Sentado no Colo de meu Pai

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(...) Meu pai nesse mundo foi um Ogum sem cavalo e sem lança. Trabalhava muito e ganhava pouco. Quando ia entrar para o serviço público, ficou doente e perdeu a chance (...)

Meu pai, Jacy, agachado à direita e na carteira profissional: Saudade!

Sentado no Colo de meu Pai

Amigos!

Meu pai me chamava de Birinha porque Bira era Ubiratan, seu filho mais velho. Eu adorava ouvir essa palavra de seus lábios. A sonoridade de Birinha me acariciava, feito uma melodia. Volta e meia, ele cantava "Amélia - a mulher de verdade". Volta e meia, ele homenageava São Jorge com seu canto, onde o Santo Guerreiro era chamado de Ogum. Acho que Ogum também adorava ouvir a sonoridade de seu nome, nos lábios morenos de meu pai. Por isso ficava ali, no seu anel de prata, deixando marcas no dedo e na alma. Morrerei sem esquecer sua devoção expressada nos pontos de umbanda que ele cantava:

"Ogum, olha sua bandeira,
É branca, verde e encarnada,
Ogum, nos campos de batalha,
Ele venceu a guerra sem perder soldados!"

Meu pai nesse mundo foi um Ogum sem cavalo e sem lança. Trabalhava muito e ganhava pouco. Quando ia entrar para o serviço público, ficou doente e perdeu a chance. Conseguiu uma casa simples com um belo quintal, em Irajá, onde fui criado. Era época do Governo de Getúlio Vargas e Irajá, um bairro pouco habitado.

Quando meu pais se separaram eu tinha seis anos. Os tempos eram outros e Getúlio, o Pai dos Pobres, já tinha entrado para história há muito tempo. Eu e minha mãe ficamos morando na casa de Irajá. Ele, sem cavalo e sem lança, foi morar de aluguel aqui e ali - melhor dizendo lá e acolá. E a vida ficou mais difícil ainda para meu velho pai. Mesmo assim, casou-se de novo. Teve outro filho, meu irmão Jacy. Eles moravam numa casa de pau a pique, ao lado de um córrego, batizado por ele de "Rio de Las Mierdas".

Dentro de mim ficou a frustração de eu nunca ter podido ajudar ao meu pai. Eu era muito novo e quando as coisas melhoraram ele já não estava mais aqui. Dentro de mim ficaram também momentos simples, inesquecíveis, de quando ele vinha em casa me buscar para irmos na casa da minha tia. Ninguém faz ideia da minha felicidade andando de ônibus com meu pai! Nem eu faço mais ideia de quanto eu pude ser tão feliz andando no 905 - Irajá/Bonsucesso... Jogar baralho, então... Eu, meu pai e o verdadeiro Bira, meu irmão!... Verdadeiro Bira, sim!... Porque hoje eu sou Birinha e estou sentado no colo de meu pai.

Abraço!
Birinha.



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