segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Um Pedaço de Asfalto para Fazer meu Longão...

Fritando tênis no asfalto - recorte de imagens da internet... com Gimp.

Um Pedaço de Asfalto para Fazer meu Longão... 

Amigos!

Tudo que eu preciso é de um pedaço de asfalto, rente ao meio fio, para fazer meu longão...

Não faço questão de correr rente ao mar, entre o sopro da brisa e o barulho das ondas. Pode ser aqui mesmo, na Vila da Penha, rente ao valão da Oliveira Belo e a estridência do carro do ovo. "São 30 ovos por 10 reais", 30 minutos por meia dúzia de quilômetros... Nada excepcional, ninguém famoso passando tanto quanto o meu passar. Às vezes os carros teimam em não me ceder espaço que eles próprios disputam entre si. Às vezes, tenho que correr nas calçadas, repletas de crianças, idosos, camelôs, sacos de lixo e lixo fora do saco. Diminuo a velocidade, quase paro. Passo em frente ao sacolão, que instalou uma barraca no meio do caminho, vendendo ovos: "São 30 por 10 reais"... E eu completo mais 30 minutos de treino em 10 quilômetros de percurso.

Tudo que eu preciso é de um pedaço de asfalto, rente ao meio fio, para fazer esse longão... 

Não faço questão de correr em clima ameno, entre as seis da manhã e o gorjear dos pássaros. Tem vez que eu só posso correr por volta das 11, hora que é possível "fritar ovos no asfalto". Aqui, onde eu corro, 2017 foi o Ano do Carro do Ovo: Tenho 30 ovos na cartela e estou a 30 quilômetros do mar. Corro onde brisa marinha sente medo de soprar. Ao longe, vejo os morros que deveriam verdejar, mas têm a cor dos tijolos das paredes sem reboco. Corro acuado pelo tráfego, dependendo de onde passar, pelo tráfico. O movimento o meu corpo não se compara ao "movimento" ilegal das drogas. É que os efeitos das endorfinas, no meu cérebro, não destroem minh'alma. Sou adicto do bem. Não me ocupo em saber do preço das drogas no morro, saber o preço da cartela de ovo é suficiente. No mais, a beta endorfina é de graça!

Tudo que eu preciso é de um pedaço de asfalto, rente ao meio fio, para fazer esse longão...  

Descobri que a chave da cidade foi talhada no solado dos tênis. Descobri que quando amarro, ali, meus pés, estou ganhando livre acesso para todos os lugares. Sinto a liberdade fluir de baixo para cima, subindo pelas pernas, cruzando o peito, para contagiar minha cabeça no contra-fluxo do suor.
Percebo que a corrida também faz de mim uma cidade. Minhas veias são minhas vias, ruas, capilares condutores de energia. Acesso a mim mesmo. Sinto prazer, abro um novo sorriso e meu olhar cintila pedaços da alma... Estou renovado e nem dou conta que estou correndo, até que passa outro carro estridente do ovo. Desligo o piloto automático, ouço o aplicativo dizer que já completei 20 quilômetros do trajeto.

Tudo que eu preciso é de um pedaço de asfalto, rente ao meio fio, para fazer esse longão... 

Descobri que a chave do céu não tem forma, tão pouco se situa. Descobri que quando sonho, e corro, o céu projeta meus desejos. Passo a correr entre um rebanho de nuvens-ovelhas, na imensidão do azul. Já não estou no próprio corpo encharcado de suor, pois escapei no seu vapor. A corrida faz com que eu vire nuvens-ovelhas... Hei de chover no fim da tarde, ou amanhã, ou quando meus sonhos se tornarem realidade. Fluindo no céu, vejo aviões cruzarem por todos os lados. Um deles descerá no Aeroporto do Galeão, a poucos quilômetros de onde meu corpo ainda corre. Descerei junto com ele e re-encorporarei em mim mesmo para terminar o meu longão.

Tudo que eu preciso é de um pedaço de asfalto, rente ao meio fio, para fazer esse longão... 

Completo os 30 quilômetros de treino, um para cada ovo da cartela do carro. Enquanto isso, o Ano do Carro do Ovo está chegando ao fim... 2017 foi um dificílimo longão para tanta gente, neste país. Tenho a sorte de ser corredor e poder suplantar os problemas no próximo treino. Entro em uma padaria, abro a geladeira para pegar um isotônico. Saco do bolso uma nota de 10 reais e dou ao caixa. Neste momento, passa o Carro do Ovo anunciando seu produto e eu tenho noção do valor daquela nota.

Abraços (de feliz ano novo)!

Bira.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Um Km de Cada Vez na Maratona do Rio

Na altura do KM 25, em São Conrado, eu ainda corria no ritmo de 5x1 - na foto de Gleice Medeiros (editada).

Um Km de Cada Vez na Maratona do Rio

Amigos!

De repente, a minha coxa enrijeceu e recebeu uma fisgada. Comecei a mancar e proferir palavrões, em pleno quilômetro 30 da Maratona do Rio. Nem quis saber da plateia que animava os corredores e também me aplaudia. Não tive a mesma elegância que tem o Leblon, bairro onde eu pisava. Espumei de raiva, feito as ondas do mar do Posto 12. Desferi socos de revolta no ar:

-- Isso não vai acabar assim!!... - dramatizei.

Fiquei atônito, interrompi a corrida e caminhei por poucos metros. Tentei colocar os pensamentos em ordem, quando deparei com um ponto de hidratação. Automaticamente, peguei um punhado de gelo e esfreguei na dor. Logo, percebi que aquele gesto era inócuo e, num impulso, voltei a correr. Porém corri devagar, torcendo para a coxa se estabilizar e não falir de vez (quem sabe?)... Naquele momento eu dava um passo de cada vez, e assim fui conseguindo. Depois tentei me desligar do problema. Ainda faltavam 12 quilômetros para a chegada, no Aterro, mas eu nem queria pensar nisso também...

Cinco Horas Antes...

O alarme irritante do celular anunciou que eram quatro da manhã. Despertei, e o meu frisson não deu vez à rotineira preguiça matinal. De imediato, pensei nos milhares de corredores que também acordavam, naquele momento, sentindo o mesmo frisson pré-maratona. Só que tinha um problema: eu estava em Irajá, muito longe da largada e sem nenhuma carona prevista. Tratei de me arrumar, enquanto toda família dormia na segurança do lar. Do lado de fora perdurava o medo das ruas escuras, desertas e frias, enquanto o sol não nascesse. Esperei dar cinco horas para encarar esses fantasmas até a estação do BRT.

Largada da Prova sem Ver Meus Amigos...

Cheguei no Pontal às 7:10 h e não tive tempo de encontrar meus amigos. Pouco depois, entrei no corredor de largada sem estar seguro de que eu sequer concluiria a prova. É que tive problemas e, nas últimas semanas, treinei muito pouco. Perdi confiança e condicionamento. Foi culpa da fascite plantar que me contra atacou, acompanhada de outra dor misteriosa nos pés, ainda presente. Até então, eu pensava fazer a prova em 3:30 h e treinava para isso. Depois fiquei sem planos, mas iria correr o quanto desse, do jeito que desse.

Um Km de Cada Vez...

Na largada, milhares de cabeças projetavam milhares de estratégias... Para me animar, eu recorri a um velho bordão de auto-ajuda que adaptei:

-- Vai ser um quilômetro de cada vez... - pensei.

O aglomerado de gente levou três quilômetros para começar a se dispersar. A partir dali, acelerei naturalmente, sem forçar. O aplicativo de corrida, do celular, começou a anunciar paces abaixo de 5 x 1 (cinco minutos por quilômetro). Foi assim que cheguei à metade da prova, na Praia do Pepê, com 1h 44 min. Até ali, apenas meus fones de ouvido sem fio perderam a carga, eu não. Para trás ficaram o Recreio, a Reserva e toda Barra.

Mas eu sabia que não seria tão fácil. As primeiras caretas de cansaço estamparam minha face na Praia de São Conrado. Um pedaço de rapadura que ganhei, no começo da Avenida Niemeyer, devolveu minha energia. A Perda de ritmo, naquela subida, era natural. Mas quando eu comecei a descer, segurei o ritmo para me poupar. Os quilômetros trinta se aproximavam feito um garçom trazendo a conta depois de um banquete e eu delirei:

-- Vou ter que passar o cartão de crédito... Não tenho cash para bancar essa conta!

Eu estava mais ofegante quando cheguei ao Leblon, mas ia bem. Reprogramei o ritmo, do restante da corrida, para 5:20 minutos por km. Se obtivesse sucesso eu poderia completar a prova em 3:40 h... Foi naquele momento que eu senti a fisgada.

Faltando apenas um quilômetro para a chegada, no Aterro - arquivo pessoal editado.

Corrida Bipolar...

A lembrança de um amigo corredor dizendo que "a maratona só começa depois do km 30" me fez pensar:

-- Se é assim, eu já estou começando esta prova lesionado... Será que completo??

Iniciei uma corrida bipolar: Quando a mente fraquejava eu sentia dores nos pés, quando o otimismo perdurava, eu percebia a melhora da coxa e que daria para completar. Em Ipanema, recorri ao primeiro sachê de carboidrato com cafeína. Sorvi outro sachê em Copacabana, quando tive a certeza de concluir a prova. Mantive um trote de a 6x1 para evitar surpresas desagradáveis. Cruzei os túneis e avistei o Pão de Açúcar. Imaginei o pórtico de chegada me esperando, bem como a cama do meu quarto:

-- O ideal seria que ao cruzar o pórtico eu ressurgisse na cama, de onde me levantei às quatro. Algo assim como o transporter de Jornada nas Estrelas!... - pensei isso, com a careca afeta pelo sol.

Mas quando eu cheguei no retão de chegada, esqueci do cansaço. Acelerei em meio à plateia e comecei a vibrar. Esqueci de todas as dores, de todas as dúvidas e das expectativas frustradas. Levantei os braços vibrantes e nem conferi meu tempo de prova. Fiz aviãozinho, mostrei os bíceps e ergui o punho direito. Alguém gritou meu nome e eu sorri atirando beijinhos de pop star.

Ao me aproximar do pórtico, meus olhos não definiam as formas, apenas as cores. Por fim, eles esqueceram de chorar... Desta vez, não derramei nenhuma lágrima além do suor... Cruzei a linha de chegada e, por fim, quebrei! Quebrei na hora certa!

Abraços!

Bira.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Histórias de Medalhas - Corrida da Ponte'11

Amigos!

Medalha da Corrida da Ponte sobre imagem de internet. Bira, 22-05-17.

Fechei os olhosmeti a mão na caixa de medalhas e sorteei a medalha da Corrida da Ponte 2011... "Que bom!... Vou começar esta série descrevendo uma corrida que deixou saudades!" - pensei... Então, Vamos conferir essa história?

Histórias de Medalhas - Corrida da Ponte'11

Confesso que eu trato mal minhas medalhas de corrida. Elas não ficam expostas em portas-medalhas, mas jazem nas gavetas, feito defuntos no cemitério. Isso até pode ser descuido, mas não é desfeita: volta e meia eu as visito, como o familiar que põe flores na sepultura de um ente. É que eu sei o quanto valeu cada corrida, nem tanto pelas provas, mas pelos [treinos, amigos, viagens...] que fiz. Fiz viagens marcantes, em algumas sequer peguei ônibus ou avião: Bastou-me calçar os tênis e correr pelo bairro.

Atrás de cada medalha, uma história; atrás de todas, uma vida...

BARCA

Em maio de 2011 fui fazer uma das provas mais cobiçadas da época: a Corrida na Ponte. Cruzar a baía correndo era, no mínimo, excitante para oito mil atletas. A maioria saiu do Rio e pegou a barca, na Praça XV, tão logo o sol tinha nascido. Repleta de corredores, a embarcação ficou em festa. Muita gente se reencontrou naqueles 20 minutos de travessia. O burburinho causado competia com o chacoalhar das ondas. As águas do mar faziam tudo se mover, menos ela: A Ponte! Aquele monumento era um gigante adormecido sobre a baía, assustando uma corredora iniciante, que ficou imaginando coisas e fez a pergunta:

-- Será que venta muito e a Ponte fica balançando no vão central?

Desembarquei, em Niterói, sem saber exatamente que direção tomar, mas isso não foi necessário. Bastou seguir o fluxo dos corredores, sem perguntar, que em poucos minutos cheguei ao Caminho Niemeyer - local da largada. Fiquei surpreso com a beleza do Teatro Popular, encontrei mais amigos e tirei fotos. Conversei um pouco, antes de entrar no grid e depois largar.

PONTE

O público festejava os corredores nos primeiros dois quilômetros, percorridos nas ruas de Niterói. O calor da plateia não deixou que eu notasse o calor do ambiente. Foi quando cheguei à Ponte e atravessei o pedágio que o sol bateu forte nos meus ombros. O vento, no entanto, não estava ali para soprar. Nem no temido vão central ele soprou, para alívio da corredora que estava com medo na barca. Vi gaivotas plainando e pensei: "Como conseguem sem vento??" Vi navios ancorados, submersos na névoa que se espalhou sobre as águas.

Um resfriado mal-curado resolveu me atacar, bem no meio da Ponte. Senti meu peito congestionado e não tive energia para acelerar. Comecei a sofrer, ainda no meio da prova, mas prossegui. Foi duro ver corredores me ultrapassando, com paces inferiores aos meus ritmos de treino. Quase parei para caminhar um pouco (acho até que caminhei, não me lembro bem). Mesmo assim venci os 14 km de Ponte. Sem descer do viaduto, migrei para a falecida Perimetral - elevado que ligava a Ponte ao Aterro. Meu ritmo lento recuperou as forças e eu até pensei em acelerar, mas não valia à pena - eu já tinha perdido muito tempo. Sem pressa, desembarquei da Perimetral nas proximidades do Aterro - local de chegada - e completei os 21,4 km da prova.

ATERRO

Depois da corrida, ouvi muita gente reclamar do clima abafado. Enquanto isso, o sol assumiu seu lugar no meio do céu. Seu brilho afugentou a névoa e restaurou o azul. As gramas do Aterro verdejaram, como sempre, embaixo dos tênis coloridos e cansados. Ao lado do pódio, um locutor animado anunciou os resultados e ainda saudou um ou outro corredor que chegasse. Os chuveiros da dispersão eram doces, e os corredores eram crianças, na disputa.

Mais gente se encontrou, e se abraçou, e falou da prova, e mostrou marca do tênis, e falou de tudo que os corredores falam na Ponte da Vida.

Abraços!

Bira.

sábado, 13 de maio de 2017

Minha Última Maratona

Minha Última Maratona

gif com imagens de internet - Bira

Amigos!

Ainda falta um mês para a Maratona do Rio, mas eu resolvi consultar a minha bola de cristal, viajar no tempo e antecipar o relato da prova futura: MINHA ÚLTIMA MARATONA (vai ser assim): 

Pontal do Recreio - Domingo, 18 de junho de 2017 - Maratona do Rio:

FRISSON

O dia ainda está clareando e engolindo as estrelas do céu do Pontal. Há um movimento incomum de carros de passeio, vans e ônibus no entorno da Avenida Lúcio Costa. Eles querem despejar maratonistas afoitos para a grande prova. Pouco a pouco, o asfalto interditado está sendo encoberto pelos tênis que vão e vêm, em todas as direções. Falta mais de uma hora para a largada, mas já tem corredores se aquecendo na ciclovia às margens da praia. Eles parecem antecipar o exercício para fugir do frisson indisfarçável em seus olhares. Em repentes, a quantidade de atletas aumenta... Até parece que eles estão brotando no asfalto, que coisa!...

VENTO

Clareia mais um pouquinho e os coqueiros fincados na praia resolvem chiar e dançar com o vento. Este dançarino invisível, há pouco, ainda brigava com as ondas do mar. O incansável vento, dançarino e brigão, atravessou  a noite tentando cobrir de areia o calçadão. Ele soprava rasteiro, formando um imenso tapete de grãos migrantes, que alisavam a superfície sorrateira da praia e apagavam as pegadas do dia. Agora, o vento tecelão se faz amante e acaricia as pernas dos corredores, na pré-largada. Sinto seu frio eriçando minha pele. Penso:

-- Esses beijos gelados do vento seriam muito mais úteis no meio da prova, quando o sol tomasse pino...

GRID

Paro de pensar e observar o cenário. Coloco meus pertences no saco de treino e deixo no guarda-volume. Prendo a respiração, fazendo careta, para urinar no banheiro químico. Tiro as últimas selfies com os amigos e troco votos de boa prova. Confiro que faltam vinte minutos para a largada e me posiciono, com os demais corredores, entre as grades.

DRONE

Clareou de vez, mas o sol ainda boceja um brilho amarelo e oblíquo sobre o Recreio. A luz solar, no entanto, mal consegue tocar no chão dos maratonistas espremidos, aos milhares. Caixas acústicas espalham música eletrônica no ar, espantam os pássaros e abrem caminho para o voo tranquilo de um drone. Neste momento o locutor anuncia: "A festa vai começar!".

LARGADA

Soa a sirene, disparam de vez os corações! Quem está na frente arranca. Quem está no meio, feito eu, mal pode caminhar ainda. Apoio as mãos no corredor da frente, enquanto o detrás se apoia em mim. Ergo o pescoço, fico nas pontas dos dedos, quero avistar o pórtico, 50 metros à frente... Não dá. Logo, é possível andar mais rápido, depois trotar e por fim: correr!... Liberto-me, transpasso a linha da largada!

PRAIA DA RESERVA

Tudo são sorrisos no começo da prova, feito um novo namoro, um novo emprego ou uma nova vida. O frescor da manhã ainda perdura às margens da Praia da Reserva. Ali, uma passarela de asfalto ousou separar a areia, da mata. Belezas distintas se exibem à esquerda ou à direita de quem corre. O silêncio da mata se opõe às pancadas das ondas do mar. O ambiente se faz lúdico, mágico e energético. Os corredores se fazem incansáveis!

APLICATIVO

O chão da Barra passa depressa embaixo das solas dos meus tênis. Já estou na Praia do Pepê, onde, mais cedo, foi dada a largada da meia-maratona - prova paralela. Ninguém que tivesse treinado como eu, sentiria cansaço na metade da prova. A voz do aplicativo de celular anuncia: "vinte-e-um-quilômetros-em-uma-hora-quarenta-e-cinco-minutos...". Simplificando, basta manter o ritmo e completar a prova em 3:30 h, mas eu sei que não é bem assim...

BEBÊ

Saio o Pepê e subo um elevado. Entro nos túneis do Joá, onde canhões de luz e som animam os corredores, rompendo o silêncio e a escuridão. Saio do túnel e o azul do céu de São Conrado inunda meus olhos. Desço o elevado, curvo, para transitar às margens de outra praia. meus companheiros de jornada já estão mais dispersos. Quando passam, provocam sorrisos de um bebê em seu carrinho. Bebo um isotônico, repondo as forças, para subir a Avenida Niemeyer. O perigo, no entanto, está na descida daquela pista: é preciso conter a vontade de soltar o freio e gastar energia. Já cometi esse erro, duas vezes, e vi meu ritmo despencar no Leblon. Agora, tenho calma, e o Leblon me recebe com os aplausos da plateia.

COPACABANA

Chega a hora da verdade: Copacabana. Cada posto de salva-mar faz uma contagem regressiva para a chegada: No Posto 6, faltam seis quilômetros, no Posto 5, idem e idem... Até que dobro a Avenida Princesa Isabel, faltando 2. A chegada, no entanto, nunca esteve tão longe pra mim. Luto para manter o ritmo, em vão. Reviro meu cinto de utilidades em busca de uma bisnaga de gel de carboidrato. Minhas passadas encurtaram e a sola do tênis, às vezes, arrasta no chão.

-- Bira, você devia ter treinado mais! - repreendo a mim mesmo.

-- Paciência, não deu! - respondo-me, agressivo.


CHICOTADAS

Paro de brigar, no pensamento, e chego à enseada de Botafogo. Essa curva me parece ser a mais extensa do mundo! A um quilômetro da chegada e eu não tenho condições de admirar o Pão de Açúcar, tampouco os veleiros brancos que flutuam na marola da baía, refletindo a luz do sol. Esse sol orgulhoso que exibe a cidade enquanto dá chicotadas em mim. Ele ainda tenta me abater, mas nessa altura já sabe que perdeu:

São onze e vinte e eu concluo a maratona com 3 h e 44 min... Não é grande coisa, mas é!... É a Minha Última Maratona!

Abraços!

Bira.

domingo, 30 de abril de 2017

Escolhi a Corrida!


Fui correr a Maratona do Rio'85, do nada, sem estar habituado a correr ou dar um treino sequer - foto da chegada.  

Escolhi a Corrida!

Amigos!

Talvez eu tivesse apenas dez anos de idade quando escolhi a corrida!...

... Era noite e meu irmão, já adulto, mandou que eu comprar coca-cola. Faz quarenta e sete anos, mas eu me lembro da carreira que dei. Corria levando nas mãos a garrafa de vidro do refrigerante "tamanho família" - naquele tempo não existia garrafas pet e era preciso retornar um casco vazio na compra de um cheio. Possivelmente eu estivesse descalço, pisando no chão acidentado e sem calçamento, como era costume. Ignorei os riscos de me ferir e fantasiei que fosse um atleta em plena competição. Experimentei o prazer transbordar pelos poros, feito a coca-cola que transbordou na mesa, durante o jantar... E eu nunca mais quis parar de correr!

Cresci mais um pouco e fui jogar futebol, onde eu só era escalado nas pontas. Nunca fui bom com a bola nos pés, mas quando lançavam a bola nos francos eu corria demais. Corria para pegar pipa avoada, mas nem queria empinar o brinquedo depois, apenas correr atrás de outra... Corria atrás de um balão apagado ou atrás de outro moleque, no pique. Saía de casa atrasado e ia correndo para a escola. Retornava da escola, às carreiras, para chegar logo em casa. Sempre encontrava motivos que me fizessem correr.

Mas, no silêncio daquelas noites, o tempo sorrateiro surgia feito um rato...

... Cirurgicamente, o tempo surrupiava pedaços da minha infância, sem ninguém perceber. Noite após noite, furto após furto, toda minha infância pareceu se esvair. Então, para os outros, o meu corre-corre foi perdendo a graça. Eles disseram que eu tinha que trabalhar e ao mesmo tempo estudar. Estudei e trabalhei e não tive mais tempo para nada, muito menos correr. Gente, daquela época, também dizia que "pobre correndo era ladrão ou maluco". Eles diziam isso sorrindo e fumando com o charme dos galãs de Hollywood, que não sabiam atuar sem um pito na boca. O jeito foi eu parar correr e tentar aprender a fumar, feito eles, mas, felizmente não consegui.

Talvez eu tivesse vinte e cinco anos de idade quando escolhi a corrida, outra vez!...

... Eu desfolhava o Jornal do Brasil, no intervalo de almoço da loja onde eu trabalhava. Vi que se aproximava uma grande prova - a Maratona do Rio de 85 - e sem pensar fiz minha inscrição. Seriam 42 quilômetros a serem vencidos, por mim que nem treinava (e pelo visto sequer pensava) mas fui! A longa batalha durou 5 h e 27 min, mas o orgulho que senti perdura até hoje. A partir dali, voltei a correr sem me importar com o que eles diziam. Fiz mais duas maratonas, superei algumas lesões e as pedras que surgiram no caminho. Só sucumbi diante das pedras que surgiram nos meus rins... Então, desisti outra vez.

Talvez eu tivesse quarenta e sete anos de idade quando escolhi a corrida, pela enésima vez!...

... Eu precisava descongelar o ânimo da infância e consumi-lo no dia a dia. Ainda dava tempo de fazê-lo, bastaria voltar a correr! Parte daquele moleque, que ia correndo comprar coca-cola, ainda hibernava dentro de mim: O menino-corredor soube se esconder do tempo-sorrateiro-feito-rato, que desistiu de procurar para roê-lo até o fim. Então, voltei para aquilo que sempre escolhi!

Talvez eu tivesse nascendo quando escolhi a corrida!...

... Talvez tivesse feito isso todos os dias, mesmo quando não corria, mas mantinha o menino-corredor escondido em mim. Hoje, sou eu que percorro a cidade dentro do menino - meu abrigo. Ignoro o que eles dizem. Ignoro o tempo roedor. Resisto o quanto posso, naquilo que escolhi... Escolhi a Corrida!

Abraços!

Bira.

domingo, 23 de abril de 2017

Um-Corredor-Como-Você...

Um-Corredor-Como-Você...

Corredor Disperso: Gif composto com recortes de imagens da internet - Bira, 23-04-2017.

Amigos!

Um-corredor-como-você acordou de manhã, tomou banho, café e saiu para treinar. Deparou com a cidade estirando tapetes de asfalto molhado de orvalho, para ele pisar. Uma brisa suave fez carícias em seus ombros enquanto os pássaros saudavam a manhã. Aquele ar renovado penetrou no seu peito, refrescou sua alma e animou sua largada... Então, pôs-se a correr e a aquecer feito o dia!

Um-corredor-como-você dobrou dezenas de esquinas e migrou entre os bairros, enquanto o sol se elevava e a manhã se perdia. Pouco a pouco, o calor expulsou o orvalho do chão. Gradualmente, o burburinho da metrópole abafou a cantiga dos pássaros. Logo, logo, o batuque das suas passadas não alcançaria mais os seus ouvidos. Muito menos os bipes do frequencímetro ou o pulsar do coração... É que uma orquestra confusa de buzinas, freadas e autofalantes poluíram o dia. Feito um corredor, fora de forma, o dia começou a ofegar.

Um-corredor-como-você ignorou os problemas do dia e fez verter no suor os seus próprios problemas. Sentiu-se livre como o vapor que dele saía. Pegou carona no vento e, sem se importar, misturou-se à fumaça que no ambiente crescia. Fez parte do caminho por onde passou por eternos instantes. Cada passo que deu, configurou uma conquista de si mesmo ou da cidade:

-- Outra rua, outro bairro!... Novas descobertas na mesma metrópole e novos desejos no mesmo ser!... Desejou correr pelo mundo e essa utopia fez seus olhos brilharem!

Um-corredor-como-você esqueceu que enquanto corria seu corpo exauria e não queria mais parar. Correu até o cansaço da manhã. Depois, aplacou a sede na fome da tarde. Por fim, recuperou seu o corpo no sono da noite. Até que outro dia lhe acordou renovado:

-- Outra manhã, outro despertar!... Novas descobertas na mesma cidade e novos caminhos dentro e fora do ser!... Sem querer, fundiu todo o mundo na visão distorcida pelo balanço de outra corrida!

Um-corredor-como-você é condutor da esperança no olhar que une o mundo. Humano que é, ele pode até sorrir e sofrer no decurso do mesmo dia, mas sabe que tem sempre outra manhã a lhe esperar!

Abraços!

Bira.


domingo, 16 de abril de 2017

Correndo e Fingindo, Para Sobreviver


Muro Pichado - composição com imagens da internet utilizando Gimp e Paint - Bira, 16-04-2017.

Correndo e Fingindo, Para Sobreviver.


Amigos!

---- Quem é esse moço que finge correr em meio ao caos da cidade? 

Correndo e fingindo ignorar o bandido que pode surgir
---- a qualquer momento ----
na garupa de uma moto anunciando: "Perdeu!"

Correndo e fingindo não ver os miseráveis
---- embaixo do viaduto ----
semeando lixo e regando com urina.

Correndo e fingindo não lamentar o picho do muro
---- à beira da estrada ----
nem o ônibus incendiado e a estação depredada.

---- Quem é esse moço que corre fingindo em meio ao teatro de caos da cidade?

Fingindo que o ar
---- que entra no peito ----
não leva impureza...

---- Correndo para não ver impureza nos olhos da plateia.

Fingindo que seu coração
---- de corredor sadio ----
só quer bater em paz...

---- Correndo para não ser mais um destruidor do próprio cenário.

Fingindo um sorriso na selfie
---- depois do treino ----
postado nas redes sociais...

---- Correndo para não ver que nas redes o fingimento é verdade.

---- Quem é esse moço que passa fingindo correr de verdade?


Diante daqueles que fingem sorrir tendo ao lado quem chore a verdade.
Sob as gargalhadas do sol que atraem nuvens de inveja.
Acima da crise que assola o país e congela as pessoas que não sabem correr...

---- Quem é esse moço que passa correndo e fingindo para sobreviver?


Abraço!
Bira.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Treino do Sol

Composição com de recortes de imagens - internet - 16-02-17.


Treino do Sol

Amigos!

O sol de meio dia derrama labaredas de luz sobre mim, que saí atrasado para correr. É domingo nas ruas da Penha, mas o calor aprisionou as pessoas em casa. Poucos carros competem comigo, no asfalto, e eu até posso me afastar um pouco mais do meio-fio. Minha imagem de corredor aleatório percorre as vitrines. Sigo, em forma de reflexo, de loja em loja. Percorro os blindexes das estações do BRT.  Subo o viaduto da Lobo Junior. Vislumbro a igreja da Penha, lá no alto, e um avião que vai pousar no Santos Dumont.  Ao meu lado o hospital Getúlio Vargas lança um olhar amarelado e eu agradeço aos céus esse momento... Estou vivo, com saúde, e posso correr até Copacabana.

Continuo meu trajeto passando em frente ao antigo Curtume Carioca. Meu couro expele uma salmoura de suor e protetor solar, que desce pela testa e invade os olhos. Tento secar o rosto com a camiseta, sem muito sucesso, e continuo... Subo rua, desço rua, faço curvas e deparo com o Campo do Olaria. O clube que já-teve-seus-dias-de-glória no campeonato carioca que também já-teve-seus-dias-de-glória. Lembro do meu vizinho que tinha adesivo do Olaria em sua vemaguete. Lembro do cracaço Afonsinho, dominando o meio campo, de uniforme branco com a tradicional faixa azul cortando o peito. Volto, logo, ao presente e percebo que minha garrafinha de água secou. Uma padaria surge, feito oásis: é hora de me hidratar.

Minha pulseirinha tecnológica vibra, em Ramos, anunciando que o nono quilometro já foi percorrido. Àquela altura, é possível continuar no "piloto automático", quando eu até esqueço que estou correndo. Só não posso descuidar e tropeçar nas calçadas irregulares da Rua Barreiros. De repente, dou conta de que não vi nenhuma viatura da polícia nas ruas, até ali. Fico preocupado: é época de ameaça de greve dos policiais militares, que não estão recebendo salário... Então penso: "Se o bandido aparecer, já estou correndo, basta acelerar!"

Uma placa imaginária de 11 km foi fincada na Avenida Brasil, logo na saída da Avenida Paris, em Bonsucesso. Meio dia se aproxima e meu ritmo está pouco acima de 5 min por quilômetro (5X1). Dessa forma margeio a Fundação Oswaldo Cruz e a Refinaria de Manguinhos. É fácil correr naquelas calçadas desertas. Encaro um trecho mais difícil entre Fábrica de Sabão Português e o Cemitério do Caju. Enfurno-me sob o elevado que vem da Ponte e termina na Rodoviária. "A Perimetral foi apagada daqui" - penso, ao parar num boteco e comprar água. Confiro meu ritmo médio: 5:05 min ao longo de 18 km. 

Tudo mudou, ali, na Avenida Rodrigues Alves. Agora, é possível avistar o céu azul no lugar da turva cobertura de concreto, que veio a baixo. Um calçadão de granito escovado margeia a estrada que se aproveita para lagartear ao sol. Escombros de alguns armazéns demolidos, no entanto, ainda não foram recuperados. Mesmo assim, nada faz lembrar a degradação do local, tempos atrás. Passam 1,5 km até a estrada mergulhar no Túnel Rio450. À flor do solo surge o Boulervad Olímpico, o novo cartão postal do Rio. Ali, o antigo Moinho Fluminense se transformou no moderno AquaRio - maior aquário da América do Sul, repleto de crianças. São mais 1,5 km, às margens dos trilhos do VLT, até chegar no Museu do Amanhã. Nesse percurso há turistas desembarcando dos cruzeiros. Eles são recebidos pelo imenso painel Etnias, de Eduardo Kobra, que interpreta a luz do sol em cores vibrantes. Os antigos armazéns reformados promovem eventos, atraindo mais movimento ao local. Uma feira de artesanato e músicos populares também tentam reter as pessoas. Não tenho tempo de observar os detalhes para não perder meu ritmo, e sigo. Quando paro, já estou na Praça XV comprando mais água no mercadinho das barcas Rio - Niterói. 

Entre goles ofegantes consulto meu tempo: média de 5:09 min por km. O peito infla e desinfla mais rápido. Ondas de calor distorcem as imagens no nível do chão. Resolvo que vou monitorar melhor meu ritmo nos próximos quilômetros e penso: "Se o meu ritmo cair, eu aborto a missão". Dito e feito: quando cheguei ao Aeroporto Santos Dumont, despenquei para a média de 5:30 e parei.

Copacabana ficou me esperando a oito quilômetros dali. Eu, que saí para correr com sunga de praia por baixo da bermuda, não daria um mergulho no mar, desta vez... Paciência... Recobrei o fôlego, caminhei até o metrô, mas não estava nem de longe decepcionado: Semana que vem eu volto pra fazer isso direito!

Abraços!

Bira.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Corrida: Paixão Sem Fim...

Corrida: Paixão Sem Fim...

Corrida Sem Fim - Recorte de foto pessoal com imagem da internet - Bira, 30-01-16.

Amigos!

1- Foram Duas Décadas Sem Correr...

Meus olhos sempre brilhavam quando alguém passava correndo. Era um brilho de esperança, que me fazia tentar voltar a correr e fracassar mais uma vez. Ao longo de 22 anos, entre 1986 e 2008, eu permaneci desiludido, achando que "esse esporte não foi feito para mim". Dores no joelho, sangramento na urina e crises de cálculos renais era o que sempre me abatia. Só me restava aplacar a frustração com trabalho voluntário. Era o que eu fazia, até que um novo corredor cruzasse meu caminho, levando-me a tentar correr de novo...

Quando fiz 48 anos quis mudar de atividades. Desisti do voluntariado e comecei a pintar quadros. Eram telas coloridas e grandes, absorvendo meu tempo e minha alma. Assim fiquei por um tempo, até que outro corredor cruzou meu caminho...

2- Foi o Milagre da Volta...

... Na verdade, eram dois corredores, mas um deles chamava atenção. Era começo de noite na, pouco movimentada, Avenida Vicente Carvalho. Acho que era inverno, porque já estava ficando escuro. Aquele velho corredor devia ter mais de 70 anos e trotava, tranquilamente, ladeado por outro que poderia ser seu neto. Meus olhos reluziram de novo. Bem mais do que os faróis da avenida. Meu pensamento saiu pela boca:

-- Parabéns!... Que Deus te dê muita saúde, velho corredor! - desejei, para não sentir inveja.

No dia seguinte eu abri o armário para conferir se meus surrados tênis estavam lá. Em outra gaveta jazia um short e uma camiseta, que eu havia comprado para (quem sabe?) tentar voltar a correr um dia. Anunciei, solenemente, à família que voltaria a correr, mas ninguém acreditou...

-- Tudo bem!... - meu pensamento saiu de novo pela boca -- Vou mostrar para todos que eu vou conseguir!

3- Foi uma Decisão e Vários Amigos...

Não foi fácil voltar, nos arredores dos 50 anos. Os joelhos quiseram impedir, logo de cara, mas a musculação para o reforço das pernas aplacou a dor. Diante disso, os cálculos renais foram expelidos naturalmente, com raros momentos de crise... Milagre!.. Eu estava dando um salto no tempo, diretamente dos anos 80. Foi naquela época que fiz três maratonas, apenas no oba-oba. Apenas para provar a mim mesmo que eu era capaz. Eu não tinha muita informação, nem a real consciência do fato.

Voltando a 2008, quando eu redescobri a corrida, deixei a pintura de lado. Optei por ter mais saúde, alegria e amigos. Os amigos de corrida exalam vigor e beta endorfina. Eles são muito diferentes dos amigos que eu tinha. As vezes parecem que estão dopados daquela droga natural, besuntados no suor e euforia. Suas mentes não param, mesmo quando seus corpos descansam. Suas pernas inquietas, se pudessem, desprenderiam do corpo para nunca mais parar... Meus amigos de corrida são tolos, ridículos e maravilhosos!... Felizes do jeito que eu sempre quis ser!

4- Foi a Solidão e a Paixão...

E foi assim que eu quebrei a barreira dos 50. Vi corredores amigos chegarem e outros partirem, quando aprendi a partir também. Várias vezes fui correr sozinho e me vi fazendo amor com a cidade. Deslizei meu afago nas suas curvas. Derramei meu suor no asfalto feito um amante, sobre o corpo da amada. Suportei o exílio das lesões, abstinente do carinho dos amigos ou dos afagos da cidade... Dias desses voltei, depois de ficar mais de um ano parado. Muita gente eu não vi, como dizem: "A fila anda!..." A cidade, no entanto, estava ali esperando meu afago. Em princípio, tentei fazer amor com ela mas faltava fôlego. Aos poucos, recuperei a capacidade de penetrar nas suas ruas, horas a fio... Apaixonei-me de novo! 

Abraços!

Bira.