Montagem com fotos pessoais da maratona de Porto Alegre - Bira, 2014. |
Além do Blog X - A Maratona Onde Quebrei
Amigos!"Atenção senhores passageiros para o voo com destino ao Rio de Janeiro: Embarque imediato no portão 7..."
Os últimos passageiros terminaram de embarcar no avião da Gol que não tardaria a decolar. Com agasalho de atleta e bagagem de mão, eu me acomodei na quinta fileira da nave. Fechei os olhos e tentei relaxar, mas no espaço espremido dos voos econômicos não é possível esticar as pernas que começaram a doer. Ainda bem que eu estava na poltrona do corredor e pude me levantar. O avião decolava e eu fui chamado à atenção pela aeromoça, mas tentei me justificar dizendo que as pernas doíam porque eu havia feito a Maratona de Porto Alegre, naquela manhã. Não convenci e tive que voltar para o aperto. Antes do avião entrar em voo de cruzeiro, no entanto, tive tonturas. Pedi um copo d'água e um sachê de sal à tripulação assustada. Melhorei após a ingestão, mas as dores nas pernas não deram trégua um só minuto, durante duas horas.
Quatro dias depois recebi as fotos da corrida e fiz uma postagem intitulada "Feliz Ano Velho", neste blog, com a seguinte introdução:
"Blogueiros narcisos só falam das vitórias. Para mascarar meu narcisismo, no entanto, eu também conto os fracassos e então até pareço humilde - Lobo em pele de cordeiro! - diriam os inimigos. Sacana, debochado, pretensioso!... diriam os demais. Eu não digo nada, apenas escrevo para descansar das corridas..."
Agora, eu utilizo essa seção para reeditar aquela história em...
Além do Blog X - A Maratona Onde Quebrei
Foi atraído pelo slogan "A Maratona mais Rápida do Brasil" que eu cheguei a Porto Alegre. Era maio de 2011 e eu estava fininho, bem treinado e confiante. Pelo menos era isso que eu pensava aos 51 anos. Meu objetivo era completar a prova abaixo de 3:20 h - um ótimo tempo para minha faixa etária.Cheguei ao pátio do Barra Shopping antes da luz da manhã. O movimento dos atletas, no local de largada, dava sensação de uma corrida noturna. Mas não tardou para que o céu azulasse, e as camisas dos atletas revelassem todas as cores do arco-íris. Um sol amarelo que não consegue deter o frescor matinal e o canto dos pássaros que não supera o barulho de música eletrônica, foram os atores coadjuvantes daquela manhã. Às sete horas largaram as mulheres, dez minutos depois, os cadeirantes. Eu larguei às sete e quinze com mais 2.000 corredores e o sol... O sol que enfim decidiu assumir seu posto para comandar a cena.
Nos primeiros 10 km, eu naveguei pelo asfalto que margeia o Rio Guaíba, passando por detrás do estádio Beira Rio e, mais adiante, sob a sombra da chaminé do Gasômetro. Adentrei as ruas do Centro e conferi que estava correndo dentro do que foi programado: 47 tranquilos minutos. Rodopiei pela cidade, estabilizando as passadas, juntamente com um grupo de corredores gaúchos. Trocamos algumas palavras e cruzamos a marca da meia maratona com 1:40 h. Até ali, tudo bem. Cheguei aos 30 km com 2:23 h, melhorando ainda mais meu tempo.
Logo, percebi que os gaúchos começaram a abrir, mas achei aquilo natural. Só não pareceu natural ver outros corredores me ultrapassando. Meu ritmo havia caído e eu não tinha gás para retomá-lo. Com tristeza refiz minha meta de conclusão da prova para 3:30 h. No KM 34 foram os pés que começaram a doer. Pisei em brasas e não tive outra escolha senão caminhar. O sal que escapou do meu corpo cristalizou sobre os ombros. Fez surgir manchas brancas no tecido negro da bermuda. Minhas emoções também cristalizaram, formando uma placa flutuante e invisível que se espedaçou no chão. Meu olhar rolou pelo asfalto e eu comecei a caminhar. Quando ergui os olhos do chão, vi uma mocinha passar correndo. Ela exibia um rabinho-de-cavalo louro e saltitante. Seus cabelos zombavam de mim...
Quis reagir, mas foi em vão. Sem forças, vi todo tipo de gente me ultrapassando: magros, gordos, altos, baixos, novos, velhos... Fui insistente e voltei a trotar, com a velocidade de quem anda, e concluí a maratona mais rápida do Brasil em 4 horas - 40 minutos acima da meta.
Mesmo com as pernas doloridas e travadas, não pude descansar. Fui às pressas para o hotel e de lá para o aeroporto. Tardiamente, percebi que havia cometido um erro: marcar o voo de volta poucas horas depois de correr a maratona. De volta ao Rio, permaneci desapontado na segunda e terça-feira. Na quarta, voltei a trotar levemente, recebi as fotos da corrida por e-mail e postei neste blog meu desabafo: "Onde foi que eu errei?"
Abraços!
Bira.
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