Gif animado Correndo na Chuva - Bira, 25-02-16. |
Pode parecer loucura, mas eu precisava correr na chuva. Não uma chuva comum, mas uma tempestade de verão, daquelas que desabam no fim da tarde. Esta semana eu estava de férias e fiquei de vigília olhando para o céu. Esperei, várias vezes, o sol se exaurir e se esconder atrás das nuvens carregadas. Sempre que o vento enfurecia, eu saía para treinar. Encarava as nuvens de poeira no rosto e as trovoadas nos ouvidos. Mas a chuva que chegava não era suficientemente forte por onde eu passava, até que chegou sexta-feira...
Comecei a correr antes que caíssem os primeiros pingos. O trânsito de final de tarde era intenso e me forçava a subir nas calçadas. A ventania fazia sacolas plásticas de supermercado dançarem, tristemente, feito pipa avoada no ar. Ela atirava poeira e grãos de areia nos meus olhos, fazendo-me quase parar. Torci para que os primeiros pingos caíssem, de vez, para a poeira findar. E os pingos desceram pesados, frios e acelerados pelo vendaval. Outdoors ameaçavam desabar numa calçada. Galhos de árvores quebravam e despencavam de fato. Um deles, bem grande, caiu à minha frente, quase encima de um abrigo de ponto ônibus. Um casal que lá estava sorriu disfarçando o medo. Também disfarcei meu medo correndo mais forte. Por sorte, os raios riscavam o céu bem longe dali, de onde os estrondos chegavam feito um fundo musical. Foi quando um tremendo aguaceiro desmoronou de vez e o vento, enfim, se acalmou.
Pronto!... Lá estava eu correndo na chuva do jeito que queria! Imediatamente lembrei das peladas animadas pelas tempestades de verão, nos tempos de criança. Apesar de tantos anos, ainda tinha um pouco daquela euforia estocada dentro de mim. Comparei os dois momentos e pensei:
-- Eu que Agora pisava nas poças d'água com pés protegidos, estava muito mais sujeito às lesões do que quando era criança e corria descalço...
O aguaceiro ficou mais intenso, reduzindo a visibilidade para poucos metros. Multipliquei minha atenção nos automóveis para não ser atropelado e prossegui. Transeuntes se abrigavam embaixo das marquises, enquanto eu me abrigava na própria tempestade. A roupa de corrida grudava no corpo totalmente embebido, feito toda cidade.
Todas as Idades de Lindalva... - 70 anos de história da corredora Lindalva Figueiredo.
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A temperatura caía mas eu fervilhava. Aquela chuva fria causava uma sensação maravilhosa ao tocar no meu corpo quente. Comecei a correr sem sentir o esforço que fazia, apenas o ar que entrava para dentro de mim. Aquele ar alimentava meu corpo e ventilava minh'alma. Ninguém poderia entender o que acontecia dentro do meu universo. Ninguém que me visse cruzar a esquina, correndo feito um louco no temporal poderia entender o prazer que eu sentia!...
Eu precisava correr na chuva, para compensar todo tempo que fiquei sem correr!
Abraços!
Bira.
1 comentários:
Excelente!
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