Imagem composta de recortes de fotos da internet, utilizando os apps Gimp e Paint - Bira, 03/11/15. |
Introdução III
Morto. É assim que me sinto toda vez que levanto... A fascite plantar atirou meu humor no chão e o espalhou feito brasas. Estou pisando nas minhas próprias brasas e com elas vou virando cinza. Estou sendo cremado na fornalha desta lesão, longe dos olhos cerimoniosos dos amigos de corrida... Pobre de mim, pois ninguém recolherá meu pó!
Mas, pensando bem, é melhor que seja assim. Melhor deixar que as lufadas de vento arrastem meus ciscos em um treino derradeiro por toda a cidade. Visitarei as mesmas ruas que, em vida, reguei com gotas de sonho e suor. Agora que não suo, fluirei, pela manhã, no eco inaudível daqueles sonhos antigos.
Mas, pensando bem, é melhor que seja assim. Melhor deixar que as lufadas de vento arrastem meus ciscos em um treino derradeiro por toda a cidade. Visitarei as mesmas ruas que, em vida, reguei com gotas de sonho e suor. Agora que não suo, fluirei, pela manhã, no eco inaudível daqueles sonhos antigos.
Fragmentos de mim continuarão flutuando até o cair da noite. Na madrugada, Incorporarão no vento frio. Serei o vento que silva em resposta ao uivado dos lobos. Serei a brisa gelada que, de sacanagem, invade as frestas de sua janela e lhe provocam arrepios!...
Mas enquanto esse vento não chega, relaxe!... Continue a ler minhas memórias:
Mas enquanto esse vento não chega, relaxe!... Continue a ler minhas memórias:
Capítulo X - Meus Amigos de Corrida
Sem essa de dizer que amigo virtual não é amigo!... É sim!... Vai depender do seu grau de exigência. Foi-se o tempo que os amigos estavam sempre de prontidão para lhe dar um abraço, um beijo ou um aperto de mão. Era o tempo do "Pera, Uva ou Maçã", brincadeira que ninguém mais conhece. Agora eles rodopiam no entorno, como se você estivesse no centro de um carrocel. E o carrocel vai girando, cada vez mais rápido, até que na velocidade do rodopio eles somem!... Mas fique calmo, não se ofenda: Eles não deixarão de ser seus amigos e lembrarão eternamente dos momentos vividos ao seu lado.
Pera, Uva ou Maçã? - Música com interpretação de Paulinho Tapajós.
Já contei a história de alguns amigos corredores, neste blog, e sempre que tenho oportunidade dou um jeitinho de homenageá-los mais uma vez.
Capítulo XI - Ozéias e Meus Primeiros Amigos na Corrida
Quando me disseram que o Ozeias, um dia, foi muito gordo eu não acreditei. Conheci ele em 2008, quando já era magrinho. Estávamos correndo no Aterro, em pleno quilômetro 6 do Circuito das Estações (corrida de 10 km). Quando eu me esforçava para manter o ritmo, ouvi sua voz:-- E aí, Oliveira Belo?!...
Olhei para o lado e o vi pela primeira vez, quando ele concluiu a pergunta:
-- Não é você que corre lá na Oliveira Belo?...
Respondi que sim e nos apresentamos, com a voz ofegante de quem corre. Depois disso, cada um manteve seu ritmo e nos afastamos. Voltamos a nos encontrar em poucos dias, na referida rua da Vila da Penha. Fui convidado para correr com seus amigos que lá estariam na noite seguinte, quando voltei. Ozeias me apresentou aos demais: Adriano, Sandro, Carlão e Murilo. Fui muito bem acolhido e fizemos um treino leve. Depois fui convidado para um novo treino no final de semana. Eles fariam uma subida de 9 km da Rua Alice até as Paineiras - na Zona Sul do Rio. Seria uma atividade puxada para mim, que nunca tinha treinado em subidas, mas daria para acompanhá-los. O problema foi que, no dia, alguém resolveu mudar o trajeto. Subiríamos até o Alto do Sumaré (local das torres de TV, com 700 metros de altitude) e só depois finalizaríamos nas Paineiras, totalizando 20 km. Era demais, mas eu já estava dentro e fui. Na longa subida, fiquei muito para trás, mas completei o trajeto.
Todos esperavam que eu desaparecesse, após aquele "batismo", mas eu retornei no treino seguinte e entrei para o grupo.
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A partir da esquerda: Sandro, Jorge Ultra, Gilmara, Carlão, Um corredor de laranja, Ozéias, Adriano e eu - registro de um treino realizado na Rodovia Washington Luiz, em 2009.
Melhorei absurdamente o meu desempenho correndo com essa turma. Fizemos treinos homéricos em muitos lugares. Novos atletas entraram para o grupo - que nunca teve um nome - e, a partir dali, eu conheci um sem-número de corredores.
Capítulo XII - Amigos: de Virtual para Virtuoso
Impossível enumerar os meus amigos aqui. Em vez disso, vou descrever alguns fatos marcantes - independente do grau que a amizade conseguiu atingir.Para começar, relato a viagem que fiz para uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, a convite de um amigo, até então, virtual - Antonio Carlos de Carvalho.
"(...) Foram três horas de ônibus no trajeto de Belo Horizonte a São José do Goiabal. O barulho abafado do motor e da fricção dos pneus no asfalto, era canção de ninar. Dormi, enquanto era fim de tarde e o sol se recolhia, acordei à noite e deparei com a escuridão da mata. Liguei a luzinha de leitura, do teto do ônibus e peguei papel e caneta para descrever a cena:
"O céu da noite mineira era um papel de parede onde as nuvens pareciam ser milhares de ovelhas. Em meio a este rebanho, uma metade de lua procurava brechas para aspergir seu brilho. Mas a fraca luz do pedaço de lua não conseguiu revelar toda a brancura das nuvens-ovelhas. Seu brilho humilde projetava nelas uma tonalidade opaca, cor-de-fantasma-flutuante...
"O céu da noite mineira era um papel de parede onde as nuvens pareciam ser milhares de ovelhas. Em meio a este rebanho, uma metade de lua procurava brechas para aspergir seu brilho. Mas a fraca luz do pedaço de lua não conseguiu revelar toda a brancura das nuvens-ovelhas. Seu brilho humilde projetava nelas uma tonalidade opaca, cor-de-fantasma-flutuante...
"Enquanto as nuvens-ovelhas-fantasma dormiam, o pedaço de lua se exibia para os olhos de Minas Gerais.
"Na janela do ônibus que risca uma estrada de subidas e curvas, o olhar humano se adapta, enxergando no quase escuro. Uma casinha distante parece perdida na mata escura, onde alguns pontos de luz são semelhantes às poucas estrelas visíveis no céu..."
Mas foram as fortes luzes do ônibus se acederam pondo fim ao meu devaneio poético... Às oito e meia da noite, eu chegava na pequena Goiabal, onde Antônio Carlos, seus familiares e o italiano Giuseppe Giampaoli me esperavam. Apesar da corrida programada para o dia seguinte, conversamos até meia-noite na praça principal. (...)" - da Tríade: Antônio Boca e Coração, BiraNaNet.
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Vídeo da Corrida de Miguel, em São José do Goiabal - MG.
Embora não o conhecesse, pessoalmente, fui convidado pelo Antônio Carlos para uma corrida em prol da construção da Casa de Miguel - local de acolhimento de crianças e formação de atletas em São José do Goiabal. Troquei algumas "milhagens" pela passagem de avião e fui registrar o evento para postar no blog. Lá chegando, fui surpreendido com a história de vida de Antônio Carlos, que desistiu do atletismo para tentar a sorte em Roma. Para isso, teve que deixar no Brasil mulher e filho e sua história foi relatada na tríade: Antônio Boca e Coração (link acima).
Voltarei a falar dos amigos que a corrida me deu, mais adiante...
Capítulo XII - Minhas Cinzas Virtuais
O homem de hoje pode ser dividido em duas partes: uma real e outra virtual . Dependendo do indivíduo, o percentual de cada lado varia. A impressão que nós temos, é que o lado virtual vai aumentando cada vez mais, em todas as pessoas. Cada gesto presencial é registrado com selfies e filmes, que são imediatamente postados na plataforma virtual. Ali, os homens depositam sua memória, que podem ser deletadas do histórico ao se romper relações.Talvez minhas cinzas virtuais sejam impulsos ou bits, que quando observados viram pixels... Talvez, a maior parte de nós já seja formada de conteúdo virtual... Um profeta do apocalipse, há pouco, me disse:
-- Tome cuidado!... Esses homens virtuais não resistirão ao Grande Apagão que se aproxima!
Continua nas próximas postagens...
Link paras as postagens da série Memórias Póstumas de Um Corredor
Abraços!
Bira.
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