Sonhos Que Correm, Imagem composta de recortes da internet, com Gimp - Bira, 15-01-18. |
Meus Sonhos Também Correm!
Um belo dia, lá nos idos de 1985, eu sonhei em participar de uma corrida e fiz minha inscrição na Maratona do Rio. Até hoje não sei o que deu na telha, pois eu não era um corredor. Só vi o tamanho da encrenca ao me meter, entre seis mil atletas, na concentração.
Quando os 42 km de prova iniciaram, eu chorei de emoção. Chorei na largada o choro da chegada. Garanti logo o meu choro, pois minha chegada seria improvável... Mas falando sério, eu acho mesmo é que chorei porque me vi no meio do sonho!
Depois que as lágrimas secaram foi a vez do suor escorrer. Paguei com ele, o preço que pagam os sonhadores inconsequentes e derreti, feito picolé, no asfalto da cidade. Foram cinco horas e meia até concluir a corrida. A despeito do péssimo tempo, eu me tornei um maratonista, de cara!
O meu segundo sonho veio de imediato. Eu quis baixar o tempo de prova, meses depois, correndo em São Paulo. Só vi o tamanho da da nova encrenca, nos últimos quilômetros da maratona paulistana. Uma de minhas pernas travou. Tive que arrastá-la para completar a corrida, em pouco mais de 4 horas.
Embora eu só tivesse 25 anos, aquilo era o melhor que eu tinha para dar. Minha vida era tão dura quanto os tênis da época. Além do mais, eu treinava sozinho, sem saber direito o que fazia. Trabalhava de dia e corria de noite. Quando trotava, pelas ruas do subúrbio, eu era olhado com a desconfiança que olham para os loucos dos anos 80.
Mesmo assim eu tive um terceiro sonho, que se confundiu com a euforia, correndo sobre a Ponte Rio-Niterói. O monumento foi palco dos primeiros quilômetros da Maratona do Rio'86. No vão central, o meu espírito se uniu aos dos demais corredores: (Com gestos espontâneos, acenamos para os helicópteros da TV Manchete. Emendamos o trajeto aéreo com a extinta Perimetral. Depois cruzamos o Aterro e a ferradura da Enseada, em Botafogo. Entramos e saímos na Urca. Entramos e saímos nos túneis. Enfurnamo-nos na noite e na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Fizemos o retorno na altura do Posto 6. Quando entramos na Avenida Atlântica, rumo ao Leme, tivemos a certeza que concluiríamos a prova). Foi somente no corredor de chegada que cada corredor se desgarrou da união espiritual e assumiu sua própria identidade. Eu reassumi a minha e cruzei o pórtico com gestos de vitória. Estava pronto para sonhar de novo, mas a vida tem seus planos...
Por conta da vida eu parei e só voltei a correr 22 anos depois, acredite! O lapso de tempo só estancou em 2009, quando eu fiz 48 anos. Quando a Corrida retornou, ela ordenou que eu trocasse de roupas, de amigos, de lugares, de horários, de hábitos, de disposição, de propósitos e de direção. Só perduraram família, emprego e documentos.
Aqueles sonhos também voltaram e me levaram para correr nas montanhas, nos vales e nas praias. Meus tênis correram em muitas outras metrópoles. Quem me viu passar teve a chance de sonhar em correr também. Hoje mesmo, nas ruas das minha cidade, eu proferi convites para que todos viessem correr. Não precisei bradar uma só palavra, apenas o toc-toc dos meus tênis no chão, feito código morse, se fazia entender.
Agora, os meus sonhos correm para quebrar as barreiras entre os homens, que quando vistos parados até parecem desiguais. Imagina se todos os homens resolvessem correr e que fosse possível nunca mais parar. Rapidamente, acabariam as disputas de território, derrubando as fronteiras do mundo. É que eles correriam o mesmo caminho que se espalha em todas as direções. É que correndo, eles estariam espiritualmente unidos, acenando para Deus como quem acena para um helicóptero de TV.
Abraços!
Bira.
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