Meu amigo Alessandro Augusto tirou essa foto na meia Maratona da Asics. |
Morro de Saudade da Corrida!
Morro de saudade dos meus longões preparatórios para a Maratona do Rio - eram 30 km de Irajá a Copacabana. Nas manhãs de sábado, o sol também corria acima de mim, rumo o centro do céu. Seu esforço lhe fazia ficar cada vez mais quente e radiante. O mesmo ocorria comigo: Eu também flutuava sobre o asfalto de Irajá, Vicente, Penha, Olaria e Ramos. Após 40 minutos, chegava às calçadas vazias da Avenida Brasil, em Bonsucesso. Respirava pó e fuligem em frente à Refinaria de Manguinhos e prosseguia, até cruzar a Rodoviária Novo Rio. Protegia-me dos raios solares na umidade sombria sob o viaduto da extinta Perimetral. Refugiava-me entre os prédios da Avenida Rio Branco até ressurgir no Aterro do Flamengo, onde os meus ombros deparavam, de novo, com o sol. Após duas horas de treino, eu tinha a sorte de encontrar aquele gramado vasto e macio, de receber lufadas generosas de vento do mar. O que seria de mim, não fosse o alívio das árvores passageiras? O que seria dos meus olhos, recém saídos das paredes desbotadas do subúrbio, não fosse o verde invadir suas retinas? Mas o cansaço sempre chegava no final daquele parque, na à pista curva de corrida que margeia o Pão de Açúcar. A beleza da Enseada me dava alento. Correndo ali, eu me sentia um ser especial. Passava em frente ao Hospital Pinel sem pensar em entrar: nunca quis curar meu vício de corrida. Atravessava o Túnel Novo e terminava o treino diante do busto da Princesa Isabel, Fazia reverência a quem me deu a liberdade de escolher o meu trajeto.Morro de saudade dos meus treinos comuns e suburbanos. Dos percursos aleatórios cuja direção era escolhida a cada esquina. De revelar os recantos dos bairros. De encontrar outro corredor pelo caminho e emendar um novo treino. De me inflar perante os olhares curiosos dos passageiros de um ônibus ou me irritar com o motoqueiro que avança o sinal, e me ignora, quase atropelando. Correr desviando de gente, de saco de lixo e de buraco. Correr percebendo o abacateiro carregado sobre o muro e as flores de romã espalhadas pelo chão. O chão do subúrbio ainda espera por dias melhores. O chão nu da minha infância, agora está vestido de cimento e asfalto. Onde o idoso tropeça, a grávida escorrega e o vira-latas dá três voltinha antes de fazer xixi. Não se pode correr sem tirar os olhos do chão, tampouco se deve deixar de perceber todo entorno. Um rato assustado mergulha no buraco do ralo, um casal de pardais risca o ar feito a bala perdida, que aterroriza o subúrbio. Um cavalo magro sobrevive comendo capim no brejo seco. De repente essa dança caótica de imagens ganha tons de esperança nos meus olhos de corredor.
Morro de saudade de correr com os amigos nos parques, nas serras e no litoral do meu Rio. Ver minha própria alegria refletida no olhar de quem partilha um treinão. Dividir e multiplicar essa alegria por 50, 100 ou 200. Por quantas pessoas estiverem presentes no treinão.
Espalham-se as fotos nas redes sociais... São corredores sorrindo ou gesticulando vitória. Eles fazem questão de mostrar ao mundo o quanto acertaram ao optar pela Corrida... Morro de saudade da Corrida!
Abraços!
Bira.
(sem correr há seis meses por conta de uma fascite plantar).
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