A única foto de criança que tenho, com apenas 1 aninho, em, 1960. |
Sobre Minha Infância...
Amigos!Nesse Dia da Criança eu não quis apenas postar minha foto de infância no perfil do Facebook, quis fazer alguns comentários sobre essa fase. Depois percebi que tal material daria uma postagem e o trouxe para cá:
Sobre minha infância (1)
Fui criado com uma liberdade que seria inconcebível nos dias de hoje. Sempre lidei com pessoas mais velhas, isso só inverteu depois que eu comecei, de fato, a correr... Faltou alguém capaz de me mostrar o quanto eu era feliz com a vida que eu tinha... Não que eu estivesse abandonado, nada disso, é que os adultos a minha volta talvez nem soubessem que eram felizes também.(06/10/12).Sobre minha infância (2)
Fui o que se chamava de filho temporão dos meus pais. Era como se eu fosse filho único, pois os meus irmãos mais velhos já eram adultos. Lembro de dois cachorros, Peri e Tupi... Nem os cachorros escapavam da mania que tinha meu pai de batizar seus filhos com nome de índio...(06/10/12).Sobre minha infância (3)
Queria ser desenhista ou escritor, já que eu me dava bem na escola nesses dois quesitos... No fim das contas, tive que dar graças à Deus por me tornar funcionário público... Já encontrei meios de ser criativo, mesmo no serviço público (pasmem!) quando trabalhei em um almoxarifado... Já consegui compensar parte dos meus sonhos de infância, pintando alguns quadros ou escrevendo postagens no meu blog... Não tenho nenhuma tatuagem no corpo, mas cicatrizes na alma, de onde alguns sonhos foram arrancados... (07/10/12).Sobre minha infância (4)
Minha mãe era a lavadeira de Irajá. Passava a manhã esfregando roupas no tanque, para passá-las à tarde. Nosso quintal era grande e tinha um monte de frutas: banana, goiaba, jaca, cajá, graviola, manga, laranja da terra, abacate e caju. Tinha um quarador de roupas, para quem não conhece - uma espécie de tapete de pedras de granito no chão. Ali ela estendia as roupas brancas para a luz do sol clarear. Quando o sol estava forte e batia nas roupas, meus olhos quase cegavam diante do brilho... Minha infância teve muito brilho, mas meus olhos às vezes cegavam... (07/10/12).Sobre minha infância (5)
Moleque precoce, eu ficava no meio da roda de adultos na esquina, até tarde da noite. Naquela época, praticamente não haviam drogas. Irajá tinha apenas dois maconheiros, assim carimbados, que não frequentavam aquela esquina do bem. O máximo que os caras da esquina faziam era misturar coca-cola com cachaça, vez ou outra, mas ninguém me oferecia. As ruas eram mal iluminadas e quando dava meia-noite, Lelo - um dos adultos - saía de fininho e ia em casa, sem que eu percebesse... De repente, na escuridão da madrugada, surgia um fantasma saindo da casa do Lelo!!!... Eu sabia que era ele que estava embaixo de um lençol... Mas todo mundo corria, simulando sobressaltos, e eu acabava me assustando de verdade... Por via das dúvidas, saía em disparada para casa!... Vai que fosse um fantasma, de fato?!... (08/10/12).Sobre minha infância (6)
A escola Francisco Sertório Portinho era o melhor lugar do mundo!... Não que eu fosse aplicado, na média eu era apenas um aluno bom. Compensava as notas regulares, obtidas nas matérias chatas, com notas excelentes das matérias prediletas. A verdade é que eu nunca gostei de ficar estudando, tinha coisas muito mais importantes para fazer naquela idade!... Feito macaco, saltava de galho em galho nas mangueiras das casas dos vizinhos.... Pulava os muros para pegar pipa avoada... Caçava rãs no brejo com as mãos!... Mas voltando à escola, amava minhas professoras!... Ainda lembro do nome da minha primeira professora, Dona Jacinta, muito embora sua imagem seja apenas um vulto... Dona Jacinta, agora, deve estar no céu, local de difícil acesso... Quando eu morrer, vou pedir a Deus para deixar eu dar uma passadinha lá e reencontrar Dona Jacinta... Nem que seja apenas para eu ganhar um beijo, um abraço e refazer sua imagem na minha lembrança... (08/10/12).Sobre minha infância (7)
Nas noites de jogo do Flamengo a calçada em frente a casa do Helinho ficava lotada... Sob o poste de luz, juntavam-se Flamenguistas e anti-Flamenguistas, ouvindo as narrações empolgantes do rádio. O Helinho, um dos meus melhores amigos de infância, era torcedor do Fluminense, mas gostava da bagunça. Para garantir a vitória do Flamengo, ele colocava um boneco do Popeye encima do muro. O Popeye tinha uniforme do Rubro Negro, esculpido e pintado no gesso. Era como um santo de gesso, que ficava impassível, sobre o muro. Um santo com postura diferente, exibindo seu muque e fumando um cachimbo sem fumaça. A entidade Popeye ouvia rezas e palavrões, enquanto o Flamengo perdia seu jogo. Para delírio dos Flamenguistas, Popeye atendia aos clamores... Era quando toda a rua estremecia ouvindo do rádio mais um grito de gol!... Aprendi a ser Flamenguista na rua, embaixo daquele poste de luz... (08/10/12).Sobre minha infância (8)
Mas nem tudo era divertido... Eu não gostava, nem um pouco, que minha casa fosse a última da rua que ainda tinha cerca de madeira, ao invés de muro. Eu já entendia algumas piadinhas maldosas encima da minha pobreza, embora quase todos no bairro fossem pobres também. Detestava, e sentia uma vergonha terrível de conduzir trouxas de roupas que minha mãe lavava, pelas ruas... Minha mãe não sabia ler e recorria a mim para rascunhar suas pules de jogo de bicho. Ela sempre ganhava no bicho!... Um dia, com apenas seis anos, eu resolvi jogar uns trocados que tinha , pela primeira vez. Deu cabra na cabeça e eu acertei!... Comprei bola, um carretel e uma bela pipa, no armarinho. Anos depois, já adulto, tive problemas com jogo por conta dessas causas remotas, mas faz dezenas de anos que tudo já foi superado. Minha infância foi muito intensa! (08/10/12).
Sobre minha infância (9)
Um momento de trauma e de forte tensão ocorreu quando minha mãe recebeu uma carta-aviso do INPS. A nossa casa já acumulava anos de prestação atrasada. Estávamos ameaçados de despejo. Ela ficou desesperada e me abraçou, perguntando o que faríamos. Imagine o desamparo que senti, embora tivesse sendo abraçado por minha mãe!... Depois tudo se resolveu, mas em algum lugar do meu peito ficaram escondidos fragmentos de medo. Meu coração ainda acelera quando eu me lembro desse dia. (08/10/12).Sobre minha infância (10)
Pedaços de tábua e de ripas viravam carrinho de bilha (rolimã). Bastava serrar a madeira, depois pregar e encaixar as rodas de aço... As ruas do bairro ganharam asfalto para delírio da criançada. Eu estava entre os mais corajosos, que arriscavam descer a perigosa Ladeira dos Marítimos. Não me lembro de tombos nos carrinhos, mas sempre que jogava pelada descalço, chutava o chão. Por mais que eu tomasse cuidado, acabava arrancando o tampão do dedão do pé direito, antes mesmo de cicatrizar o machucado anterior... (08/10/12).Talvez continue em outra postagem...
Abraços!
Bira.
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