Boa noite, Papai!

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Boa noite, Papai!


Amigos!

Se vivo fosse, meu pai teria feito 100 anos em julho próximo. Levei um susto quando meu irmão revelou este detalhe. 

Meu pai era baixo, magro, cabelos negros e lisos, rosto fino e pele de índio. Vestia terno azul marinho com pins do Fluminense e brasão da República. Em sua mão direita brilhava um imenso anel de São Jorge, enquanto sua boca repetia a canção: "Ogum, olha sua bandeira..." Quando não, cantava "Amélia, Mulher de Verdade". Minha mente gravou essas músicas, para eu nunca mais esquecer de seus bons momentos.

Eu sentia um carinho transbordante pelo meu pai. A separação entre ele e minha mãe, quando eu tinha apenas seis anos, nunca abalou meu sentimento. Volta e meia ele vinha em casa e a gente pegava o ônibus para visitar minhas tias. A felicidade que eu sentia numa simples viagem de ônibus, ao seu lado, ecoa até hoje: incrível!

Mas a vida de meu pai não foi fácil: Antes mesmo de eu nascer, ele entraria para o serviço público federal, mas pegou tuberculose e foi reprovado. Conseguiu se curar, porém nunca teve um bom emprego. Aprendeu viver com pouco no IAPC de Irajá. Quando se separou, abriu mão da casa e chegou a morar num barraco. Seus ternos ficaram surrados e seu anel de São Jorge perdeu o brilho. Por outro lado eu crescia, mas não tinha como ajudar: eu também me virava com pouco.

Quando as coisas melhoraram para mim, meu pai já tinha partido de vez. Mesmo com pouco dinheiro, ele pegou um ônibus lunar e foi morar com São Jorge, que como diz a musica: "... venceu a guerra sem perder soldado!"

Apesar disso tudo, meu pai não se perdeu: Filho de Deus, soldado de Ogum, reside na lua!... Boa noite, Papai!

Abraço!
Bira.

(Postagem de Whatsapp, sem revisão de prováveis erros) 
Confira em: www.cronicasdewhatsapp.blogspot.com

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