Corredor Invisível - foto de instalação composta de tênis e medalhas - Bira. |
O Corredor Invisível
Amigos!
Invisível sempre gostou de correr. Desde de criança que ele faz isso todos os dias. O pequeno Invisível corria a caminho da escola, durante o recreio e voltando pra casa. Depois disso, trocava de roupa suada e corria de novo pra brincar na rua. Quando na rua, corria atrás de pipa avoada. Curiosamente, sentia mais prazer em correr atrás de pipa do que em ficar parado empinando o brinquedo... Invisível é do tempo em que as crianças corriam.
Mas o Tempo também poderia ser chamar Invisível, pois feito este, nunca deixou de correr. Só que o Tempo Invisível não corria sozinho. Ele arrastava consigo até quem não corria. Ele fazia as crianças virarem adultos, os adultos virarem velhos e os velhos sumirem no tempo. E foi assim que o Tempo transformou o nosso Invisível em um adulto, longe de escola e de pipa, mas com tênis nos pés.
Certa manhã de domingo, o corredor Invisível estava na concentração de uma corrida no Aterro. À sua volta, cerca de 10 mil corredores, prestes a desabalar. Em meio a tanta gente, Invisível se via sozinho. Quando ali chegou, faltavam poucos minutos pra largada. Por sorte, conseguiu atendimento rápido no Porta-Volumes e teve que pular as grades para se posicionar na frente. Quando deu a partida, teve cuidado para não tropeçar e nem forçar demais o ritmo. Quis fugir do bolo de gente e ao mesmo tempo colar nos líderes. Conseguiu isso nos primeiros quilômetros, até perceber que os atletas de elite abriam e ficavam cada vez mais distantes. Por sua vez, ele também abrira uma grande distância dos corredores, digamos, normais. Foi quando Invisível ficou correndo sozinho, no limbo, entre a multidão e a elite.
Quando cruzou a linha de chegada, Invisível ganhou apenas uma medalha de conclusão. Para ele que almejava um lugar no pódio, essa medalha era um prêmio invisível. Se aguardasse mais um pouco, talvez começassem a chegar seus amigos que ainda corriam na prova, para aplacar sua solidão. Mais amuado que carente, Invisível resolveu não esperar por ninguém e se foi.
Pelo caminho retirou o número de peito e o chip descartável e jogou no lixo. Na viagem de volta pra casa, cochilou no metrô e não viu sua medalha caindo embaixo do banco. Só acordou quando o trem já estava parando na estação de destino e saiu apressado deixando a medalha. Dois dias depois, Invisível não conseguiu encontrar sequer uma foto da sua corrida, nos sites de venda. Pior ainda foi ver que seu nome não figurou na relação de quem fez a prova. Irritado, pensou consigo mesmo:
-- Ué!... Não tenho medalha, nem foto ou registro de que fiz a corrida. Não encontrei nenhum amigo no dia... Ridículo!... Chego a ficar em dúvida se de fato corri, ou se apenas sonhei!...
Precisava de alguma prova de que fez a corrida, para si mesmo. Pensou alguns instantes até lembrar das camisas que recebe nos kits das provas e que guarda no armário, pois nunca foi de correr com elas. Revirou a gaveta até encontrar a camisa da prova e espirar aliviado:
-- Ufa, não estou maluco!... A camisa está aqui!
Conformado, resolveu vestir a peça de roupa e saiu para dar um treino... O que Invisível não percebeu foi que a camisa, que pegou, era da prova do ano passado...
* * *
Todas as manhãs, Invisível corria levando consigo o Tempo que ele próprio não via ou tampouco sentia. Foi assim que passou de adulto para velho e um dia, de fato, Invisível no tempo sumiu. Hoje é o Tempo Invisível quem continua correndo por ele. O Corredor Invisível agora é o Tempo... Mas não se iluda: Isso sempre foi assim!
# FIM #
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Obs.: Postagem inspirada no fato de eu ter pedido sugestões de postagem para esse blog e não ter recebido nenhuma. Senti-me um Blogueiro Invisível, mas quer saber?... Fiz do fato uma nova postagem!
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Abraços!
Bira.
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