Montagem com recorte de foto pessoal e imagens da internet - Correndo no Céu - Bira, 05-01-16. |
O Corredor, A Cidade E O Lixo...
Amigos!
Ontem eu estava correndo na pista de pedestres da Avenida Oliveira Belo, na Vila da Penha, quando reparei três senhoras idosas terminando uma caminhada. Uma delas dava o último gole em uma garrafa pet de coca-cola que, gentilmente, descartou no chão sob os olhares de suas amigas. Digo "gentilmente" porque aquela senhora não atirou a garrafa no asfalto, mas a camuflou no cantinho de uma mureta - a dez metros de uma lixeira. Minha reação foi automática e falei:
-- Ôh, minha senhora!... Não joga lixo no chão... Vê se pode?... A senhora já não é mais criança!...
Falei isso enquanto recolhia a garrafa e colocava no lixo. Um outro corredor, que passava, apenas riu da situação sem expor o que pensava. Confesso que senti um pouco de remorso por chamar atenção de uma pessoa que podia ser minha mãe, mas prossegui correndo e refletindo para dirimir a culpa que gerou esse conflito.
Logo que encerrei a corrida, pisei acidentalmente numa embalagem de suco de graviola que outra pessoa descartou no chão. O líquido espirrou com força, lambuzando por completo as minhas pernas, além de sujar minha bermuda. A sorte foi ter um posto de combustível por perto onde eu me lavei e sorindo pensei:
-- Será que as velhinhas rogaram praga em mim??
* * * * *
Hoje de manhã, entrei no Facebook para ver o que meus amigos postavam e, coincidentemente, o assunto era o lixo deixado nas praias do Rio. Li os comentários que criticavam a postura do povo e me lembrei que no subúrbio, onde eu moro, a coisa é bem pior. Quem anda nas ruas deve ficar atento para não tropeçar na sujeira. Quem corre na beira da estrada, tem que saber se desviar da lixarada...
Como Correr Desviando do Lixo?
Aprendi a correr desviando de buracos e sacolas de lixo, da mesma forma que aprendi a olhar para cima, nas calçadas de Irajá. Não bastasse a sujeira que jogam no chão, sempre tem um cano despejando a água da lavagem do terraço sobre um pedestre incauto.Uma sucata de carro foi abandonada no meio-fio. Uma dezena de camelôs tomaram conta da calçada, por onde os motociclistas também cortam caminho. Mais adiante, um bando de urubus se empoleiram nos postes de luz. Eles estão de olho na galinha que jaz em um despacho, e aguardam o momento de dar o bote. Alguém taca fogo num monte de pneus velhos que foram despejados na esquina. A fumaça negra se espalha, mas não consegue acordar um usuário de crack, que dorme em um colchão imundo, sob a marquise do metrô.
Se de manhã a limpeza urbana passa deixando as ruas limpas, não demora muito para a sujeira retornar. Sempre que corro, no subúrbio, reflito sobre isso. Reflito sobre os decibéis de lixo sonoro que invadem meus ouvidos... É inquestionável que o subúrbio está repleto de lixo, muito mais que as praias da Zona Sul.
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Mesmo assim, é possível entender que dentro da meia-água, de uma favela que margeia a estrada, não há espaço para as pessoas armazenarem o lixo que é jogado na rua. Mesmo assim, é possível entender que o camelô, que ocupa uma calçada, tenta sobreviver. É possível entender que o usuário de droga é um doente e até que o motociclista não teve educação. Entender que os despachos que apodrecem na encruzilhada poluem tanto quanto o barulho estridente de certas igrejas, e que, mesmo assim, manifestam a busca religiosa de alguém. Tudo aquilo que causa desordem urbana no subúrbio pode ser justificado dessas formas. E se assim entendemos, estamos diante de um conflito. É um conflito idêntico ao que eu tive quando chamei a atenção uma senhora que poderia ser minha mãe, no começo desta história, ao invés de tentar entender suas limitações.
O subúrbio e as pessoas parecem ter mais limitações do que limites. Para entender tal fato, eu precisei pisar num frasco de suco de graviola descartado na rua, na cena já descrita. Precisei xingar um palavrão, naquele momento, mas em seguida rir da situação para não deixar que a poluição das ruas invadisse meu peito.
Correndo e vivendo no subúrbio eu percebi que acima do cano que atira água sobre quem passa na calçada existe um céu azul. Percebi que o céu do subúrbio não difere do céu dos mais belos lugares e descobri que o mundo é igual, quando se está no céu.
Abraço!
Bira.
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