Descanse Enquanto Corre!

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(...) Bastaria uma caminhada para "descansar a mente"... Mas não é só isso. O melhor do banquete é dado para o corredor que está no auge da forma (...)

Corredor Plasma - gif animado composto com recortes de imagens da internet - Bira, 10-03-16.

Descanse Enquanto Corre!

Amigos!

Eu me lembro bem, não é de hoje que isso acontece comigo. Foi lá nos anos 80 que eu já descansava correndo...

Naquela época, meu trabalho era braçal em uma madeireira. Eu era conferente, mas ajudava os peões a descarregarem imensas carretas com tábuas de pinho. Fazia isso para ganhar músculos e parte das gorjetas dos carreteiros. Lembro que a peãozada tinha relógios nos estômagos: dava onze da manhã e a fome não deixava ninguém esquecer de colocar as marmitas na estufa. Às cinco e meia da tarde eu largava. Chegava em casa de noite, bastante cansado, mas ia para a rua correr.

Eu me lembro como se fosse hoje, eu vivi uns três anos assim: trabalhando duro de dia e correndo à noite, para descansar... Isso mesmo: eu descansava correndo! Durante e depois dos treinos, eu nem tinha ideia de que, dentro de mim, a beta-endorfina provocava sensações de relaxamento e bem-estar. Naquela época, não havia multidões de corredores, como hoje, nem uma internet acessível, explicando o que são endorfinas. As endorfinas eram recém-descobertas e a internet, extremamente restrita. Mas pessoas, como eu, não precisavam entender de internet ou endorfinas para correrem, ignorantes e felizes. Fui feliz, até que tive crises de cálculos renais que me afastaram da ativa e eu parei completamente.

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Em 2008 voltei a correr, quando já não era nenhum um garoto e precisava vestir os óculos para ver o mundo na tela de um computador. A internet já era realidade pra mim e as endorfinas, como tantas outras coisas, já haviam chegado ao conhecimento geral. Os relatos dos efeitos deste hormônio natural deixaram os livros de ciência, ganhando as páginas de sites e revistas. Os velhos jornais de papel deixaram as bancas e, digitalizados, entraram na "nuvem". Tanta gente também entrou na "nuvem" para imprimir suas ideias!... No céu virtual, eram tantas ideias que elas se chocavam, causando tempestades e crises reais. As redes sociais pareciam trazer mais boçalidade que inteligência, mas não deixavam de atrair cada vez mais público. Nesse caldo da rede estavam os amigos, que não deixavam de atrair cada vez mais amigos. Então surgiram os amigos virtuais, que eram novos corredores amigos... E eles eram muitos!... Foi assim que começamos a marcar treinões coletivos para que todos se conhecessem, fora do Facebook. Deixávamos de dividir os pixels para compartilhar a água e o suor...

Mas voltando ao assunto de "descansar correndo", creio que isso ocorre em vários níveis. Mesmo para aqueles que ainda estão começando a se mover. Bastaria uma caminhada para "descansar a mente"... Mas não é só isso. O melhor do banquete é dado para o corredor que está no auge da forma, ou seja, cujo corpo está totalmente adaptado ao treinamento. Quando o ritmo do atleta flui, o corpo parece correr sem precisar de comando. Uma corrida invisível também se dá nas vias internas do organismo, carregando ar para as células arderem de energia e calor. É quando o mesmo ar que alimenta essas chamas internas, também ventila e refresca a pele do lado de fora.

Nos capilares do organismo é lançada a endorfina. O prazer e o bem-estar convertem a alma que infla e se espalha para além do corredor. É quando tudo fica pequeno, diante dos olhos da alma, que o atleta se liberta e descansa, embora em pleno movimento. Esse momento de descanso pode ser breve, na medida que se faz intenso, ou perdurar mais um pouco. Já batizei, em outra postagem, como  O Momento X - "eterno enquanto dura" na memória de quem já sentiu.

Sim, é possível descansar correndo, bem como viajar nas próprias substâncias que a natureza colocou dentro da gente!

Abraço!
Bira.


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2 comentários:

JULIAN RUNNER disse...

Bira,

Muito boa o texto que nos brindou.
Esta sensação que vc relata também sinto nos treinos.
Eu a chamo de "piloto automático". É quando a gente se movimenta num rítmo constante, sem perceber conscientemente o que está acontecendo. É uma espécie de abstração do mundo real. Nestes momentos me parece que descansamos mais ainda.
Parabéns pelo texto.

Julian
www.julianrunner.com.br

Gilson disse...

Belo relato Bira!