quarta-feira, 31 de maio de 2017

Histórias de Medalhas - Corrida da Ponte'11

Amigos!

Medalha da Corrida da Ponte sobre imagem de internet. Bira, 22-05-17.

Fechei os olhosmeti a mão na caixa de medalhas e sorteei a medalha da Corrida da Ponte 2011... "Que bom!... Vou começar esta série descrevendo uma corrida que deixou saudades!" - pensei... Então, Vamos conferir essa história?

Histórias de Medalhas - Corrida da Ponte'11

Confesso que eu trato mal minhas medalhas de corrida. Elas não ficam expostas em portas-medalhas, mas jazem nas gavetas, feito defuntos no cemitério. Isso até pode ser descuido, mas não é desfeita: volta e meia eu as visito, como o familiar que põe flores na sepultura de um ente. É que eu sei o quanto valeu cada corrida, nem tanto pelas provas, mas pelos [treinos, amigos, viagens...] que fiz. Fiz viagens marcantes, em algumas sequer peguei ônibus ou avião: Bastou-me calçar os tênis e correr pelo bairro.

Atrás de cada medalha, uma história; atrás de todas, uma vida...

BARCA

Em maio de 2011 fui fazer uma das provas mais cobiçadas da época: a Corrida na Ponte. Cruzar a baía correndo era, no mínimo, excitante para oito mil atletas. A maioria saiu do Rio e pegou a barca, na Praça XV, tão logo o sol tinha nascido. Repleta de corredores, a embarcação ficou em festa. Muita gente se reencontrou naqueles 20 minutos de travessia. O burburinho causado competia com o chacoalhar das ondas. As águas do mar faziam tudo se mover, menos ela: A Ponte! Aquele monumento era um gigante adormecido sobre a baía, assustando uma corredora iniciante, que ficou imaginando coisas e fez a pergunta:

-- Será que venta muito e a Ponte fica balançando no vão central?

Desembarquei, em Niterói, sem saber exatamente que direção tomar, mas isso não foi necessário. Bastou seguir o fluxo dos corredores, sem perguntar, que em poucos minutos cheguei ao Caminho Niemeyer - local da largada. Fiquei surpreso com a beleza do Teatro Popular, encontrei mais amigos e tirei fotos. Conversei um pouco, antes de entrar no grid e depois largar.

PONTE

O público festejava os corredores nos primeiros dois quilômetros, percorridos nas ruas de Niterói. O calor da plateia não deixou que eu notasse o calor do ambiente. Foi quando cheguei à Ponte e atravessei o pedágio que o sol bateu forte nos meus ombros. O vento, no entanto, não estava ali para soprar. Nem no temido vão central ele soprou, para alívio da corredora que estava com medo na barca. Vi gaivotas plainando e pensei: "Como conseguem sem vento??" Vi navios ancorados, submersos na névoa que se espalhou sobre as águas.

Um resfriado mal-curado resolveu me atacar, bem no meio da Ponte. Senti meu peito congestionado e não tive energia para acelerar. Comecei a sofrer, ainda no meio da prova, mas prossegui. Foi duro ver corredores me ultrapassando, com paces inferiores aos meus ritmos de treino. Quase parei para caminhar um pouco (acho até que caminhei, não me lembro bem). Mesmo assim venci os 14 km de Ponte. Sem descer do viaduto, migrei para a falecida Perimetral - elevado que ligava a Ponte ao Aterro. Meu ritmo lento recuperou as forças e eu até pensei em acelerar, mas não valia à pena - eu já tinha perdido muito tempo. Sem pressa, desembarquei da Perimetral nas proximidades do Aterro - local de chegada - e completei os 21,4 km da prova.

ATERRO

Depois da corrida, ouvi muita gente reclamar do clima abafado. Enquanto isso, o sol assumiu seu lugar no meio do céu. Seu brilho afugentou a névoa e restaurou o azul. As gramas do Aterro verdejaram, como sempre, embaixo dos tênis coloridos e cansados. Ao lado do pódio, um locutor animado anunciou os resultados e ainda saudou um ou outro corredor que chegasse. Os chuveiros da dispersão eram doces, e os corredores eram crianças, na disputa.

Mais gente se encontrou, e se abraçou, e falou da prova, e mostrou marca do tênis, e falou de tudo que os corredores falam na Ponte da Vida.

Abraços!

Bira.

sábado, 13 de maio de 2017

Minha Última Maratona

Minha Última Maratona

gif com imagens de internet - Bira

Amigos!

Ainda falta um mês para a Maratona do Rio, mas eu resolvi consultar a minha bola de cristal, viajar no tempo e antecipar o relato da prova futura: MINHA ÚLTIMA MARATONA (vai ser assim): 

Pontal do Recreio - Domingo, 18 de junho de 2017 - Maratona do Rio:

FRISSON

O dia ainda está clareando e engolindo as estrelas do céu do Pontal. Há um movimento incomum de carros de passeio, vans e ônibus no entorno da Avenida Lúcio Costa. Eles querem despejar maratonistas afoitos para a grande prova. Pouco a pouco, o asfalto interditado está sendo encoberto pelos tênis que vão e vêm, em todas as direções. Falta mais de uma hora para a largada, mas já tem corredores se aquecendo na ciclovia às margens da praia. Eles parecem antecipar o exercício para fugir do frisson indisfarçável em seus olhares. Em repentes, a quantidade de atletas aumenta... Até parece que eles estão brotando no asfalto, que coisa!...

VENTO

Clareia mais um pouquinho e os coqueiros fincados na praia resolvem chiar e dançar com o vento. Este dançarino invisível, há pouco, ainda brigava com as ondas do mar. O incansável vento, dançarino e brigão, atravessou  a noite tentando cobrir de areia o calçadão. Ele soprava rasteiro, formando um imenso tapete de grãos migrantes, que alisavam a superfície sorrateira da praia e apagavam as pegadas do dia. Agora, o vento tecelão se faz amante e acaricia as pernas dos corredores, na pré-largada. Sinto seu frio eriçando minha pele. Penso:

-- Esses beijos gelados do vento seriam muito mais úteis no meio da prova, quando o sol tomasse pino...

GRID

Paro de pensar e observar o cenário. Coloco meus pertences no saco de treino e deixo no guarda-volume. Prendo a respiração, fazendo careta, para urinar no banheiro químico. Tiro as últimas selfies com os amigos e troco votos de boa prova. Confiro que faltam vinte minutos para a largada e me posiciono, com os demais corredores, entre as grades.

DRONE

Clareou de vez, mas o sol ainda boceja um brilho amarelo e oblíquo sobre o Recreio. A luz solar, no entanto, mal consegue tocar no chão dos maratonistas espremidos, aos milhares. Caixas acústicas espalham música eletrônica no ar, espantam os pássaros e abrem caminho para o voo tranquilo de um drone. Neste momento o locutor anuncia: "A festa vai começar!".

LARGADA

Soa a sirene, disparam de vez os corações! Quem está na frente arranca. Quem está no meio, feito eu, mal pode caminhar ainda. Apoio as mãos no corredor da frente, enquanto o detrás se apoia em mim. Ergo o pescoço, fico nas pontas dos dedos, quero avistar o pórtico, 50 metros à frente... Não dá. Logo, é possível andar mais rápido, depois trotar e por fim: correr!... Liberto-me, transpasso a linha da largada!

PRAIA DA RESERVA

Tudo são sorrisos no começo da prova, feito um novo namoro, um novo emprego ou uma nova vida. O frescor da manhã ainda perdura às margens da Praia da Reserva. Ali, uma passarela de asfalto ousou separar a areia, da mata. Belezas distintas se exibem à esquerda ou à direita de quem corre. O silêncio da mata se opõe às pancadas das ondas do mar. O ambiente se faz lúdico, mágico e energético. Os corredores se fazem incansáveis!

APLICATIVO

O chão da Barra passa depressa embaixo das solas dos meus tênis. Já estou na Praia do Pepê, onde, mais cedo, foi dada a largada da meia-maratona - prova paralela. Ninguém que tivesse treinado como eu, sentiria cansaço na metade da prova. A voz do aplicativo de celular anuncia: "vinte-e-um-quilômetros-em-uma-hora-quarenta-e-cinco-minutos...". Simplificando, basta manter o ritmo e completar a prova em 3:30 h, mas eu sei que não é bem assim...

BEBÊ

Saio o Pepê e subo um elevado. Entro nos túneis do Joá, onde canhões de luz e som animam os corredores, rompendo o silêncio e a escuridão. Saio do túnel e o azul do céu de São Conrado inunda meus olhos. Desço o elevado, curvo, para transitar às margens de outra praia. meus companheiros de jornada já estão mais dispersos. Quando passam, provocam sorrisos de um bebê em seu carrinho. Bebo um isotônico, repondo as forças, para subir a Avenida Niemeyer. O perigo, no entanto, está na descida daquela pista: é preciso conter a vontade de soltar o freio e gastar energia. Já cometi esse erro, duas vezes, e vi meu ritmo despencar no Leblon. Agora, tenho calma, e o Leblon me recebe com os aplausos da plateia.

COPACABANA

Chega a hora da verdade: Copacabana. Cada posto de salva-mar faz uma contagem regressiva para a chegada: No Posto 6, faltam seis quilômetros, no Posto 5, idem e idem... Até que dobro a Avenida Princesa Isabel, faltando 2. A chegada, no entanto, nunca esteve tão longe pra mim. Luto para manter o ritmo, em vão. Reviro meu cinto de utilidades em busca de uma bisnaga de gel de carboidrato. Minhas passadas encurtaram e a sola do tênis, às vezes, arrasta no chão.

-- Bira, você devia ter treinado mais! - repreendo a mim mesmo.

-- Paciência, não deu! - respondo-me, agressivo.


CHICOTADAS

Paro de brigar, no pensamento, e chego à enseada de Botafogo. Essa curva me parece ser a mais extensa do mundo! A um quilômetro da chegada e eu não tenho condições de admirar o Pão de Açúcar, tampouco os veleiros brancos que flutuam na marola da baía, refletindo a luz do sol. Esse sol orgulhoso que exibe a cidade enquanto dá chicotadas em mim. Ele ainda tenta me abater, mas nessa altura já sabe que perdeu:

São onze e vinte e eu concluo a maratona com 3 h e 44 min... Não é grande coisa, mas é!... É a Minha Última Maratona!

Abraços!

Bira.