Audio Post: O Saci Correu Comigo!
Amigos!Seguindo as tendências, BiraNaNet começa a publicar postagens com áudio e texto, para facilitar a acessibilidade em dispositivos móveis, bem como daqueles que têm dificuldade para enxergar. São mais de 100 crônicas que vestirão essa roupagem, a começar por esse raro momento de comédia da postagem "O Saci Correu Comigo!"... Clique e ouça!... ou se quiser, leia!
O Saci Correu Comigo - Texto
Setembro de 2010. A baixa umidade já tinha atingido seu ponto mais crítico. As matas secaram e ficaram sujeitas ao incêndio espontâneo. O país ardeu em chamas nas manchetes dos jornais. A fuligem maculou o céu e os pulmões. O brasileiro impotente, assistiu a tudo na tela da TV ou na janela de um ônibus que percorre a Rodovia Presidente Dutra.Enquanto isso eu treinava, quase diariamente, sem descuidar de uma boa hidratação. Meu foco era correr a Maratona de Buenos Aires no mês seguinte. Para aliviar os joelhos, eu fazia dois dias de treino na grama semeada no início daquela rodovia - o Trevo das Margaridas, em Irajá. Duas vezes por semana, eu cumpria 13 quilômetros em ritmo puxado, dando 20 voltas no grande canteiro da rotatória.
Quando o Saci Surgiu
Quando eu cheguei para correr na grama seca, era manhã de transito lento na Avenida Brasil, ali ao lado. Logo vi que não havia sinal de incêndio no gramado e pensei: "Ainda bem... Pelo visto, ninguém atirou bitucas de cigarros aqui!". Depois disparei o cronômetro e comecei a correr com toda atenção, embora conhecesse bem aquele piso irregular. Um sol cada vez mais forte seguia seu curso para o centro de um céu sem nuvens. Perto dali, as obras do Shopping Via Brasil seguiam a toque de caixa. Fiz o mesmo, levantando folhas secas de grama a cada passada. Tudo estava normal até a volta de número 13, quando uma lufada de vento criou um redemoinho ao meu lado. Folhas mortas ressuscitaram e se ergueram do chão numa dança infernal. Em instantes me vi envolvido no confuso balé de poeira, protegendo os olhos com as mãos. Meu coração, já meio acelerado pelo movimento, disparou de vez com o susto. Senti um arrepio e pensei:-- É Saci Pererê!... Um redemoinho que surge do nada é artimanha do Saci!
Durou pouco para a nuvem de poeira dissipar da mesma forma que surgira. Abri de vez os olhos e percebi que estava eufórico, mas outro pensamento provocou novo arrepio:
-- Será que o Saci está correndo comigo??
Já ia me benzer para exorcizar o espírito travesso, mas refleti:
-- Deixa o neguinho!... Ele deve estar fugindo dos incêndios e das queimadas que assolam o Brasil, nesse momento. Durante a fuga ele me viu correndo e feliz nesse gramado seco, porém incólume, e se chegou... Então vamos, neguinho!... Vamos dar uma volta para você sentir como é bom ser corredor!...
Pensei isso e gargalhei feito uma Fafá de Belém sem peitos. Gargalhei sadicamente ao pensar no esforço que o perneta fazia para me acompanhar. Além do mais, de cachimbo na boca!... Vê se pode?... Não, neguinho!... Melhor parar!... Paramos. Chamei o Saci para dar uns conselhos:
-- Vem cá meu amigo Saci, deixa eu te explicar... Sinto muito mas você não pode ser corredor!... Primeiro, você teria que abandonar esse cachimbo, trocar a carapuça por um boné e instalar uma dessas próteses modernas onde não tem perna... Em suma: Acabaria o Saci!... Sim, eu sei... Sei que as matas que você habita estão em chamas... Sei que chiitas religiosos demonizam você e o nosso folclore... Sei que o Comércio pouco se lixa, quando importa o Halloween... Aguenta as pontas!... As chuvas virão restituindo as matas e a sua alto-estima! Volte a ser Saci!... Você é nossa referência de brasilidade!
Neguinho Saci me ouviu e se foi. O ar ficou sereno eu completei meu treino. Fechei os 13 quilômetros em 59 minutos, embaixo do sol forte. Tive um sentimento de missão cumprida, não pelo treino, mas por ter encontrado o Saci e não querer convertê-lo ou exorcizá-lo. Por via das dúvidas, no entanto, pensei:
-- Quer saber?... Vou continuar correndo de manhã!... Vai que correndo à noite eu depare com a Mula Sem Cabeça, que tem labareda de fogo no lugar das ventas?... Credo em Cruz!...
Abraços!
Bira.
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