As Aventuras de BiraNaNet - Cap. I

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(...) Eu não precisaria dormir para ter belos sonhos na tarde-véspera da Corrida de São José do Goiabal. Bastaria manter os olhos abertos, enquanto viajava, oriundo de BH para aquela cidade. Bastaria olhar pela janela do ônibus, que fluía nas curvas do asfalto, subindo montanhas ou mergulhando nos vales mineiros cobertos de verde (...)


Montagem feita com recorte de imagens da corrida infantil em São José do Goiabal.



Amigos!

Quando corredores de todo o Brasil vieram para o Rio participar da Meia Maratona Internacional, era agosto de 2013. Enquanto os atletas chegavam, aos milhares, na Cidade Maravilhosa eu dela saía, rumo aos vales do leste de Minas Gerais. Meu destino era São José do Goiabal, uma cidade pequena e desconhecida, com pouco mais de 6 mil habitantes. Minha tarefa era cobrir uma corrida amadora, para meu blog amador. A prova não teria mais de 50 participantes... Isso mesmo: eu havia trocado um evento, com 20 mil corredores, pela pequena e distante Corrida de Goiabal. 

Olhando assim, ninguém diria que eu havia feito uma boa escolha, mas foi o que fiz!... Graças àquele gesto, conheci a bela história de um herói anônimo, que postei neste blog em três partes. Agora, para inaugurar a série Aventuras de BiraNaNet, escolhi reeditar a história do atleta Antônio Carlos de Carvalho, confira em:

As Aventuras de BiraNaNet - Cap. I

Primeira Parte: A Corrida de São José do Goiabal

a) UM CONVITE INUSITADO

Foi atendendo a um convite, feito pelo Facebook, que eu resolvi viajar para São José do Goiabal. Quem me convidou foi o corredor Antônio Carlos de Carvalho, que organizaria uma corrida infantil no local. Eu não conhecia Antônio pessoalmente, apenas pela Internet. Ali observei as fotos de seu projeto social "Casa de Miguel", que incluía a tal corrida. Fiquei curioso e combinei minha ida. Comprei passagens de avião para Belo Horizonte, e projetei chegar a Goiabal algumas semanas depois, num sábado à noite, véspera do evento. Pernoitaria na cidade e retornaria domingo, assim que a corrida terminasse. Então projetei:

-- Vou fotografar e filmar as crianças correndo, fazer perguntas e compor uma postagem... Não vai ser nada de excepcional, mas está bom tamanho. Vou viajar, conhecer o lugar e algumas pessoas...

Pensei isso sem imaginar as surpresas que teria pela frente.

b) AS PAISAGENS MINEIRAS NA JANELA DO ÔNIBUS

Eu não precisaria dormir para ter belos sonhos na tarde-véspera da Corrida de São José do Goiabal. Bastaria manter os olhos abertos, enquanto viajava, oriundo de BH para aquela cidade. Bastaria olhar pela janela do ônibus, que fluía nas curvas do asfalto, subindo montanhas ou mergulhando nos vales mineiros cobertos de verde. Quando o sol se pôs, durante a viagem, eu já tinha caído no sono. É que eu fui ninado pela vibração do motor, acrescida do chiado que sai dos pneus em contato com o solo. Quando acordei já era noite e todo verde havia apagado. Liguei a luzinha de leitura, do teto do ônibus e peguei papel e caneta para descrever a paisagem noturna, no texto a seguir:

"O céu da noite mineira era um papel de parede onde as nuvens pareciam ser milhares de ovelhas. Em meio a este rebanho, uma metade de lua procurava brechas para aspergir seu brilho. Mas a fraca luz do pedaço de lua não conseguiu revelar toda a brancura das nuvens-ovelhas. Seu brilho humilde projetava nelas uma tonalidade opaca, cor-de-fantasma-flutuante... 

"Enquanto as nuvens-ovelhas-fantasma dormiam, o pedaço de lua se exibia para os olhos de Minas Gerais.


"Na janela do ônibus que risca uma estrada de subidas e curvas, o olhar humano se adapta, enxergando no quase escuro. Uma casinha distante parece perdida na mata escura, onde alguns pontos de luz são semelhantes às poucas estrelas visíveis no céu..."


De repente, as luzes do ônibus se acenderam, anunciando a chegada a São José do Goiabal e interrompendo meu texto. Eram oito e meia da noite e eu desci na praça principal. Fui recebido por Antônio e o italiano Giuseppe Giampaoli. Permanecemos trocando idéias no banco da praça por cerca de 40 minutos, tempo de nos conhecermos um pouco. Eu tinha uma série de perguntas sobre a corrida e o projeto social. Aos poucos fui recolhendo as peças de um quebra-cabeças, montando e revelando a bela história do atleta Antônio Carlos de Carvalho.

>> clique nos botões para curtir e compartilhar esta postagem, no final do texto. 

Descobri que ele era nativo daquela cidade, mas há anos migrou para a Itália onde nasceu sua segunda filha. Giampaoli, seu amigo romano, não falava Português com perfeição mas se fazia entender. Além disso, parecia entender nossa conversa na qual também participava. O tempo seria curto para que eu montasse toda história de Antônio. Então ele me levou para a casa de seus familiares onde um churrasco nos aguardava. Fui recebido com hospitalidade, como se todos já me conhecessem. Fiquei à vontade, mas não queira desgrudar de Antônio para fazer mais perguntas e anotações. Até que deu a hora de dormir para acordar cedo no dia seguinte.

Antes de dormir, liguei o notebook e rascunhei a comovente história de Antônio, que será contada na próxima postagem. A seguir, vou descrever apenas como foi a corrida.

c) COMO FOI A CORRIDA.

Em frente à semi construída Casa de Miguel, sede do projeto social que pretende abrigar e orientar crianças na prática esportiva, seria dada a largada para a corrida infantil. Embaixo de um pórtico inflável, juntaram-se 40 crianças, sem distinção das idades. Elas haviam ganhado números de peito e camisas da prova no tamanho adulto. Quando vestidas nas crianças menores, as camisas pareciam vestidos. Tudo, porém, era motivo de graça, naquele ambiente infantil. O que prevalecia eram os sorrisos, mesmo no rosto daqueles que corriam descalços ou de sandálias.

Quando tudo estava pronto, Antônio ordenou que fosse dada a largada. Para que ninguém se machucasse foi à frente, tentando conter as crianças. Seria apenas uma volta em um quarteirão de 100 metros. Foi uma festa singela que a cidade não poderia ignorar, mas ignorou.

Depois das crianças, foi a vez dos adultos. Alguns corredores amigos vieram de João Monlevade, cidade vizinha. De São José do Goiabal quase não tinha ninguém. Mas se Goiabal não foi à corrida, a corrida foi à Goiabal. Cerca de 20 corredores percorreram várias ruas da cidade, sobre o chão acidentado de pedra ou terra batida.

Corredores encaram o chão de pedra de Goiabal, desviando-se dos carros.
Acompanhei a prova da carroceria de uma caminhonete que seguia à frente, pronta para abrir caminho, feito batedor. Seu motorista também tinha instalado uma câmera, na carroceria do veículo, para colher as imagens da prova. Dado momento, um carro mal estacionado quase atrapalhou o andamento da prova. Minutos depois, foi a vez de uma carroça quase obstruir o caminho. Não me lembro agora da quilometragem total do percurso, mas foi cerca de oito quilômetros. Eu consegui me equilibrar sobre a pick up, assistindo ao estranhamento dos transeuntes perante a passagem dos corredores. Eu só não anotei o nome dos vencedores da prova, pois todos éramos vencedores!

Depois da corrida, foram distribuídos os troféus e lanches na Casa de Miguel, onde as crianças também recrearam. Não tardei para ir embora, no próximo ônibus, rumo ao aeroporto de BH.


d) A CONTINUAÇÃO DESSA HISTÓRIA.

Voltei de Goiabal ainda cheio de dúvidas sobre a história de Antônio. No dia seguinte lhe telefonei para colher alguns detalhes e concluir a montagem do quebra-cabeças que inclui outras "peças" como o italiano Giuseppe e a Casa de Miguel... Mas isso é assunto da próxima postagem, em: Aventuras de BiraNaNet - Cap. I, 2ª Parte.

Crianças admiram os troféus, antes da premiação.

Abraços!
Bira.
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