sexta-feira, 4 de abril de 2014

Surreal

(...) O cachorro, mediador do debate, sumiu, mas logo foi encontrado dormindo debaixo da mesa... Corta!... O programa foi interrompido pelos comerciais (...)

Cachorro falante: Colagem de recorte de imagem da internet com paint e gimp.

Surreal

Amigos!

"Se você pudesse voltar no tempo faria tudo igual?"

Quando o dia amanheceu, essa pergunta pairou no ar e na cabeça das pessoas pelos quatro cantos do mundo. Propalada em ecos ela deu voltas na Terra feito satélite. Passou perante meus olhos e invadiu meus ouvidos, e me deixou pensativo. Agora mesmo, a pergunta passou pela China onde ousou afrontar o Rebelde Desconhecido - aquele estudante que enfrentou tanques de guerra na Praça Celestial, em 1989. E o herói anônimo, que hoje cursa a meia idade, tremeu diante da pergunta como não havia tremido diante dos carros de combate:

"Se você pudesse voltar no tempo faria tudo igual?"

-- SIM!... Eu faria tudo igual, sem titubear!...

Responderia o chinês impetuoso e orgulhoso, mas desistiu a tempo, já que a ação do tempo hoje faz tudo ficar diferente, então ele disse simplesmente:

-- Sim... Eu faria tudo igual...

Foi uma resposta opaca, despida de força e verdade. Uma resposta que seria facilmente esmagada pelas esteiras de ferro de um tanque de guerra.


Reportagem da TV Globo relembra o fato histórico... Onde estaria este homem, hoje?


Em São Paulo, essa pergunta foi tema de um debate na televisão. Na mesa, os debatedores convidados eram um empresário e um mendigo, mediados por um cachorro - é isso mesmo que você está lendo: O apresentador do programa era um cachorro, e daqueles vira-latas!... Então os convidados começam a responder a pergunta:

"Se você pudesse voltar no tempo faria tudo igual?"

- E daí, o que importa?... Fatos consumados não mudam! - Disse o mendigo impaciente e raivoso, embora quisesse exibir um sorriso.

- Mas se não mudam os fatos, muda-se a interpretação - rebateu o empresário no melhor estilo auto-ajuda-financeira - Fatos ruins, na verdade, são o-por-tu-ni-da-des para quem faz sucesso!...

A reação do mendigo foi despejar na garganta, em apenas um gole, todo o conteúdo do copo d'água à sua frente. A careta que fez deixou claro que o líquido não era água e sim cachaça. O cachorro, mediador do debate, sumiu, mas logo foi encontrado dormindo debaixo da mesa... Corta!... O programa foi interrompido pelos comerciais...

...

E a insaciável pergunta seguiu seu trajeto pelo mundo:

"Se você pudesse voltar no tempo faria tudo igual?"

Al Gore
- SIM!... Eu faria! - respondeu Al Gore, em Nova Iorque, exibindo seu livro "Uma Verdade Inconveniente" - em uma das mãos. O best-seller, sobre o aquecimento global, foi sua volta por cima após a derrota para Bush, na eleição presidencial de 2000.

Julian Assenge
- NÃO!... Muitas coisas eu faria diferente! - respondeu Julian Assange, o fundador da WikiLeaks, perseguido por divulgar informações confidenciais do governo americano, a começar pelo bombástico vídeo Assassinato Colateral, onde um helicóptero americano dispara brutalmente sobre 12 civis desarmados na guerra do Iraque. De seu refúgio na embaixada do Equador, em Lodres, Assange completa o raciocínio: "Não suporto pessoas que dizem que nunca fariam nada diferente. Isso significa simplesmente que não aprenderam nada com suas experiências".*

Mas a pergunta ecoou muito além de São Paulo, Pequim, Nova Iorque ou Londres. Muito além das celebridades, ela afetou pessoas comuns de línguas estranhas e diferentes culturas.

"Se você pudesse voltar no tempo faria tudo igual?"

É uma pergunta recorrente ao longo dos séculos, ou seja: Se você realmente voltasse no tempo, a encontraria no passado, como tal. E mesmo que você mudasse os fatos, não mudaria a pergunta. Sua ânsia pelo controle lhe conduziria ainda mais para trás, em busca de reverter outros fatos. E assim, sucessivamente, até o limite dessa vida - na sua concepção - ou até mesmo em vidas passadas que existam por conta da fé. Mudar fatos passados seria um mergulho sem fim!

Muito melhor é seguir o exemplo do vira-lata, apresentador do debate, que ignorou a pergunta e as moscas ao redor de sua cabeça e foi cochilar debaixo da mesa.

Abraços!
Bira.

* A resposta de Julian Assange é real e faz parte da sua entrevista  à Revista Rolling Stones, fev/12. A "resposta de Al Gore", no entanto, é fictícia. 




Um comentário:

  1. Olá Ubiracy.
    Se eu pudesse voltar no tempo faria tudo que eu fiz até agora de uma outra forma melhorada e tentaria não errar, por que esta não deu certo.
    Abraços.
    ClaraSol

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