Quando Tudo Era Poesia

By | 15:42:00 Faça um Comentário
Amigos!

No início dos anos 80 eu adorava ler o Jornal do Brasil. Começava sempre pelo Caderno de Esportes onde me aguardavam Nelson Rodrigues, João Saldanha e outras feras. Dava dó, no entanto, ler matérias de atentados a bomba, no Oriente Médio ou da fome na Etiópia. Às vezes o fazia na praça de Irajá onde os velhos jogavam cartas. Quase 30 anos depois, nada disso acabou: nem a fome da Àfrica, nem as bombas do Oriente ou os velhos da praça. Meu amigo Zeca - que nem tão velho era - no entato, partiu, já naquela época quando tudo era poesia:


1)
ADEUS ZECA


Na tarde molhada,
A cova engole fria um corpo -
Apaga do Cotidiano um homem.

Na face molhada,
Os olhos fitam rubros a cena -
Apagam da mente a esperança.

Se a cova apaga um frio cotidiano,
A esperaça mente.

Se a tarde engole os olhos rubros,
Um homem acena:
- Adeus!


* * * * *


2)
O VELHO E A PRAÇA


Em meu resto minguado de vida,
Nas maõs de guerreiro
As espadas eram naipes;

O coração e a amante,
Dama de copas;

O ouro só reluzia nas cartas,
O trunfo da sorte era paus.

Sem dinheiro nos bancos da Suíça
Jogava sueca nos bancos da praça.


* * * * *


3)
ETIÓPIA


Quando avistei aquela gente
De pele e osso sobre o solo,
De infância e fome sobre o colo,
De agonia e morte pela frente.

Vi terra seca amarelada do poente,
Amassada pelos passos fragelados,
Adubada pelos corpos enterrados,
Mas estéril pela água inexistente.

À procura do fruto, desesperados,
Desprendiam do chão suas raízes -
Folhas secas pelo vento carregados.

Dividiam migalhas esmoladas em países,
Jovens envelhecidos, velhos acabados,
Porém, mais solidários que infelizes.


* * * * *


4)
CARRO-BOMBA

Clique na imagem abaixo para ampliá-la



































Abraço!
Bira
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários: