os fiés teria sido esculpido por meios sobrenaturais. O contador Sidelio Pires afirma que esculpiu a imagem em 1948, quando morava nas proximidades... Sou um artista amador... conta que há 23 anos decidiu competir com mais amigos quem era o melhor escultor... esculpiram vária imagens além do Cristo...


A Revista Veja dedicou apenas alguns centímetros de parte de um editorial, em 27/10/71: "Nenhum milagre foi documentado no local, mas a afluência de muitos crentes fez nascer um rendoso comércio de pedras (...)".

O extinto Correio da Manhã, publicou foto (acima) na capa e uma pequena matéria:  

MULTIDÃO ESPERA MILAGRE, em 30/10/71.
A notícia andou rápido. Em torno da pedreira dezenas de pessoas com martelo, talhadeira e marreta tentavam extrair pequenas pedras da rocha.

IV - Concluindo

De 71 para cá, muito tempo passou e milhares de velas acesas na pedreira se apagaram. Partes dos fotogramas do jornal O Dia, na Biblioteca Nacional, também se apagou. O Cristo talhado também está se apagando, assim como as pessoas que nem são de granito. Coisas mudam com o tempo. Se Vista Alegre virou bairro e se separou de Irajá, a Guanabara foi absorvida pelo Rio de Janeiro. A ditadura acabou e a imprensa não precisa potencializar fatos para vender jornal.

Os milagres realmente de existiram! Se não foi no Cristo de ontem ou no Monte de hoje, foi no conjunto de tempo, pessoas e fatos que talharam essa história.#

Imagens do post:   
1- foto atual do local em comparação com imagem da época.
2- de uma escadaria, Aécio aponta para o local de aparição.
3- montagem feita com paint.
4- recorte do jornal Correio da Manhã.  

Abraços!
Bira.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Fantasmas de um Corredor

Amigos!

http://www.birananet.com/2012/11/fantasmas-de-um-corredor.html


Colega corredor tenha calma!... Não precisa fugir desta postagem como gato da água! É bem melhor encarar esse fato sem desespero. Desculpe o rodeio... Até parece que vou dar notícia de falecimento, mas é melhor você estar preparado. Eu vou falar é daquele momento desesperador, quando um amigo corredor liga convidando para um treino e você nem encontra as palavras corretas para dizer:

- Não vai dar, parceiro, eu estou machucado.

Então segue uma pausa de silêncio na ligação, como se o tempo despencasse num precipício. Quem ficou sem palavras, desta vez, foi seu amigo. Num esforço solidário, ele diz algo para ajudar e sincero se despede. Quando o telefone volta a tocar você suspira: ter de repetir a mesma frase para outro colega vai ser um suplício!...

           Superando o Mau Momento


Tendinite, entorse, estiramento e metartalgia
Osteíte, torção, fratura e Lombalgia
Canelite, condromácia, joanete e... Nostalgia.

Não, não estou querendo plagiar Arnaldo Antunes em “O Pulso Ainda Pulsa”, música dos Titãs que fazia rimas com as doenças. Só quero brincar um pouco com nossos fantasmas de corredor. Então, se você continua lendo até aqui, parabéns! Você venceu seus medos!... Agora podemos conhecer os relatos de dois corredores e o que eles fizeram para superar o mau momento da contusão.




             A Falta da Corrida:

- Senti muita falta sim, meu corpo ta muito acostumado, chegar em casa no final do dia e não poder sair para correr foi algo que me deprimiu muito... – Laina.
- Embora eu nunca tenha tomado antidepressivo, o sentimento que eu tinha é de ter esquecido de tomar, faltava aquela dose de alegria que uma corridinha nos proporciona - Luciano.

          ... E Quando os Colegas Chamavam para Correr?

- Tive que aprender a ter muita paciência. Apreciar e vibrar com as conquistas dos amigos. Estive presente nas 24h dos Fuzileiros Navais - RJ e nas 24h na Esteira - POA, admirando e incentivando os amigosrun. - Laina.
- Em nosso grupinho de corrida, os "Pangarés de Araraquara" o longão dominical é quase sagrado... como minha esposa também corre, ela ia com o pessoal e eu ficava em casa, como quem não foi convidado para a festa... O jeito era ocupar a cabeça, com um conserto de alguma coisa quebrada, pensar no almoço (sou metido a cozinheiro) e entreter-me com os filhos. - Luciano.

             O Estado Emocional:

- A ansiedade tomou conta de mim. Tive perda de massa muscular, e isso me irritou muito. As minhas dúvidas sobre o melhor tratamento me incomodaram muito mais. Como qualquer pessoa que fica lesionada, eu queria para ontem a resposta de que “amanhã” (inicio do tratamento) vou voltar a correr (…) Não queria ser uma paciente chata, mas muitas vezes olhei nos olhos dos médicos, foram quatro traumatologistas, e nos olhos dos fisioterapeutas e perguntei: “Quando vou voltar a correr?” “Posso fazer uns trotes na areia doutor?” (…) Tentava obter as respostas; a Luz que só agora está surgindo. - Laina.
- Fiquei desanimado sim, algumas vezes pensei que não voltaria mais e teria que procurar outro esporte (eu também pedalo, mas depois que um conhecido morreu atropelado na Rodovia Washington Luiz fiquei muito assustado, então minhas pedaladas viraram raridade). - Luciano.

Para ambos, o pior já passou. Depois de dois meses, Luciano já não tem mais de trabalhar caminhando na ponta dos pés. Sessões de massagem combinadas com alongamento e aplicação de gelo espantaram o fantasma. "Ontem mesmo, fiz um treino de 20 km em estrada de terra e não senti incômodo algum." - relata. Laina ainda faz fisioterapia, mas já foi liberada para musculação. Inscreveu-se com o marido para a Travessia das Torres de Tramandaí, em janeiro, quando espera já estar totalmente recuperada e diz: "Ter este objetivo está me ajudando muito a não desanimar e seguir rigorosamente o tratamento/fisioterapia."


A gaúcha que na adolescência trocou a corrida pela natação, voltou ao asfalto há sete anos. Orgulha-se de não usar qualquer tecnologia, nem mesmo relógio para marcar o tempo. Mesmo assim não deixou o noivo esperando no casamento inusitado, feito ao cruzarem juntos a linha de chegada da Maratona de Porto Alegre 2012 (veja o vídeo). O mesmo lugar onde o paulista Luciano, após três anos de corrida, vai fazer sua primeira maratona.

*     *     *

A maioria das contusões passa com gelo, o que não passa é o tempo para quem está contundido. Ficar parado, ganhando peso e sem nenhuma carga de beta endorfina, pode ser terrível. Nessa hora não adianta desespero. Pode ser o momento de fazer algo para preencher o vácuo.

Eu tive a ideia de fazer esta postagem porque estou machucado e não posso correr. Aproveitei o tempo para reformular e divulgar esse blog... E funcionou! Os acessos dispararam, depois de cinco anos!... Assim como Laina, que escreveu a postagem Paciência Paciente (link abaixo) para seu blog e Luciano, que foi cozinhar e brincar com os filhos. Coisas simples, mas valorosas podem ser feitas. E no fim das contas a gente pode até agradecer a Deus por ter se machucado.#


Imagens 1: colagem com gimp animada em arquivo .gif.
Imagem 2: fotos do perfil de Luciano e Laina no Facebook.
Imagem 3: vídeo do Youtube "Casamento de Laina na Maratona de Porto Alegre"
Blog da Laina: http://www.confrariaesportiva.com.br/esporte/220-paciencia-paciente.html

Abraços!

Bira

sábado, 10 de novembro de 2012

A Janela e o Biombo

Amigos! 

"Quando tomei aquela atitude, entrei num caminho sem volta: dois anos fora do mercado de trabalho seria cruel! Vários amigos e familiares disseram: Tem certeza disso?... E se você não conseguir passar, como é que vai ser?... Não dei ouvido e segui em frente. Eu já não aguentava mais a iniciativa privada por dois motivos: trabalho em exagero e salário minguado."

Foi dessa forma que Roberto Chapiro descreveu sua atitude mais corajosa, tomada em 2005, aos 28 anos: Sair de um emprego de Assistente Financeiro, sacar 13 anos de FGTS para passar os próximos dois, apenas estudando para concursos públicos.

Naquele fim de período, ele já havia concluído o curso Básico Fiscal, onde estudou matérias comuns para vários concursos. Em nove meses de curso, dividiu seu tempo com o trabalho, o chopinho, o futebol e o churrasquinho com amigos... Tudo bem que não faltasse às aulas. Mas se quisesse se classificar em um concurso, teria de fazer muito mais, e isso, ele sabia.

O aluno mediano, no colegial ou na faculdade, que estudava apenas o suficiente para passar, acreditava na ideia: "concurso público não é coisa para mim!" Foi seu amigo Luiz Gustavo que exorcizou esse conceito e o incentivou a estudar para concursos. Só que, além do trabalho exagerado, havia outras atividades que ocupavam seu tempo. Então Chapiro tomou a decisão de concentrar-se apenas no estudo.

Atrás do Biombo e Diante da Janela

Quem quisesse encontrar Chapiro em 2006, teria de procurá-lo atrás de um livro. Matriculou-se na turma de simulados que realizava provas inéditas, com alto grau de dificuldade, aos sábados. Durante a semana estudava onde quer que estivesse. Deu adeus aos happy hour de sexta! Às peladas de sábado! Aos churrasquinhos e amigos!... O mesmo livro que aberto, diante de si, era uma janela para o futuro, ironicamente, também era um biombo que o separava do presente.

- 2006 foi um ano de simulado e dedicação exclusiva aos estudos - relata.

Enquanto os ataques do PCC paralisaram São Paulo e os de Zidane, o Brasil, Chapiro parado estudava. Enquanto uma deputada gorducha criava a Dança da Pizza em Brasília, Chapiro não dançava no baile e estudava. E quando Zidane perdeu a cabeça ao lança-la no peito de Materazzi, Chapiro manteve a sua e estudava.

Uma notícia, no entanto, não passou despercebida por Roberto Chapiro: a colisão de dois aviões exibida no Plantão da TV. Foi quando seus olhos descarrilharam das linhas do livro de Contabilidade e se chocaram com as imagens da tela. Sua mente parou de processar a leitura para repelir o medo. Afinal de contas, ele já tinha comprado passagens para o réveillon em Fortaleza - mais que um passeio, uma recompensa para um ano tão puxado. Era setembro e faltavam poucos dias para o concurso da AGU - Advocacia Geral da União. Ele queria fazer uma ótima prova e depois voar tranquilo para o Nordeste.

Se o choque entre as aeronaves Legacy e Boeing deflagrou uma série de crises no setor aéreo, não impediu Chapiro de curtir o réveillon na capital cearense. Já sabia que estava classificado na AGU e viu seu futuro cintilar entre os fogos.

Em 2007 continuou na rotina dos simulados e prestando novos concursos. Foi aprovado como Gestor Tributário da SEFAZ MG - Secretaria de Fazenda do Estado de Minas Gerais. Enquanto não era chamado para a AGU ou SEFAZ, continuou estudando. Em 2008 classificou-se como Contador da Prefeitura de Niterói e foi logo chamado. Trabalhou ali até agosto, quando saiu a nomeação para a SEFAZ MG. Quando estava de malas prontas para Minas Gerais, em setembro, foi nomeado na AGU e optou por ficar no Rio, perto da família. Trabalhou na AGU por quase quase três anos.

Quando, em outubro de 2010, saiu o edital para o sonhado concurso no Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro TCMRJ, Chapiro não estudava há três anos - tempo que ficou na AGU.

- Era um edital pesado, pois tinha muita coisa para estudar. Tive de "me virar nos trinta" já que trabalhava na AGU e ministrava aulas de Contabilidade em cursos preparatórios. 

A prova seria em fevereiro de 2011 e ele teria apenas quatro meses. Então, adeus Natal! Adeus Ano Novo! Adeus tempo livre! Chapiro mergulhou de novo nos livros, mesmo que estivesse no metrô, no ônibus ou numa sala de espera. Mesmo que fosse visitar sua irmã no hospital. Mas tudo isso valeu: Esta semana, a poucos dias de se casar com Helô, Roberto Chapiro me contou sua história nos intervalos de seu trabalho como Técnico de Controle Externo do TCMRJ. #


Concurso Público: É para Qualquer Um!

por Roberto Chapiro. 

Concurso público é a forma mais democrática de se alcançar um emprego digno. Só depende do seu esforço. É pra qualquer um. Não precisa ser inteligente, precisa, sim, ter disciplina para estudar. 

Ao longo da minha vida fui um aluno mediano. Inclusive, estudei em escolas que não me exigiam tanto e ainda assim passava ali “raspando”. Nunca tive o hábito de estudar, pois este só consegui criar quando comecei a enxergar a possibilidade de passar num concurso e dar uma “guinada” na minha vida. Enfrentei muitas dificuldades nessa trajetória, pois minha base era fraca. Mas, corri atrás do meu prejuízo. 

Algumas pessoas perguntam: Quantas horas deve-se estudar por dia? Quantos anos são necessários estudar pra passar em concurso público? Tenho que me trancar em casa estudando? Amigo, não tem uma regra exata. O que posso dizer é: Dê um passo de cada vez. Matricule-se em um curso preparatório. Se, já no início você conseguir estudar dez horas por dia, ótimo! Caso contrário, comece estudando meia hora e vai aumentando aos poucos, ganhando ritmo. 

Nunca pensei que conseguiria estudar 12 horas por dia e acabei fazendo isso por algumas vezes. É claro que não é todo dia que alguém acorda disposto a enfiar a cara nos livros por 12 horas, mas se você está focado num objetivo, acabará fazendo esta façanha sem perceber. Na verdade, não é a quantidade de horas que se estuda que vai determinar a sua aprovação ou não, mas sim a qualidade que se imprime nos estudos. 

O que acontece, na realidade, é que por ser muita matéria terá que gastar suas horas com os livros. Isso é inevitável! Não é preciso abandonar sua vida social, mas tenha em mente que não se pode ter tudo. Se você gosta de sair, escolha um dia da semana pra sair e pronto. A semana tem sete dias, nos outros seis, você estuda. Isso não será pra sempre, é temporário, até a sua aprovação. 

Invista em materiais voltados pra concurso, em cursos preparatórios. Hoje em dia temos sites especializados em concursos públicos onde você pode assistir às aulas em casa. Entre de cabeça nesse projeto, pois é recompensador! Estabilidade profissional não tem preço.#



As Imagens: 
1- Chapiro ministrando aula de Contabilidade na Academia do Concurso; 10-11-12.
2- Montagem de fotos recortadas com Gimp e sobrepostas em arquivo .gif.
3- Sala de aula de ponta-cabeça, clicado em 10-11-12.

Para seguir esse blog, clique em "participar deste site" na lateral superior à direita. São apenas três cliques e você receberá as atualizações, assim que publicadas! 

Abraços!

Bira

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cyber, Concreto e Interativo ou: Faça Você Mesmo!

Amigos;

Precisar não precisa: era início dos anos 80 e o Zeca jogava cartas comigo na Praça. Ele chegava no fim da tarde no velho fusca repleto de adesivos do PDT. Discutia política e jogadas sem perder - o humor, é claro!

Certo dia ele não apareceu e ninguém podia imaginar que estava morto. A notícia chegou com uma semana de atraso. Eu não fui ao enterro nem na missa, mas em sua homenagem escrevi um poema que não li para ninguém: Quem joga na praça não lê poemas, tão pouco poemas concretos. De concreto ali, só os bancos da praça...

Era início dos anos 80, não tinha blog ou internet, e a  primeira versão do poema ficou assim:

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Sonho de Renata

(...) Vocês não têm ideia do que é cuidar de 200 cachorros!... Nem mesmo assistindo ao vídeo abaixo, feito quando visitei a casa de Renata Brito, em Anchieta, terão ideia exata (...)

Para perseguir o sonho de socorrer cães famintos e doentes, Renata saiu da Barra (A) para a Baixada (B) e hoje mora em Anchieta com 200 animais.




O Sonho de Renata

Amigos!

Vocês não têm ideia do que é cuidar de 200 cachorros!... Nem mesmo assistindo ao vídeo abaixo, feito quando visitei a casa de Renata Brito, em Anchieta, terão ideia exata. Eu também não sabia o que encontraria e cheguei ali de tênis, calça esportiva e camisa dry, novinha em folha. Depois de conversar com seu companheiro Adilson Taipan, na calçada, falei que queria subir para filmar os cachorros antes que anoitecesse. Ele me olhou de cima a baixo e disse: "É melhor você trocar de roupa." Ofereceu-me chinelos, camisa e bermuda surrada. Enquanto eu me trocava, antevi que não seria fácil encarar a cachorrada.

sábado, 13 de outubro de 2012

Um Corredor de Anjos

(...) Entre as música e os gestos habitavam anjos invisíveis!... Sim!... Naquele lugar havia anjos e uma força indescritível invadia a alma.  Eu não tive mais dúvidas de que completaria a prova! (...)

Os primeiros quilômetros da prova...

Um Corredor de Anjos

Amigos!

Na manhã de domingo passado, havia um lugar na Argentina onde a crise econômica não entrou. Um lugar sem paredes, sujeito à chuva e ao frio. Mais precisamente, um caminho de asfalto, onde 8.000 pessoas corriam em trajes de cores flúor. Um caminho entre as árvores do parque, os prédios do Centro e os antigos guindastes de Porto Madero.


Concentração da largada...

Ah!... Se todos 41 milhões de argentinos pudessem correr a Maratona de Buenos Aires!... Se as incertezas que vivem pudessem dissipar, durante a prova, como dissipou minha incerteza de completá-la! Quando larguei sentindo dores ao pisar com o pé direito e pensei: "Vou continuar até onde der, ou, se a dor parar, vou prosseguir..." O corpo aqueceu e a dor foi cedendo. Em alguns momentos, cheguei a esquecer da contusão e comecei a me divertir na corrida. Ouvia música e tirava fotos com o iphone, mas não consegui clicar um cachorro maratonista que surgiu no KM 10 e reapareceu no 16. Com meio palmo de língua para fora, o cão provocava risos entre os corredores e nem deu para eu conferir se ele acompanhava seu suposto dono.

Os corredores são muito bem tratados na Maratona de Buenos Aires. Há vários pontos de hidratação com Gatorade e água mineral que, fora dali, no comércio onde a crise perdura, pode custar até 15 pesos - uns R$ 7,00(!). Em três pontos da prova são distribuídas bananas, laranja e frutas secas - justamente na hora que o corpo pede. Detalhes que colocam a BA Maratón no topo das corridas que já participei.


Na metade do percurso surge La Bombonera, estádio do Boca Junior...

Depois de largar nas imediações do Estádio do River Plate e passar, incólume, frente à Bombonera (foto ao lado), do rival Boca Júnior, cruzei o portal da meia-maratona com 1:43h. Sentia-me bem e até vislumbrei em fechar os 42k com 3:25h, mas logo caí na real: "Nas atuais circunstâncias, bastaria completar com qualquer tempo".

Em Puerto Madero surgem os primeiros sinais cansaço e as providências de um staff que faz diferença...

O melhor de BA Maratón, no entanto, estava por vir. Quando percorremos as docas de Porto Madero, na altura dos quilômetros 30, quando as forças dos corredores começavam a exaurir, uma música instrumental surgiu ao longe. Na medida que nos aproximamos, aumentava o som e o envolvimento da melodia. Então vimos um corredor de pessoas aplaudindo e incentivando quem passava. Elas vestiam coletes de onde pendiam hastes, por traz dos ombros, que sustentavam cartazes sobre a cabeça, com as inscrições: "Força!... Você consegue!..." e etc.

Entre as música e os gestos habitavam anjos invisíveis!... Sim!... Naquele lugar havia anjos e uma força indescritível invadia a alma.  Eu não tive mais dúvidas de que completaria a prova!

Ah!... Se os 41 milhões de argentinos pudessem passar pelo corredor de anjos de Porto Madero!... Se todos os povos e pessoas em crise pudessem sentir o que sentimos naquele lugar!... O choro da chegada foi derramado ali mesmo e tudo mais que viesse até a chegada, ou mesmo a própria chegada, seria menos relevante.

Capa de plástico para proteger do frio e da chuva...






Depois disso é claro que completei (3:34), festejei com o Sandro Rodrigo (3:06) que estava radiante por ter conseguido seu melhor tempo em maratonas - ele é corredor de Meia.


Meu amigo Sandro Rodrigo completa a prova feliz da vida!

Inesquecível, no entanto, foi correr entre os anjos de Porto Madero.

Abraços!
Bira. 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

História de Gigante II

(...) Hoje, a poucos dias de disputar a finalíssima do Prêmio Multi Show de Humor, assisti suas apresentações nas eliminatórias do concurso (vídeo abaixo) e, orgulhoso, retornei para entrevistá-lo (...)

Capa da Revista Ast-Rio com foto do Léo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A Missão do Barreirista.

(...) Aos 56 anos, Geraldo ainda exibe um porte atlético, fruto de uma vida dedicada ao esporte. Aos 13 foi campeão estudantil de salto em altura e, aos 14, melhor do mundo no salto triplo (1970) (...) 

De pé, à direita, o treinador Geraldo Aluísio Rodrigues auxilia um atleta na execução do abdominal.












A Missão do Barreirista

Amigos!

Para ele todo dia útil começa às cinco da manhã, quando acorda, toma café e banho e se arruma. Depois, vai para o Estádio de Atletismo Célio de Barros, onde chega antes das seis.

Se o dia clareia revelando o vermelho da pista e o azul do céu, também revela arquibancadas verdes como o gramado central de onde Geraldo observa seus atletas em movimento.

Se o barulho crescente do trânsito, lá fora, abafa piados dos pássaros, guindastes começam a se mover na imensa obra de reforma do Maracanã, ao lado.

Se os equipamentos gigantes, fincadores de estacas, não desviam o foco dos atletas na pista, o Professor já começou a orientar os seus pupilos.

- Tenho mais de 30 alunos entre corredores, saltadores e arremessadores aqui no Célio de Barros onde estou desde 2008 - revela, o treinador.

Alunos como Helena Strumm, 45, (foto ao lado) terceira colocada no geral dos 12k de Bombinhas Adventure' 2012 - duríssima maratona trail run, em Santa Catarina, que comenta:

- Só ganhei, treinando com o prof. Geraldo Aluisio! Descobri meu potencial seguindo criteriosamente as planilhas que ele me passou. É um trabalho fabuloso e focado na individualidade de cada atleta.

Helena, que começou a correr no asfalto há apenas dois anos, conheceu Geraldo no ano passado e hoje integra a equipe de atletismo do Vasco da Gama (por ele treinada). Frequenta os pódios dos torneios masters de atletismo e afirma:

- Geraldo é fantástico! Onde ele for, estarei por perto!

Aos 56 anos, Geraldo ainda exibe um porte atlético, fruto de uma vida dedicada ao esporte. Aos 13 foi campeão estudantil de salto em altura e, aos 14, melhor do mundo no salto triplo (1970). No ano seguinte, ergueu o Troféu Brasil de Atletismo da categoria 110 metros. Tais resultados o levaram para quatro estágios práticos e técnicos na Alemanha,  entre 15 e 18 anos. De volta ao Brasil, prestou serviço militar na Aeronáutica, conquistando numa competição entre as três Forças, nada menos do que oito provas de atletismo e até basquete. Como "prêmio", teve dificuldades de conseguir sua baixa para cursar a Faculdade de Educação Física. Para consegui-la, foi preciso recorrer ao Ministro da Educação. Formou-se na UERJ em 1976.

Ainda com 19 anos, foi fazer uma prova para ser Técnico de Atletismo na Marinha. Quando deparou com seus concorrentes, técnicos experientes na faixa etária de 40 anos, achou que não teria chance. Durante a seleção, no entanto,  foi reconhecido e apresentou sua experiência nos cursos da Alemanha. Resultado: Entrou para o Colégio Naval.

Enquanto treinava a equipe da Gama Filho (de 1984 a 89) um atleta lhe procurou pedindo ajuda nos treinos. Como resultado, o corredor Flávio Godoy obteve cinco títulos consecutivos de campeão brasileiro, nos 800 metros, e chegou às Olimpíadas de Atlanta'86 (vídeo).


Nesse mesmo período de Gama Filho, entre seus 90 alunos corredores, arremessadores e saltadores, havia um que não conseguia "vingar" em nenhuma categoria. Odilon Tupy era alto, tinha 18 anos e braços magros, impróprios para o perfil de um arremessador de disco. Mesmo assim, Geraldo pediu que tentasse um arremesso que, para espanto todos, foi excelente. Então foi hora de aplicar em Odilon o que aprendera nos quatro estágios da Alemanha.

Durante quatro meses, submeteu o atleta a um trabalho natural - sem uso dos tradicionais equipamentos de academia, mas apenas com o peso corpóreo. O resultado foi tão surpreendente quanto o primeiro arremesso de Odilon: um ganho de 10 cm de hipertrofia muscular (na foto abaixo: antes e depois). 


Perguntado sobre o que é mais importante para um atleta, o treinador nem pensa e responde:

- Disciplina... Para você ter um exemplo, na Marinha, os atletas nem tinham tanto tempo disponível para treinar. Mas pelo simples fato de ter hora certa para dormir e se alimentar, obtivemos grandes resultados.

Com mais de quarenta anos de pista, de penta-atleta a treinador, Geraldo sonha encontrar talentos olímpicos e direcionar os novos técnicos, para por em prática toda a sua capacidade profissional. Suplantar barreiras é a missão do barreirista.

Geraldo competindo este ano nos 110 m do campeonato de veteranos do Rio de Janeiro.


Abraços!
Bira.

sábado, 8 de setembro de 2012

17 Homens e Uma Guerreira!

Amigos!

Foi preciso obedecer todo aquele ritual dos dias de corrida e acordar às 5 da manhã para chegar às 7h, em Xerém, frente à cabine da PM. Enquanto o friozinho perdurava e o sol aos poucos dissipava a brisa, os carros traziam corredores até somarem 18 - dezessete homens e uma guerreira. O treino que era comum para alguns, desta vez ganharia novos nomes. Percorrer quase 20 km até a Rodoviária de Petrópolis, transpondo curvas e superando passo-a-passo uma subida contínua e reveladora da bela paisagem serrana foi, sem dúvidas, o melhor programa desse 7 de setembro.

Registro abaixo, nas fotos e vídeo de Jorge Cerqueira - Ultra Maratonista: www.jmaratona.com


Em pé: Fábio Ignácio, Márcio Rocha, Hélio Silva, Lucia Helena,  Bira, Sandro Rodrigo, Jorge Feijão, Murilo, Flávio Loureiro, Adriano Molinaro e  Diego Magyar. Agachados: Erivaldo Zin, Vitor, Felipe Lemos, Ozéias, Anderson de Azevedo e Jorge Ultra. Fotografou: Moraes.

Momento Gay antes da largada: Diego pega Murilo no colo.

Jorge Feijão sorrindo no estilo Corredor dos Anos 70: faixazinha na cabeça.

A estrada é longa, mas nada que assuste o ultramaratonista Jorge Cerqueira


Fábio Inácio sofreu na estreia e postou no Facebook: "Tô mais moído do que carme moída!"


A altitude revela a paisagem e compensa o cansaço: Privilégio de quem corre.

























Jorge registra mais um belo momento do treino: Corredores nas alturas!

Moraes (Bolt) e sorrisos na chegada

Adriano e Jorge Ultra comemoram mais belo treino

O percurso registrado no tablet



























Dúzia e meia de corredores! 



Vídeo do longão, por Jorge Cerqueira Ultra Maratonista: www.jmaratona.com

Depois dessa, passei o restante do feriado estirado no sofá e à noite dormi de roncar. Amanhã tem percurso de 14km na maratona Adidas.

Abraços!
Bira.   

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Fazer Amigos e Viver com Alegria

(...) É nesse ambiente desprovido da disputa que Nonô é rei. Um corredor que "não olha para o relógio e corre apenas para manter a boa forma física, fazer amigos, conhecer outros lugares e viver feliz!" (...)

Nono Xavier acena como um rei na retaguarda da Meia Maratona Internacional do Rio.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sanduíche de Queijo

(...) A população endinheirada não tinha banco para depositar sua fortuna, não tinha aonde gastar e, mesmo que tivesse, não arredaria o pé de casa onde estava seu tesouro (...)

Carro forte da Comlurb - montagem com recortes de imagem da internet - Bira, 03/08/12.

Sanduíche de Queijo

Amigos!

Tudo começou por volta das 21 horas de segunda-feira, quando o Centro da Cidade já estava ficando deserto e a maioria dos trabalhadores já chegou em casa. Nas calçadas da Av. Rio Branco, sacos pretos de lixo formavam pilhas e eram assediados por catadores e moradores de rua. Eles tinham pouco tempo para isso, até a passagem dos caminhões de coleta da COMLURB. Ônibus passavam deslocando o ar e espalhando folhas de papel que um saco revirado libertou. Mulheres, recém saídas dos escritórios, redobravam os cuidados para caminhar de salto sobre as pedras portuguesas, enquanto se desviavam de pedaços de isopor. Elas queriam se enfiar no primeiro táxi ou mergulhar na primeira estação do metrô. Todas tinham pressa. Quanto mais demorassem ali, menos tempo teriam para concluir as tarefas de casa e, enfim, descansar. Por isso, ninguém percebeu quando um catador de lixo passou à margem da calçada, em disparada, carregando três sacos pretos, imensos e estufados. Seus olhos esbugalhados bebiam o suor que escorria da testa, mas ele nem piscava. Seguindo em direção à Cinelândia, teve seu vulto camuflado entre as sombras da noite. Só então foi possível ver que a passagem do homem deixara um surpreendente rastro de cédulas de R$ 50,00, imediatamente disputadas por quem passasse. E a confusão foi se formando à medida que mais pessoas se abaixavam para catar dinheiro espalhado no asfalto. Carros freavam ou buzinavam para desobstruir o caminho. Um motorista que abriu a janela de seu táxi para xingar os pedestres espalhados na pista, juntou-se a eles quando viu o dinheiro no chão. O trânsito parou de fluir com mais pessoas abandonando os carros para disputar as cédulas. Outros dois catadores de lixo também passaram correndo na calçada carregando sacos cheios de notas de R$50,00 e R$100,00 que escapavam entre os rasgos. O taxista, então, percebeu o que ocorria e desistiu de catar dinheiro no chão, se atirando no amontoado de sacos mais próximo. Arrastou dois sacos para dentro de seu táxi. Sem hesitação, recolheu mais dois, e mais dois, até estufar seu carro, quando só então gritou:

- Os sacos de lixo estão cheios de dinheiro!!!

O eco percorreu toda Av. Rio Branco e se embrenhou nas transversais. Passageiros e motoristas desceram dos ônibus, balconistas se evadiam do comércio, porteiros e ascensoristas, dos prédios. Camelôs abandonaram suas barracas, guardas de trânsito largaram o apito... Havia muito dinheiro disfarçado de lixo em todas as calçadas! O suficiente para todos! De repente, becos fétidos e escuros que acumulavam lixo se transformaram em tesouros. Seguranças particulares e armados não tardaram para fechar um trecho da Rua 7 de Setembro, aonde se apossaram de pilhas de sacos de dinheiro. Jorjão, que assumiu a liderança do grupo, tentava em vão comunicar-se pelo celular com seu vizinho Ferreira, que possuía um caminhão baú para recolher toda a grana. Ferreira não atendia e ele ligou para o celular de sua mulher:

- Mulher, é urgente: Encontra o Ferreira e manda ele vir aqui para a Cidade que eu tenho uma carga preciosa!... Eu liguei para o celular e para a casa dele, mas ninguém atendeu!... É urgente!

- Jorjão, eu também quero falar contigo urgente!... Aqui no morro está acontecendo uma coisa muito estranha e maravilhosa!... De repente, aquela montanha de lixo do despejo - ninguém sabe como - se transformou em dinheiro!... Vem pra cá, pelo amor de Deus!... Ta todo mundo pegando o dinheiro e levando pra casa! Sua mãe, nossos filhos e eu já pegamos muito dinheiro e precisamos de você aqui... Agora tenho de desligar, ainda tem muito dinheiro lá! Tem dinheiro para todo mundo! É um milagre!... - falou e desligou o aparelho.

- Mulher, mulher!... Droga, desligou!,,, Que história é essa de dinheiro lá também??

Jorjão não poderia imaginar que na pobre comunidade onde morava, havia surgido mais dinheiro que no Centro da Cidade. Quanto mais lixo, mais dinheiro. Não poderia imaginar que o caminhão do Ferreira já estava cheio de notas de cem que ele próprio recolheu. Finalmente a profecia que  Ferreira ouvia repetidamente de sua saudosa mãe, quando era criança, se cumprira:

- Meu filho, quando tu crescer vai ter um caminhão de dinheiro!

Às dez da noite, todo o lixo do Rio já se transformara em dinheiro. Toda a população carioca se ocupava em recolher o seu quinhão. Carros, barracos, mansões viravam depósitos. A madrugada chegou e ninguém dormiu na corrida ao tesouro. Não sentiam sono, nem fome, nem sede, até que o dia nasceu. Foi quando o sol se elevou mostrando uma cidade tão limpa, como nunca se viu. Se lixo virou dinheiro, desapareceu das ruas. Em algumas encostas e lixões, no entanto, ainda havia gente catando grana. Mas a maioria já estava enclausurada, tomando conta de seu montante.

Antônio foi um daqueles que não parou de catar o dinheiro que ainda restava no antigo lixão. Mara, sua esposa foi chamá-lo:

- Vem pra casa Tonho! Já temos muito dinheiro lá! Você precisa descansar e comer alguma coisa!

- Ainda tem dinheiro aqui também! Vou pegar o máximo que puder antes que acabe.

- Então coma pelo menos este sanduíche de queijo que eu fiz.

E assim Antônio prosseguiu catando dinheiro com uma mão e comendo sanduíche de queijo com outra.

                                          *               *              *                *                *

Na terça-feira, ninguém foi trabalhar no Rio de Janeiro. Supermercados, farmácias, shoppings, hospitais... Estava tudo fechado ou abandonado. A população endinheirada não tinha banco para depositar sua fortuna, não tinha aonde gastar e, mesmo que tivesse, não arredaria o pé de casa onde estava seu tesouro.

                                          *               *              *                *                *

A noite chegou na casa de Janete e, após o jantar, só restava assistir novela. Protegidos pelos muros altos, com janelas e portas trancadas, acomodaram-se pai, mãe e filhos nos sofás da sala. Enroscada no pescoço do marido, Janete traçava planos silenciosos enquanto fingia assistir TV. O que fazer com tanto dinheiro recolhido?

Um antigo relógio de parede anunciou 21 horas e ninguém percebeu. Foi quando surgiu um mau cheiro crescente no ar e Janete se levantou para conferir se o banheiro estava sujo. Não estava, mas o mau cheiro vinha dali.

- Estranho!... De onde vem esse mau cheiro! - pensou.

Tudo parecia normal no banheiro, a não ser pelos sacos de dinheiro ali empilhados... A dona de casa então abriu um dos sacos e quase caiu para trás. O dinheiro voltou a ser lixo! Apressou-se para conferir outro saco, e outro, e outro... Sua casa estava cheia de lixo e seus sonhos esvaziados! Gritou pelo marido. Ordenou que ele abrisse a porta, as janelas, o portão e pusesse o lixo para fora! Atirou-se no sofá, diante da TV, chorando mais que a mocinha da novela.

Na história da novela a mocinha sofria com a indiferença do marido que só pensava em trabalhar para ganhar mais e mais dinheiro. O homem não parava nem para almoçar e todo dia comia um sanduíche de queijo para enganar o estômago.

Amparada pelas crianças, Janete chorava de um lado e a mocinha da novela chorava de outro. Entre elas a tela plana da TV. Foi quando as ruas do Rio se encheram de sacos e mais sacos de lixo. Foi necessário mais uma noite para que o povo retirasse todo o lixo revertido de casa, devolvendo-os às calçadas e lixões.   

                                          *              *               *               *                 *

Na quarta-feira os Supermercados, farmácias, shoppings e hospitais voltaram a abrir ou funcionar. Camelôs e guardas de trânsito dividiam espaço nas ruas com as pilhas de sacos de lixo, até que a COMLURB passasse. Mulheres, recém saídas do metrô, redobravam os cuidados para caminhar de salto sobre as pedras portuguesas, enquanto se desviavam de pedaços de isopor. Jorjão e os seguranças já haviam deixado a Rua 7 de Setembro. Eles já sabiam que também na favela o dinheiro voltou a ser lixo, retornando ao despejo. Sob o efeito de uma ressaca sem álcool, Jorjão atendeu ao celular. Era Ferreira - o dono do caminhão baú, que falou:

- Fala, Jorjão!... E aí?... Vi aqui que você ligou para mim, ontem... Tudo bem?

- Tudo, Ferreira. Mas não é nada não... Foi apenas um engano.

Jorjão estava cansado e sentia fome. Lembrou do sanduíche de queijo que a mulher embalou em papel alumínio e colocou na sua mochila, e que sequer foi tocado. Abriu o embrulho, cheirou o lanche e sem ter certeza se estava bom comeu, como quem diz: "Foda-se!"

Abraços!
Bira.

terça-feira, 31 de julho de 2012

A vida em Dois Minutos!

Amigos!


Pronto!... A última curva foi feita e faltam apenas 500 metros para a linha de chegada! 500 metros traduzidos em intermináveis dois minutos! Não penso nada a não ser em chegar, aliás, nem penso apenas corro. Depois de sete meses no estaleiro, para sarar a coxa, eu estava ali de novo. Tentando vencer a falta de ritmo e o meu amigo Hélio Galhardo, que veio ofegante, lá de trás, e equiparou-se comigo no Elevado das Bandeiras, quando faltavam dois quilômetros para a chegada. Debilitado, eu já estava perdendo a esperança de completar a prova abaixo de 1h e 40m, minha meta, quando o Hélio surgiu como um sinal de que eu poderia reagir se tentasse me manter ao seu lado. Na saída do Túnel São Conrado, a descida impulsionou nossas passadas.  Alternamos de posição até desembocar ali, a 500 metros da chegada, na Praia de São Conrado. Meu corpo exausto ainda teria pela frente dois minutos, então corri com a emoção. Retirei os fones de ouvido e me atirei naquele curto tempo onde cabia toda a vida e completei a prova em 1h38m45...

Pronto!... Estou de volta!

 Metros finais da Meia Maratona Asics Golden Four - Organização nota 10!
  

 Helio Galhardo e eu, posando ao lado de Solenei Silva - campeão da maratona de São Paulo.

Abraços!
Bira.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Parabéns Para Mim!

Amigos!


Esse banho quente de inverno deveria acabar apenas no verão!

Fecho os olhos e sinto a água que cai na cabeça, aquece e relaxa os ombros e escorre até os pés. O prazer emana do corpo em forma de nuvem que embaça o blindex. Mas quando os olhos se abrem, pouco se pode ver além do vapor. A toalha acolhe e consola o corpo ressentido pelo fim do banho. Depois de seca, a pele ainda libera sinuosos filetes de vapor, feito xícara de chá...

Passo a mão no espelho para revelar meu rosto que me diz em suas marcas: "Parabéns, pelos 53 anos de vida!


É julho. O sol já não aquece como antes e me permite correr em seu momento mais intenso para  manter o bronzeado. Agora eu tenho apenas cinco anos! Comemoro cinco anos de corrida enquanto a vida já me deu 53! Quando paro sou adulto e quando corro sou criança... Ainda vibro e penso em melhorar meus tempos, enquanto faço esse longão de 31 km.

Esse ano sofri com uma contusão na coxa. Fiquei travado, até nos treinos e só participei de uma corrida de 10 km. Passei de novembro a junho contundido e vendo a Maratona do Rio virar uma vaca a caminho do brejo. Tive dúvidas se voltaria a correr como antes e, preocupado, até deixei de ser criança enquanto treinava. E se eu treinava bem menos, as minhas calças - oportunistas - começaram a apertar! Era início de junho e eu me assustei: "Não quero engordar!" Ainda sentia aquele incômodo na coxa toda vez que corria, mas pensei: "Vou assim mesmo!"

Recomecei correndo à noite, na saída do trabalho. Do Centro da Cidade até Copacabana, ida e volta somando 21 k sobre a grama do Aterro. Iluminado pelos fachos dos faróis que fazem vrum, fui esquecendo de sentir uma dor fantasma. Duas ou três vezes na semana e mais um longão aos sábado. Em 16/06 tomei coragem e saí de Irajá, mais uma vez decidido a chegar em Copa. Foram sofridas 3h02min. Cinco dias depois, durante a Rio+20, fiz em 2h55min. Mais dois dias e cheguei com 2h44min. Animado, baixei essse tempo para 2h42min, em 07/07, e no sábado passado atingi a marca de 2h37min...

Passo a mão ajeitando o cronômetro que me diz com suas marcas: "Parabéns, pelos seus cinco anos de corrida!

Recebo um telefonema do Adriano perguntando se eu vou correr a Meia Internacional do Rio, digo que sim!

Recebo um e-mail do Ozéias perguntando se vou correr a Ultra-Amigos 50km, em dezembro, digo que sim!

A contusão se foi e os planos voltaram - até quando?... Não importa!... Isso é pergunta de adulto... Agora eu tenho cinco anos e vou correr!

Abraços!
Bira.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Gimara Encontra Gilmara

Gilmara Encontra Gilmara

Amigos;

Montagem com recortes de fotos do perfil da Gilmara no Facebook...


A luz amarela do sol da manhã banhava de ouro as casas de Cordovil e realçava o bronze da pele daquela moça, que caminhava na calçada. Seus cabelos fartos estavam presos e  seus olhos ainda continham o brilho das estrelas que a pouco se apagaram. A moça vestida de atleta, refletia no olhar sua paixão pela corrida, horas antes de uma competição.

O movimento é sempre pouco nas primeiras horas de um domingo suburbano. O frescor se mistura ao silêncio e é possível ouvir o canto distante de um galo. Àquela hora, poucos vira-latas ainda xingam quem passa. Poucos carros soltam rosnados, babando fumaça. O tempo não quer correr para quem espera. Então a corredora consulta o relógio e, no gesto, percebe que alguém se aproxima. Era uma mulher de salto alto, vestido justo, dourado com paetês cintilantes. "Nossa!... Que show! Deve ser uma passista" - concluiu a corredora com pensamentos e sentidos tão velozes que pareciam transformar os movimentos daquela mulher em câmera lenta.

- Bom-dia, corredora! - sorriu a mulher, sem reverência - Vai correr hoje?

- Ah, se vou!... Depois de quatro meses treinando, chegou o dia da meia-maratona!

- Que inveja, amiga! - a suposta passista já falava com a intimidade de velha amiga - você saindo pra correr toda esportiva e cheia de vigor, enquanto eu estou chegando mortinha do ensaio da Escola...

- Eu é que tenho inveja! - devolveu a corredora - você toda lindona nesse salto magnífico, tenho até de olhar pra cima pra falar contigo! Logo vi que você é passista... Mas é de qual Escola?

- Da São Clemente, com muito orgulho!... O ensaio de hoje foi show!

- E agora, vai dormir o dia todo?

- Que nada! Vou dormir um pouco e depois levar minha filha para escolher o seu presente de aniversário - 16 anos!

- Você já tem filha com 16??

- Quantos anos você pensa que eu tenho, corredora?... Tenho sim, uma filha linda, muito amiga, que me ouve e me dá conselhos... Isso mesmo: ela ficou madura antes do tempo, eu acho... É muito inteligente, extrovertida e carente... assim como a mãe... - a passista respirou um pouco para não perder a cadência e continuou: - Minha filha está fazendo o 2º Grau e um curso de comércio exterior, mas ainda quer se descobrir profissionalmente. Há três meses fomos ao oftalmologista e descobrimos que ela tem uma doença degenerativa nas córneas, sem cura e progressiva, chamada ceratocone. A notícia foi como uma facada no meu peito, fiquei depressiva e me afastei das coisas que mais amo. Até que a ficha caiu e eu consegui procurar ajuda. Eu tento fazer de tudo para tornar a vida dela o mais normal possível.

- Nossa!... Que mãe maravilhosa você é!...

- Nem sei como estou falando tudo isso, mas você me inspira confiança. Mas fala de você, corredora: Como arruma tempo para treinar?

- Acordando muito cedo e me juntando aos amigos corredores... Depois vou pro trabalho - sou analista de sistemas, responsável pelas informações da empresa em que administro toda parte de TI, voz, dados e equipamentos. Dou suporte a usuários, implanto sistemas, dou manutenção no site e no sistema corporativo, compro material de informática e software, instalação e configuração de servidores, backups e upgrades... Não é uma tarefa fácil!

- E mesmo assim dá pra correr? - perguntou a passista.

- É justamente por causa disso que hoje estou correndo!... Explico: Em novembro de 2009, a rede da empresa foi invadida por hackers e começou meu pesadelo - trabalhei dia e noite para recuperar todas as informações infectadas. Perdi noites de sono e trabalhei sobre pressão. A empresa teve que parar por três dias e isso me causou um transtorno imenso... Pensei que nunca mais fosse colocar a firma em pé novamente, mas consegui! Quando tudo estava terminado, comecei a passar mal do nada, na rua. Ter medo de coisas simples e triviais... de sair à rua, de tudo. Pensava que iria morrer a toda hora - uma sensação horrível que não desejo a ninguém! Desmaiava com medo de atravessar a Av. Presidente Vargas. Barulhos e tumultos faziam minha pressão subir. Nas crises, fui internada várias vezes. Não atendia ligações de amigos, vivia deitada no escuro e sozinha. Não assistia TV, nem ouvia música. A vida não tinha graça. Os remédios receitados me deixavam sonolenta a maior parte do dia, sem sorrir ou expressar nenhuma emoção. Minha família também começou a sofrer com isso, principalmente minha filha e minha mãe. Um belo dia fiz uma pequena oração pedindo a Deus que me enviasse o profissional que me curaria e assim Ele fez. Por desistência de uma paciente, no mesmo dia, consegui consultar-me com um médico que me receitou remédios simples e baratos e afirmou que eu estaria boa em 15 dias... Eu acreditei. Demorou um pouco mais, acho que 2 meses, mas foi aí que comecei a viver. Comecei a malhar e a praticar corrida aqui no bairro com os amigos que já corriam. Gostei tanto e isso me fez tão bem que logo me inscrevi na Corrida Vênus de Mulheres. Chamei algumas amigas e minha família ficou muito contente com a mudança. Recebia apoio de todos, família e trabalho. Corri os 10 km em 47 minutos - um excelente tempo para uma iniciante, foi quando minha empresa começou a me patrocinar nas corridas. Então treinei com acompanhamento profissional e consegui vários pódios. Conheci muitos lugares e amigos. Foram mais de 90 corridas até hoje, inclusive fora do estado e do país. A corrida me inseriu em várias outras atividades. Trouxe muita alegria e amigos maravilhosos. Devo à corrida a minha nova vida de saúde e felicidade!...

Nessa hora uma van cheia de atletas parou do outro lado da rua e buzinou. A corredora se despediu da passista, que estava surpreendida com o que acabara de ouvir, e na pressa partiu:

- A gente se encontra! - disseram ambas ao mesmo tempo.

Quando se deram contas de que não anotaram os telefones ou sequer perguntaram o nome, uma da outra, o carro já havia partido.


*           *          *

Quando a passista chegou em casa, sua filha ainda dormia. Com cuidado para não acordá-la alisou seus cabelos e beijou sua testa. Desceu dos saltos para escovar os dentes e tomar um banho. Vestiu a camisolinha e foi dormir um pouco. Sonhou que a São Clemente havia sido a 1ª colocada do Carnaval Carioca e que no Desfile das Campeãs, uma platéia de corredores lotava as arquibancadas da Marquês de Sapucaí, aplaudindo esfuziantemente a sua escola.


Enquanto isso, a corredora dava largada entre outros 10 mil atletas na Praia de São Conrado. Depois de subir e descer a Av. Niemeyer e não ter certeza se seu corpo apenas suava ou também chorava de emoção, desembocou na Praia do Leblon. Em Ipanema, estabilizou as passadas. Em Copacabana, superou o cansaço. Na Enseada de  Botafogo, recebeu as bençãos do Cristo e absorveu, no Aterro, toda força oriunda da imensa pedra que forma o Pão de Açúcar. Sentiu o gosto doce da vitória, ao cruzar a linha de chegada. Conferiu no relógio que fizera seu melhor tempo em uma meia-maratona, estando entre as primeiras de sua faixa etária. Sorriu, abraçou e curtiu os amigos. Tirou fotos, fez novas amizades... viveu!

Quando voltou para Cordovil já era mais de uma da tarde. Desceu da van na mesma esquina onde cedo embarcara, e para onde o sol, longe da brisa do mar, dispara seus raios ofuscantes. Então a corredora consultou o relógio e, no gesto, percebeu que alguém se aproximava. Era uma mulher sem salto alto, sem vestido justo ou paetês cintilantes, mas com o inconfundível sorriso de passista, que falou:

- Boa-tarde, corredora!... Como foi a corrida?

- Excelente!... Mas que bom que você apareceu! Nem tinha perguntado seu nome ou dito o meu, de manhã...

- Eu sou Gilmara!

- Peraí, você tá brincando?!... Eu também sou Gilmara!... E duas Gilmaras no mesmo metro quadrado é superpopulação!


Então as duas sorriram como sorriem as Gilmaras. Tagarelaram como tagarelam as Gilmaras. Se emocionaram como se emocionam as Gilmaras e num abraço de Gilmaras se fundiram, transformando-se milagrosamente numa só pessoa - corredora, passista, trabalhadora e mãe!... Sendo apenas uma, seus diálogos se transformaram em pensamentos. Sem entender o que ocorria, Gilmara beliscou-se para ver se não estava sonhando. Não estava. A multi-Gilmara era uma só! O lado mãe, no entanto, tomou as rédeas da ação e partiu para casa, onde sua filha de 16 anos, nem fazia ideia do abraço que receberia.

Quando abraçou sua filha, Gilmara mostrou na prática a essência daquilo que quis dizer ao finalizar o último e-mail que me enviou:

"... mas somos felizes! Deus sempre conforta nossos corações e nos ensina a lidar com as dificuldades."

Imagem 1 - montagem com Gimp, utilizando fotos do perfil do Facebook de Gilmara;
Imagem 2 e 3 - fotos do perfil de Gimara no Facebook;
Filme 4 - Youtube.

Abraços!
Bira.