As Estações se revezaram no tempo, fazendo com que a velhinha alimente gatos e ignore gente.
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Com o pensamento de que seria boa ideia retratar os gatos do Campo de Santana, passei lá na hora do almoço. Fazia anos que eu não ia ao local onde pensava estar repleto dos felinos. Na hora do almoço, o sol castigava quem não se abrigasse sob as árvores. Em princípio, vi pouquíssimos gatos e pensei: "... Mas o parque é imenso... Eles devem estar escondidos ou espalhados". Escondi e espalhei minha decepção tirando fotos, a começar pelas Quatro Estações - estátuas de mármore que circundam o monumento central.
Avistei uma velhinha magra se curvando para alimentar três gatos, ao lado da casa da Fundação Parques e Jardins. Aproximei-me dizendo "boa tarde" e ela sequer reagiu. Pensei que fosse surda e repeti a saudação, aumentando a voz, umas três vezes. Cheguei a me curvar para entrar no seu campo visual, e nada: Ela sequer me olhou... Demorou um pouco para eu perceber que ela sabia que eu estava ali, mas não queria me dar atenção. Afastei-me logo que a percebi fugindo apressada e sendo seguida pelos bichanos, aprofundando, assim, minha decepção.
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Patos selvagens e garças se expõem, enquanto gatos e gatunos se ocultam no histórico parque.
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Antes que o meu horário de almoço estourasse, abordei um vigilante e perguntei se ainda havia muitos gatos ali . Ele disse que sim, mas não tinha ideia de quantos:
- Melhor passar de manhã, quando os voluntários vêm alimentá-los - esclareceu - é quando os bichos aparecem. Mas a maioria deles já foi levada para o gatil da Praça Onze... - e continuou: - Os que sobraram estão espalhados pelo parque... Mas tome cuidado, não vá procurar gatos pelos cantos do parque ou vai ser assaltado.
- Então quer dizer que existe outro tipo de gato por aqui? - Fiz graça.
- Com certeza!... Se der bobeira eles assaltam em grupo... Aí, a vítima me procura pensando que eu sou guarda municipal. Eu explico que minha função é tomar conta do patrimônio e oriento procurar uma delegacia... Aqui tem roubo a semana toda!
Enquanto ouvia o vigilante, forcei os olhos e percebi alguns vultos camuflados pela distância... Estava explicado. Fiquei de voltar na manhã do dia seguinte, mas quando acessei à internet vi no Google que o assunto "Gatos do Campo de Santana" já estava muito batido e eu, muito desinformado.
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Mesmo assim voltei na manhã seguinte, quando meia dúzia de militares e bombeiros corriam pelas ruelas do local. Às 8:30 h já parecia ser tarde para encontrar os alimentadores de gatos, a não ser um senhor que ao invés de ração, colocava restos de comida para três filhotes raquíticos. Pensei conversar com ele, mas desisti - prejulgando que ele não teria muito a acrescentar.
Sobre o lago verde o céu se abriu esparramando raios de sol. Patos selvagem devolviam a forte luz, na brancura das penas que o lodo não conseguia macular. Surpreendentes e incontáveis garças desabrochavam como flores imensas nas copa das árvores... Tudo isso no Centro do Rio - um pedaço de verde em meio ao concreto. Local onde os gatos se escondem e os gatunos também.
Ainda pensei voltar, no dia seguinte, para ouvir um pouco da história de Seu Adilson, que tem setenta anos e há dez, alimenta os gatos abandonados... mas o assunto está batido (se lembra?) então vou ficar por aqui.
Abraços!
Bira.
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