(...) Raios solares avivaram o laranja que vestia os corredores... Três mil corações bateram no ritmo de música eletrônica... Foi dada a largada e eu estava correndo de novo! (...)
A série"Além do Blog" trará novas maneiras de contar as histórias já descritas aqui. Em "Nunca é Tarde", memórias de infância ocorridas concentração da Corrida Leblon - Leme têm destaque... |
Além do Blog I - Nunca é Tarde...
Amigos!Para dizer a verdade, em pouquíssimas vezes eu tinha visto um sol recém-nascido no Leblon até aquela linda manhã de janeiro de 2008. Já com 48 anos de idade, eu estava voltando a participar de uma corrida de rua, nada menos do que 22 anos após minha última prova: a Maratona do Rio'86. E se a beleza matinal surpreendia, foi porque um carioca do subúrbio não vê a luz brotar detrás das ondas todo dia.
Cheguei cedo ao local de largada da Corrida Leblon-Leme, no
finzinho da Avenida Delfim Moreira. Poucos corredores dispersos já estavam ali,
próximo à subida da Avenida Niemeyer. Ainda sem ter amigos corredores, fui
seduzido pela paisagem enquanto sozinho esperava o tempo passar. O hálito frio do
mar escorreu sobre mim e eriçou os pelos de meus braços. Meus olhos se deitaram
no horizonte e meu pensamento fluiu no tempo. Ele foi resgatar outros cenários
da minha infância, querendo fazer comparações. Meu malicioso pensamento quis
ressuscitar alegrias suburbanas, para me convencer de que a felicidade
independe do cenário, por mais encantador que este seja...
Quando criança, meu passatempo, em Irajá, não poderia ser o
surf, mas soltar pipa. Jogava bola de gude e chutava bola de meia. Subia nas
árvores para comer cajá, goiaba e manga. Era uma infância muito boa, mas
apartada dos bairros mais nobres da minha cidade. Quando alguém decidia ir à
praia, pegava o ônibus 940 e descia em Ramos, no ponto final. Depois de
atravessar a Avenida Brasil, deparava com a praia suburbana lotada - em época
de águas bem menos poluídas. Nos anos seguintes, Ramos virou uma banheira de óleo
e esgoto que o governo remediou construindo, ali, um piscinão. Há quatro
décadas, não existia metrô para diminuir as distâncias ou internet para
simular proximidade. O subúrbio, no entanto, parecia ter tudo para a felicidade
de um menino que desce a ladeira em um carrinho de rolimã - muita liberdade e
poucos riscos. Cabia na contagem dos dedos o número de "maconheiros"
do bairro. Quando um guarda noturno passava soprando o apito, só assustava uns
poucos ladrões de galinha, membros da única espécie de marginal do bairro. O
tempo passou, eu e o bairro crescemos para o bem ou para o mal...
Caixas acústicas e a voz de Madonna me resgataram daquela
viagem no tempo. Fiquei surpreso ao descobrir que faltava meia hora para a
largada da corrida. Seriam oito quilômetros até o Leme e eu não me lembro, mas
devo ter feito um breve aquecimento. Quase todos os três mil corredores
inscritos já estavam ali, aferindo a todo instante a proximidade da largada.
Raios solares avivaram o laranja que vestia os corredores... Três mil corações
bateram no ritmo de música eletrônica... Foi dada a largada e eu estava correndo de
novo!
A vantagem de começar a correr tardiamente é se ver em
ascensão no momento em que o rendimento deveria estar caindo. No limiar dos 50
anos eu treinava ainda para saber até onde poderia chegar, o que é estimulante.
Estabeleci como meta correr 10 km em 40 minutos e me dediquei em 2008 a quebrar
essa marca. Com o ímpeto de um adolescente, corri várias provas naquela
distância: Corrida de São Sebastião, Circuito das Estações, Nigth Run (na USP)
e tantas outras. Fiz amigos na corrida e aprendi muito com eles. Meus tempos
foram melhorando, mas o melhor que eu obtive nos 10 km foi 41:33 min. No ano
seguinte abandonei a meta para fazer corridas mais longas, como a Meia-Maratona
da Cidade 2009 (21 km, no tempo de 1:36:h que me encheu de orgulho, na época).
Estabeleci um nova meta: correr maratonas a partir de 2010!...
Abraço!
Bira.
1 comentários:
Relembrei minha primeira prova, e das sensações que tive naquele dia especial! Gostei do post!! Abraços
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