Terapia Para Corredores Lesionados
...A impaciência de esperar por uma cura que nunca chega e a promessa de por em prática um Plano B, nunca concretizada, pois tudo que se deseja é voltar a correr... |
Amigos!
Deu cinco da tarde, de domingo, quando o sol que castigava o Rio se escondeu atrás de nuvens carregadas. A chuva de verão seria quase certa, a não ser que o vento furioso arrastasse o aguaceiro para o mar. Aparentemente, eu não tinha motivos para estar triste, mas estava... Então me aproximei da minha mulher que assistia um filme e falei: "Edna, a corrida está me fazendo muita falta!..."
O sininho do Messenger tocou anunciando mensagem no meu celular. Era minha amiga Katia Abreu, que há muito não vejo e voltou de Paris para o Rio, dizendo: "Bira, vi sua foto no Facebook... Você parece um monge!... Você está pintando ou escrevendo?" Não daria para responder com o teclado virtual do celular. Disse apenas que estava, há muito, lesionado e sem correr, depois marcamos um almoço.
Do basculante do banheiro eu percebi que o céu ficou ainda mais fechado, e me perguntei: "Há quanto tempo não corro na chuva?!..." Respondi a mim mesmo vestindo a roupa de corrida, como quem diz: "Dane-se a lesão!...Vai ser agora!"
Saí para correr esperando a chuva desabar sobre mim e a cidade, mas ao longo de 17 km o tempo se firmou. Percorri trajetos usuais, ida e volta, entre Irajá e Bonsucesso. A fascite plantar não quis me incomodar, mas estava ali nos pés, qual um fantasma. Eu fingia que a ignorava, retirando o suor da testa com o dedo indicador, feito de um limpador de para-brisas. Eu estava suando de novo!... para ficar perfeito, só faltava ter inspiração para escrever uma crônica do tipo Eu Faço o Meu Tempo, que me veio à mente enquanto eu corria. Mas a ideia que tive foi a de escrever sobre Terapia Para Corredores Lesionados, então vejamos:
Terapia Para Corredores Lesionados
Ninguém gosta de falar de lesão, mas isso pode acontecer com qualquer um. Pior ainda se o problema se estende por meses ou mais de um ano, como é o meu caso. Todos os benefícios obtidos com anos de corrida ficam ameaçados. A barriga, antes sequinha e invejada, fica saliente e desperta a atenção de uma amiga dentro do elevador, que diz: "Parou de correr?... Estou percebendo uma mudança no seu 'shape'..." O comentário me deixa meio sem graça e sem tempo de responder adequadamente até que o elevador chegue ao andar de destino. Só me resta emitir um sorriso labial e fazer um comentário sobre a previsão do tempo - muito mais próprio para quem está em um elevador.
Chato também, é o corredor ter que ficar repetindo que está lesionado toda hora aos amigos que perguntam como estão os treinos. Tem hora que ele não quer tocar nesse assunto. Tem hora que ele quer ignorar que está lesionado, simplesmente para não ressentir do fato. É quando ele entra nas redes sociais e vê todo mundo correndo. É quando ele recebe um monte de convites para um monte de treinos e corridas... Aí, se ele tiver num bom dia, dirá para si mesmo: "Tenha calma, tudo vai passar!..." Mas se o dia for ruim, a vitimização é certa: "Por que isso aconteceu logo comigo?!"
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À medida que o tempo vai passando e a lesão não se desfaz, o corredor pode perder a auto-estima, isolar-se dos amigos ou ficar deprimido. Por sorte, a maioria dos corredores têm vida regrada, então não acredito que possam recorrer ao excesso de álcool ou drogas ilegais - a não ser que tenham utilizado a corrida para livrar-se delas, anteriormente. Mas esses seriam casos extremos e pontuais...
Por experiência própria, eu constatei um aumento gradual de irritabilidade e perda de humor. A impaciência de esperar por uma cura que nunca chega e a promessa de por em prática um Plano B, nunca concretizada, pois tudo que se deseja é voltar a correr e não simplesmente substituir a corrida.
Foi pensando nisso tudo que eu liguei para um amigo, o psicólogo Dr. Horácio Holanda e expus o fato. Falei da quantidade cada vez maior de corredores de rua em nosso país e da necessidade, a meu ver, de se criar grupos de terapia para corredores lesionados. Coordenadas por profissionais como Holanda, o grupo corredores lesionados seria conduzido na partilhar de suas dificuldades e na busca do equilíbrio emocional, naqueles momentos difíceis.
Pelo que sei, não existem grupos de terapia com esse perfil, mas se houvesse eu não relutaria em participar. É muito mais fácil partilhar com pessoas que têm problemas semelhantes, até que tudo se resolva e a vida volte à normalidade, seja o problema que for.
Abraços!
Bira.
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