Sol,Medalha ou Lua - gif animado com recortes de imagens da internet - Bira, 12-05-16. |
Correndo às Cinco da Tarde
Amigos!Quando o Bira foi correr, já era cinco da tarde e o sol ainda pendia entre as pipas no céu. Dava para perceber a noite se aproximando, pelo avanço das sombras nas calçadas. Dava para ver o aumento do fluxo dos automóveis e do movimento de pessoas na estação do metrô. Ele deveria ter evitado passar no centro do bairro, mas se distraiu e tomou aquele rumo. Só deu conta do fato, quando foi obrigado a caminhar para evitar esbarrões.
Quando o Bira se livrou do engarrafamento de carros e de gente, tomou um rumo mais seguro para correr pelos bairros - se é que se pode chamar de "seguro", nos dias de hoje, qualquer trajeto escolhido. No subúrbio, onde ele mora, os perigos estão por todos os lados. Acho, até, que o Bira corre para fugir dos perigos e fica nos iludindo ao dizer que é atleta!... Acho, também, que o Bira deve ter percebido que pode ser muito mais perigoso viver escondido dentro de casa.
Quando o Bira foi correr, já era cinco da tarde e o outono amarelava as ruas, no brilho do sol. Aos 56 anos, o Bira era como um sol, do fim de tarde, que reluta para manter-se pendente no céu. Às vezes ele se pergunta por quanto tempo ainda correrá. Nos últimos anos, algumas lesões enturveceram o seu céu, mas ele não desistiu e encarou as tempestades. Correndo bem menos, ele perdeu a condição de fazer maratonas - sua prova predileta. Ele também perdeu o seu Garmin, mas isso é o de menos, pior foi perder a vontade de comprar outro Garmim. O lado bom é que hoje ele corre sem se preocupar com a medição de tempo ou distância. E foi por isso que anoiteceu, enquanto ele trilhava as ruas de Olaria.
Quando o Bira se esquivou de um carro que encostou no meio-fio, ele pulou para a calçada e deparou com outro carro!... No subúrbio onde ele mora, os carros se esparramam e as pessoas só reclamam quando estão do lado de fora. Bira conformou-se e continuou a correr sob os postes de luz amarela. As luzes brancas dos faróis ofuscaram o seu olhar de contra-mão. Para não ser atropelado, ele aguçou os ouvidos. Para não tropeçar, ele ativou os sensores dos pés. Acho, até, que o Bira corre para sentir melhor o mundo e fica nos iludindo ao dizer que é atleta!... Acho, também, que o Bira deve ter percebido que pode ser muito mais arriscado não correr riscos.
Quando o Bira foi correr, já era cinco da tarde e a noite chegaria antes do final de seu treino. Uma noite de sombras e luzes; de buracos, lombadas e riscos; de cachorros raivosos que latem detrás do portão; de passantes que lhe olham um olhar enigmático; de fim de treino, após percorrer 17 quilômetros; de orgulho e de gratidão...
Quando Bira olhou para o céu, no fim do treino, já não era cinco horas há muito tempo. Ele queria encontrar a lua, cheia e brilhante feito uma medalha! Queria colher a lua com as mãos e colocá-la no peito, mas a lua não estava lá... Apenas na sua imaginação!
Abraços!
Bira.
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