terça-feira, 9 de julho de 2013

Bateria Arriada na Maratona mais Bela que Nunca

(...) Uma buzina soou anunciando o início da corrida e aquela gente se moveu. Abriram-se vãos para a passagem dos raios dourados, fazendo a sombra inquieta de cada corredor brincar, deslizando-se nas costas do corredor à sua frente (...)

Gif de imagens dos corredores na Praia da Reserva - Bira.

Bateria Arriada Na Maratona Mais Bela Que Nunca

Amigos!

Na subida da Av. Niemeyer o iPhone que eu usava para filmar os corredores apagou. Acionei o botão liga-desliga e nada... a telinha continuou preta e eu pensei: "Será que o meu suor penetrou no equipamento e o queimou?" Parei de correr, tirei os óculos escuros e percebi que o visor apagado exibia a imagem de bateria fraca. "Não é possível!" - falei comigo mesmo, sentindo uma vontade repentina de abandonar da prova.

Até ali, KM 26 da Maratona do Rio, eu revezava entre correr e filmar os atletas para compor um clip e publicar neste blog. Fiz disso a minha motivação para correr, já que não tinha esperanças em melhorar meu record, sequer chegar perto dele. Permaneci alguns instantes imóvel. Desapontado ao ver  meu sonho se atirar do magnífico precipício que margeia a avenida e se espatifar no rochedo, lá embaixo, onde as ondas do mar também se chocam. Escorei-me no parapeito e observei, do alto, o movimento deslumbrante das águas azuis. Iluminada pelo sol, a Praia de São Conrado exibia uma beleza do tamanho de meu desapontamento por não poder registrá-la. Optei em continuar correndo, mesmo sabendo que a frustração me perseguiria até a linha de chegada. Como reinventar meus planos e refazer o ânimo, por mais 16 quilômetros, até a Aterro do Flamengo?

Antes Disso...

Comecei a treinar para esta maratona em março, ainda ressentindo de lesão que se arrastava por seis meses. Cansei de ficar parado, esperando pela cura de uma suposta fascite plantar. Cinco kg acima do peso, comecei a revezar treinos com fisioterapia. Rolava o pé sobre uma garrafa pet congelada, todas as noites. Em geral corria dia sim, dia não, até chegar aos longões de 30 km. Não foi nada fácil! Diversas vezes pensei que não conseguiria, mas insisti na rolagem sobre o gelo. Minha confiança em completar a prova oscilava de acordo com as dores do solado no pé. Meu sacrifício foi compensado pela perda de peso enquanto o tempo passou, até o dia da prova. Cheguei à largada prevendo uma corrida de quatro horas. Nada animador para mim que almejo completar uma maratona abaixo de 3:20 h. Correr e filmar, no entanto, seria o coelho da cartola.

Preocupado em colher imagens, encontrei poucos amigos na concentração. Passei pelo guarda-volumes, desisti da  emperrada fila do xixi e quando dei por mim, faltava muito pouco para a largada. Entrei no corredor por um atalho lateral e me juntei à massa. Às sete e trinta da manhã, a compressão de pessoas não deixava o brilho amarelo do sol atingir o asfalto. Uma buzina soou anunciando o início da corrida e aquela gente se moveu. Abriram-se vãos para a passagem dos raios dourados, fazendo a sombra inquieta de cada corredor brincar, deslizando-se nas costas do corredor à sua frente. No balé de sombra e luz, todos eram tela e elementos.

Mesmo despreocupado com meu desempenho, ultrapassei as placas de quilometragem a cada cinco minutos. Apesar das paradas para filmagem, estava tendo um regular desempenho (5x1). À medida que o sol se elevava os trechos de praia, à direita, apresentavam diversos brilhos e versões. Do Pontal à Barra, foi possível correr e colher as imagens. Não me dei conta do baixo nível de carga do iPhone em nenhum momento e o pior: a minha "própria bateria" também estava prestes a arriar mais à frente.


O posto de hidratação fornecia Gatorade em saquinhos plásticos - Bira.

Tudo começou à altura do km 20. Uma vontade, até então controlável de ir ao banheiro não me preocupou de início. Se necessário, eu poderia recorrer aos sanitários dos postos de salva-mar da Barra. Começava assim minha superação sobre a situação que ficou crítica no Elevado do Joá, quando uma forte cólica quase me fez parar. A necessidade de ir ao banheiro era urgente. Aparentemente eu não tinha saída, até chegar à praia de São Conrado - três quilômetros à frente. Quando a dor ficou insuportável, um inesperado canteiro das obras do elevado surgiu como surgem os oásis. Graças a Deus não era miragem!... Naquele lugar improvável havia banheiro!

Minutos depois, saí dali aparentemente refeito. Agradeci aos céus e ao vigia do canteiro, antes de voltar à corrida. Retomei o foco e as filmagens. Percorri a Praia de São Conrado e na panorâmica subida da Niemeyer, num golpe fatal, o celular apagou...

Correr Para Esquecer

Por mais belo que fosse o cenário, eu não ficaria prostrado na sinuosa avenida olhando o mar, em plena Maratona do Rio. Só me restava correr e fui em frente. Fiquei triste em não poder registrar a platéia que se concentra no Leblon para aplaudir os corredores: "Que droga!... Como eu  posso ficar chateado num dos momentos mais felizes da prova?" - pensei - "Tudo bem, vamos em frente completar a corrida!" - reagi, sem saber que em Ipanema uma nova cólica me esperava. Desta vez fui salvo pelo banheiro do posto, mas quando voltei à corrida estava apenas trotando. Em Copacabana um amigo se aproximou, justamente quando eu pensava em caminhar. Na Avenida Princesa Isabel, no entanto, eu sucumbi ao cansaço e comecei a andar. Andei pelo túnel, pela enseada e pelo começo do Aterro. Andei pelo corredor de chegada. Cruzei a linha de chegada andando e a bendita cólica voltou - como quem deseja ver a medalha que ganhei. Pela terceira vez fui ao banheiro, agora em um posto na Praia do Aterro. Senti um pouco de tontura amainada pela ducha que tomei. Refeito, bebi água de coco fui pra casa descansar.

Só consegui sentir uma parca sensação de vitória à noite, quando acordei e me lembrei de todo o sacrifício aqui descrito. Mas outras maratonas virão!...

A despeito das minha aflições, a Maratona do Rio estava mais bela que nunca!

Abraços!
Bira.




7 comentários:

  1. Bira e a fascite plantar? 6 meses e não conseguiu curá-la e voltou a treinar forte? Fez quais tipos de tratamento? Incluiu acupuntura?

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  2. Sidnei, eu fiz rolagem sobre garrafa pet congelada... só isso. Treinei o suficiente para correr poder correr a maratona, sem forçar muito porque não dava.

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  3. Bira, corri essa maratona com um início de fascite plantar também. Uma semana antes fiz uso de medicamente (Diprospan-dose única) que melhorou bastante minhas dores. Mas correr sem pisar com vontade no chão me causou uma caimbra terrível mais para o final. Bem foi na raça, realmente a maratona do Rio estava linda como sempre, apesar de, minha opinião, uma organização a desejar. Parabéns pela garra e pelo ótimo depoimento.

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  4. Por instantes, esqueço que és corredor...
    Treino, troto, e corro 7/1, em cada frase que nos reserva para todos nós...
    É mt. gostoso, ler e ver seus pensamentos.....
    Parabéns por conciliar os "Dons"., de Poetizar, Interpretar, e Correr, suas aventuras., seus caminhos á fora., e tudo que o Nosso Pai Criador fez para todos nós!!
    Crisrunner.Sul Carioca.Crisrina

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  5. Parabéns Bira pela determinação.Adoro ler seus relatos .Também tive uma fascite e curei colocando o pé na água quente três vezes ao dia. O gelo comigo não deu certo.

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  6. Esse anônimo aí sou eu Dori Lemos

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  7. Obrigado, Cris, Márcia e Dori pela visita e pelo registro... Esses dois últimos anos têm sido difíceis para mim por conta das lesões. Ano passado fiquei de fora da Maratona do Rio e esse ano quis fazê-la de qualquer jeito. As maratonas são especiais mas é preciso estar 100%. Às vezes penso em não fazer maratona (correr só até Meia) pois seria mais saudável... Só que esse pensamento me dá uma tristeza danada!... Ainda quero fazer outras maratonas e correr abaixo de 3:20h, pelo menos de 3:25h... Não estou tão velho assim!

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