Percentual de Presença

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Amigos!

A cabeça de Pedro parecia estar mais cheia do que aquele vagão de metrô. Daí que ele nem pecebesse o quanto estava espremido no meio das pessoas. Colocou os fones de ouvido e ligou o rádio do celular, muito mais para não ter de escutar as conversas do que propriamente ouvir músicas. O bafo de muita gente respirando próximo, no entanto, era inevitável.

O sol da manhã refletia seu brilho quente na chapa de aço do trem que corre a céu aberto na linha 2. As janelas lacradas de vidro temperado são telas de TVs que todas manhãs passam o mesmo filme - de Pavuna à Central do Brasil, quando a composição submerge aos prédios da cidade. Foi no entra-e-sai dos passageiros da Estação Central que Pedro descobriu seu desconforto físico e se fez presente. Até então, seus sentimentos viajavam num outro trem, de pensamentos e planos, que há muito tenta chegar à Estação Solução. Neste outro trem, Pedro é uma laranja, espremido não por pessoas mas por dívidas. Se uma dívida desembraca na próxima estação, outras duas entram aumentando o aperto! Ufa!...

Quando Pedro retornou ao aperto físico do metrô, desligou os pensamentos e retirou os fones de ouvidos do celular-rádio que perdeu sinal quando entrou no túnel. Toda manhã era assim, pipocando entre o aperto das pessoas e dos problemas, Pedro iniciava seu o dia.

No trabalho bastava-lhe o aperto do patrão. Não dava para colocar fones, nem se refugiar entre as dolorosas dívidas. O percentual de presença de Pedro ali deveria ser total, até que soasse o apito, anunciando o fim do expediente. Então Pedro respirava pela primeira vez no dia e seus lábios secos ficavam úmidos de cio ao pensar num chopp.


A libido etílica de Pedro lhe atirava num bar, onde ele recopulava entre sonhos e amigos idelistas, saudosos e politizados. Pela primeira vez no dia podia espalhar-se, abrir o palitó e dasatar a gravata. Falar sacanagem e filosofar ao mesmo tempo - não esquecendo de molhar a garganta com mais um gole do líquido amarelo e espumante. O percentual de presença de Pedro ali era total, a ponto de esquecer do passar das horas! -  Para dizer a verdade, acho que Pedro não estava propriamente ali, senão teria percebido que o garçom já recolhia cadeiras e mesas para lavar o chão... Onde estaria Pedro, então?

Horas depois Pedro dorme e baba na cama. Deitado de bruços com uma perna dobrada e outra esticada, um pé calçado e outro descalço, às duas da magrugada. Não lhe pergunte na manhã seguinte como chegou em casa, se sonhou ou não sonhou, ele não sabe a resposta. Para dizer a verdade, acho que Pedro nem vai lhe ouvir. Pois ele estará com fones de ouvido no vagão lotado ou completamente ocupado cumprindo ordens do patrão. Pode até ser que você fale com ele lá no bar, entre as filosofias e sacanagens, junto aos amigos inteligentes e politizados, mas não espere encontrá-lo de fato:

Onde quer que esteja, acho que o percentual de presença de Pedro é quase sempre zero!

Abraços!

Bira.
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