Carta para o Amigo Paulo Portela (I)
Prezado Portela;
Hoje acordei assustado, com a voz de alguém me chamando lá no portão: "Biraaa!". Olhei para a janela, mas ainda não havia amanhecido. Portanto, não estava na hora dos pedreiros chegarem (tem reformas sendo feitas por aqui). A voz me chamando foi um sonho, sem imagem.
O celular apontou 4:01 da manhã e, sem sono, falei com minha esposa, depois danei de pensar no que tinha feito:
Começou em novembro, quando resolvi reparar o muro com reboco estufado. Deu certo, mas disparou um monte de outros reparos e pinturas...
Em dezembro e janeiro, eu já tinha pintado o interior da casa quase toda (dia a dia, cômodo a cômodo). Reformei um banheiro no terraço. Comecei a pintar a casa por fora. Fui alugar andaimes, comprei cinto de segurança. Explicando melhor, minha casa é tipo apartamento: moro nos segundo e terceiro andares. As paredes são lá no alto, quase inacessíveis, mas isso não me parecia empecilho...
Enquanto isso, eu já estava trocando a antiga mesa de jantar por nova. Lá na loja de móveis vi sofás a bom preço e troquei pelos velhos.
Em outra loja de móveis, tinha os guardas-roupas que a minha mulher precisava. Tirei fotos do móvel e ficou para "comprar depois". Esse depois, aconteceu por acaso, em duas semanas apenas, quando uma funcionária do banco (para bater meta) me ofereceu refinanciar um consignado (baixando os juros!), mantendo o valor e quantidade de parcelas, no novo contrato, ainda me dando um belo troco (!) (coincidência ou sorte?!).
Voltando às pinturas, o locador dos andaimes se ofereceu para pintar a casa por fora e ainda corrigir problemas. Analisei o preço que ele deu, mas não estava nos meus planos... Por fim, eu cheguei à conclusão que não conseguiria pintar sozinho e contratei.
Agora março está chegando e a casa está renovada, faltando alguns detalhes, mas...
Por que eu estou te escrevendo esta carta virtual?
Provavelmente é porque o tempo vai passando e levando os amigos. Quanto mais tempo passa, menos amigos se têm. Amigos inteligentes quase não existem, pelo menos para mim. A maioria dos que parecem inteligentes são apenas calados, como disfarce. Deve ser por isso que eu me tornei corredor, compensando a solidão no rastro de gente ao redor. No final das contas, nesta vida, todo mundo passa como um rastro...
Mas veja a ironia: Foi preciso que eu me lesionasse (estou há sete meses sem correr) para ver os problemas da casa. Não se trata de "fazer do limão uma limonada": minha lesão já era uma limonada pronta! Não fosse isso, eu estaria correndo sem tempo para reparar o muro e consertar um monte de coisas, que é preciso estar parado para ver, ou lesionado no meu caso.
Eu tenho um defeito - que para os amigos pode ser visto como qualidade: quando me foco em algo, tudo ao redor pode virar onda e passar batido. No entanto, naquilo que foco em geral fica muito bem feito... Daí a importância de ter amigos, para me julgar pelos acertos!
Aquele abraço!
Bira