Além do Blog VII - Correndo no Vale da Morte!

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(...) Quando o asfalto ferveu, os carros trouxeram lufadas de vento para amenizar. Lufadas de vento morno, temperado com fuligem e poeira. Lufadas violentas que arrancam os bonés (...)

A série "Além do Blog" continua trazendo novas maneiras de contar histórias já descritas aqui. Em "Correndo no Vale da Morte", eu faço nova descrição de um treino duríssimo pela Rio-Petrópolis...

Além do Blog VII - Correndo no Vale da Morte!

Amigos!

-- A Rodovia Washington Luiz são quatro retas paralelas rumo ao infinito... E se é verdade que as retas se encontram no infinito, lá não haverá divisórias ou canteiro central. A partir do infinito, a estrada seguirá em pista única e altamente perigosa, feito a Régis Bittencourt...

Foi esse o devaneio que eu tive, correndo no acostamento da Rodovia Washington Luiz. Era manhã de sábado, quando saímos em cinco: eu, Sandro, Ozéias, Murilo e Alex. Nós correríamos os 30 quilômetros que separam Cordovil de Xerém, num treino previsivelmente duro.

O verão já estava no fim, mas o sol impertinente de março não aceitava esse fato. Por isso ele expelia desde cedo seu ódio, numa revolta ofuscante. O astro impaciente já enfornava a estrada às nove e meia da manhã. Nós começamos a assar feito frangos no espeto - frangos corredores no Vale da Morte.

Mas cabe aqui uma explicação: àquela altura, a rodovia não cruza nenhum vale. O trecho que percorríamos pertence à Baixada Fluminense. A longa estrada que começa próximo à Baía de Guanabara, vai se afastando gradativamente, rumo às serras de Petrópolis. Meus colegas chamam aquilo de Vale da Morte em alusão ao Death Valley - uma região do deserto da Califórnia onde a temperatura pode superar 56ºC.

Nosso "vale" também era abrigo do calor e não parecia ser boa ideia correr ali. Quando o asfalto ferveu, os carros trouxeram lufadas de vento para amenizar. Lufadas de vento morno, temperado com fuligem e poeira. Lufadas violentas que arrancam os bonés. Lufadas que mais freavam a corrida do que refrescavam o corpo. Lufadas que zuniam no ouvido, abafando o rugir dos motores raivosos. Lufadas que mais pareciam um bloqueador de futebol americano. Que por um longo trecho davam a impressão de que corríamos sobre uma esteira rolante, sem sair do lugar. Em nosso Vale da Morte não éramos vistos pelos carros e nos precavíamos seguindo na contra-mão. Talvez fôssemos apenas manchas na visão periférica dos motoristas apressados. Para nós, também, os carros passavam como rastros. Rastros que faziam vrummm...

O desgaste foi grande e eu fiquei para trás. Só revi os demais corredores na parada que é feita em um posto de gasolina do Bairro Pilar, depois da Refinaria Duque de Caxias, na metade do percurso. Feita a hidratação, recebi uma boa notícia: Devido ao calor, o pessoal resolveu não prosseguir. Os 15 quilômetros que fizemos pareciam 30...

O tempo passou, lá se vão três anos, mas o Vale da Morte continua nos esperando. Perdi um pouco da condição de treinar com aqueles caras feras, mas quem sabe essa postagem instigue a todos a voltar para fazer o trajeto completo?

Abraços!
Bira.





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