Toda Vida em Segundos!

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(...) Olhei, mas só deu tempo de levantar os braços, dar um grito e vibrar... Era muita energia que a moça espalhou no ar! Era uma lufada de vento personificada em poucos segundos (...)

Cris passou sorrindo e voando a sessenta metros da chegada da Maratona do Rio... Como não vibrar?  -  Sobreposição de imagens com recortes de fotos de arquivo pessoal - Bira, 03-06-16. 

Toda Vida em Segundos!

Amigos!

Fiquei ali, na torcida, a poucos metros da linha de chegada da Maratona do Rio 2016. Eu amparava com os olhos os corredores que chegavam esgotados, como se assistisse a mim mesmo. É que eu podia entender o que eles sentiam, depois de encarar 42 km de asfalto e sol. Tantas vezes eu já chorei o mesmo choro de alegria; outras tantas, eu já sorri o mesmo sorriso de cansaço!...

De repente uma corredora surgiu em disparada. Sua energia destoava de todos que ali passavam. Foi Siro, meu amigo, que avisou:

-- Olha essa menina, como corre!

Olhei, mas só deu tempo de levantar os braços, dar um grito e vibrar... Era muita energia que a moça espalhava no ar! Era uma lufada de vento personificada em poucos segundos, mas imediatamente esquecida, como todo vento que passa... Então continuei ali mais um pouco; revi amigos e depois fui pra casa.

Quatro dias depois vi que alguém me procurava no Facebook. Era a corredora Cristina de Araujo, mostrando sua foto, nas proximidades da chegada na maratona, com um tal "torcedor desconhecido" ao fundo... Cristina era a moça da cena anterior e o "torcedor desconhecido" era eu. Ela queria me localizar para dar um abraço de agradecimento. Eu fiquei surpreso, um tanto sem graça, porque não tinha noção de que fizera algo tão importante. Quis lhe explicar que minha vibração foi um reflexo do vigor que ela própria emanou. Dizer que ela me pegou de surpresa, feito uma lufada arrancando o boné de um corredor.

Conversei com Cristina, por enquanto, no WhatsApp. Ainda não marcamos o abraço, mas vou contar sua história aqui...

1- Oito Meses em Cinco Segundos!

Quando Cristina Maranhão de Araujo, 45, cruzou à minha frente, em cinco segundos, eu não teria como imaginar seus oito meses de preparação para estar ali. A carioca do Flamengo é disciplinada e faz questão de seguir as orientações, da treinadora Luciene Cury, à risca. Fez isso para ter sucesso nesta sua primeira maratona. Chegou a correr 120 km por semana, no período mais intenso dos treinamentos. Sonhava em completar a prova com 3:30 h, mas cometeu o erro de largar na retaguarda, onde enfrentou muitos encaixotamentos do Recreio à Avenida Niemeyer. Aumentou o ritmo no Leblon, intensificou as passadas em Copacabana. Percebeu que estava muito bem, e teve certeza que concluiria a prova. Percebeu no relógio que havia perdido muito tempo, para quem pretendia chegar abaixo de 4 h, pelo menos. Acelerou ainda mais as passadas e ouviu um rapaz gritar: "Sensacional!!!" Foi quando ficou emocionada.

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2- Oito Anos em Meia Hora de Ligação!

Pelo telefone, Cris me contou que começou a corre há oito anos. Ela saiu das esteiras e bicicletas de academia para encarar seus primeiros 5 km no Circuito das Estações em 2008. Permaneceu feliz, cumprindo o objetivo de emagrecer, até bater com seu carro e ficar dois anos e meio parada (entre 2009 e 2012). Quando melhorou das dores na coluna, procurou uma assessoria esportiva para voltar às corridas. Deu certo, e ela galgou diversas provas, aumentando progressivamente as distâncias. Descobriu que preferia os percursos mais longos, mas lhe faltava fazer uma primeira maratona - a Maratona do Rio.

-- Não falei para quase ninguém. Queria fazer a prova para depois falar. - contou Cristina, e depois revelou: -- Essa corrida veio num momento especial na minha vida. Durante os preparativos eu treinei muitas vezes sozinha, aplicando muita energia e muito foco. Como resultado, eu obtinha melhora de humor... Saía para correr e voltava renovada... A corrida me fez perceber que, antes dela, eu estava muito chata!... Por várias vezes eu saí para correr cansada e voltei pra casa recuperada!

3- Os Cinco Segundos que Vão Durar Toda Vida!

Foi curioso ouvir Cristina dizer que não sentiu nada no momento que completou a grande corrida. Ela, que tinha assistido um vídeo, onde os corredores chegavam aos prantos, ficou na expectativa de que isso também ocorresse com ela, mas nada!... Cruzou a linha de chegada, ganhou sua medalha e se dirigiu, automaticamente, para o guarda-volume. Não encontrou ninguém nem no celular descarregado. Foi curioso saber que a emoção de sua chegada só foi percebida por ela através daquela foto batida a poucos metros dali. Talvez seja por isso que ela ficou tão grata ao me ver na imagem, um "torcedor desconhecido", vibrando. Ainda bem que aqueles cinco segundos se eternizaram num clique de emoção congelada. Ainda bem, que ínfimo instante de um clique - que dura muito menos que cinco segundos - pode conter toda a vida!

Abraços!
Bira.


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