Amigos!
Não vou falar de sol, das montanhas, nem das ondas. Não subirei em um helicóptero virtual para descrever o panorama da concentração ou largada da prova, naquela manhã de domingo, em São Conrado. Dispensarei retratar o azul-azul do céu ou o verde-azul do mar. Durante a Meia Maratona do Rio, a TV já fizera tudo isso ao vivo, para todo o Brasil. São milhões de cores que se encaixam na alta-definição dos modernos monitores de LCD. Foram milhões de lares que, mais uma vez, se encantaram com o belo litoral carioca. Se for verdade que “uma imagem vale mais que mil palavras”, então quantos livros valem mil imagens em alta-definição? Sendo assim, dispensarei aludir à paisagem vista do alto da Niemayer, dos oito quilômetros de praia entre o Leblon e o Leme, da enseada de Botafogo e do Aterro do Flamengo – local de chegada. Vou falar de algumas entre 19 mil pessoas reunidas, no dia 22 de agosto de 2010, para percorrer 21.097 metros de asfalto.
Estávamos a poucos metros da largada. Eu, Ozéias, Adriano, Sandro, Alfinete e Bruna vestíamos a camiseta amarela da Montervèrgine e, no meio de tanta gente comprimida, parecíamos recheio do famoso torrone que o nosso patrocinador fabrica. Faltavam 30 minutos para o início da prova. Enquanto o narrador do evento dava aviso s, a música não parava e a ansiedade aumentava. Murilo, Carlos e Jorge estavam por perto, mas espalhados.
Entre as figuras folclóricas das corridas, avistei Índio e o Homem-Árvore, bem lá na frente – diante das câmeras, é claro. Talvez o Índio tenha montado uma oca e passado a noite ali, para garantir o lugar, e o Árvore, de certo, ficou plantado ao seu lado... Faz parte do show, tanto quanto as centenas de faixas que são abertas e mostradas na TV.
E se todo aquele burburinho composto pelo som das falas, do mar e dos alto-falantes aos poucos cessasse? Se primeiramente o narrador se calasse, ouviríamos melhor, as músicas. Se interrompessem as músicas, ouviríamos melhor, as pessoas. Se as pessoas ficassem quietas, escutaríamos as ondas do mar. E se o mar se aquietasse, perceberíamos um outro burburinho composto pelo batimento dos corações de 19 mil corredores! Mas se por último, suprimíssemos também este burburinho e qualquer outro ruído avulso não sobraria o silêncio absoluto. Perceberíamos altas ondas de ansiedade, pré-largada, mas fortes que as ondas do mar. São as ondas que se formam no oceano que habita em cada ser. Essa mesma força que pode conduzir um homem às grandes realizações, mas que às vezes o destrói, feito tsunami.
Encurta o tempo que resta para a largada. Encurtam as frases de quem ainda fala e o espaço entre-corpos na contagem regressiva. E a corrida começa! O primeiro desafio é tentar mover-se no meio da massa. Naturalmente, os corredores estendiam os braços escorando-se nas costas de quem estava à frente, lembrando fila de escola. Logo foi possível acelerar, não muito, e o recheio de torrone (Ozéias, Sandro, Adriano, Alfinete, Bruna, Murilo, Carlos, Jorge e eu) foi mastigado pela multidão.
Como o esperado, todos concluíram a prova e imediatamente renovaram suas metas.
Por volta das 11h e 30min o mar estava calmo. Não só o mar que banha minha cidade, mas também o mar que ninguém ouve e ninguém vê.
Acima: Bira, Carlos, Adriano, Sr. Fernando (nosso patrocinador), Alfinete, Bruna, Sandro, Ozéias e Murilo.
Abraços!
Bira.
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