Corrida: Comprometa-se ou Morra!

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"Comprometa-se ou Morra!" - imagem composta de recortes da internet, com Gimp e Paint. Bira, 10-11-18.

Corrida: Comprometa-se ou Morra!

Amigos!

O sol atravessa as nuvens, rompe o mormaço e aterriza nas minhas costas. Eu já corri uns 15 quilômetros e agora desço o Viaduto Lobo Júnior, na Penha Circular. Fico indignado com o cansaço que se abate sobre mim. Quero correr um pouquinho mais rápido, mas não tenho gás. Preciso atravessar a rua, neste trecho, e paro para aguardar o melhor momento. Refugio-me na sombra de uma árvore:

-- Como é duro voltar de lesão! - lamento para ninguém.

Pronto, a fila dos carros que passam dissipou e eu não tenho mais desculpas para ficar em baixo desta árvore. Enxugo a testa, sorvo um pouco de ar e confiro o relógio:

-- 1 h e 35 min de trote, com média acima de 6 min por quilômetro... Afh!... Como pude me cansar correndo tão pouco e tão lento? - lamurio para mim.

Tenho vontade de parar de vez, mas só restam 5 km para cumprir a meta dos 20 - de Irajá até Ramos, ida e volta. Achei que faria um treino comum e não pensei nos dois meses que eu estive parado...

Naquele período, uma lesão me impediu de correr. Bem que eu tentei, algumas vezes, mas de brinde ganhei dois tombos. Senti o asfalto duro ralar meus joelhos, quebrar meus óculos e deixar marcas nas palmas das mãos... Que fase! Meu refúgio foi passar os dias mexendo no WhatsApp, repleto de mensagens da campanha política. Parei de me pesar na balança do banheiro, para não ficar mais frustrado ainda. Enquanto isso, novembro se aproximava e eu só teria três meses para a Maratona do Vinho, meu próximo compromisso.

Agora, chego à pista de caminhada da Avenida Oliveira Belo e já posso concluir meu treino - 18 km, por enquanto está bom. Vou melhorar aos poucos. Se eu não tivesse me lesionado, estaria muito melhor...

O dia que eu me lesionei 

Foi numa dessas manhãs de setembro e, certamente, num sábado, que eu decidi que fazer 30 km de corrida, do subúrbio à Zona Sul. Em Irajá, o céu descartou sua velha película para revelar um azul novinho em folha! Só lhe faltava o espelho das águas do mar, que não chegam ali. Mas tudo isso estaria no final do meu treino, então fiquei animado e comecei a correr.

Senti no rosto um resto de brisa marinha sem cheiro, nem maresia. Uma brisa que atravessou a Avenida Brasil e adentrou nas ruas do subúrbio, deixando para mim um corredor invisível - um túnel encantado de paredes transparentes - um caminho mágico para ser percorrido no sentido contrário. O sentido contrário da visão que se tem da cidade. O sentido contrário que empresta beleza ao subúrbio e prevê urbanidade nas favelas. O sentido contrário que percebe flores, no lugar de lixo, e brilhos nos olhares, antes opacos!

Por isso tudo, eu ignorei um desconforto que surgiu na panturrilha e prossegui meu treino. Tal dorzinha foi ficando mais intensa, ao longo de 22 quilômetros, quando abandonei a corrida para ficar 60 dias praticamente parado.

Comprometa-se ou Morra!

Eu não deixei a ficha dos meus 59 anos cair ainda. Faço trapaças iguais aquelas que se fazia nos velhos orelhões - amarrando a ficha numa linha e puxando de volta, depois da ligação. Quero fazer maratonas por mais 20 anos, mas é cada vez mais difícil. Já estou inscrito em três delas para o ano que vem (Vinho, Rio e Serra do Rio do Rastro). Estabeleci compromissos para não relaxar, abandonar os treinos e sepultar meu corredor.

A frase "Comprometa-se ou Morra!" vale para todo mundo, mas eu só posso cuidar de mim.

Abraços!

Bira.
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