Diário de Treinos no Whaysapp - LXXXVI
(Rio, segunda, 27.02.23)
Da Série: HISTÓRIAS QUE EU NÃO CONTEI - UPHILL SERRA DO RIO DO RASTRO MARATHON (PARTE 2 de 2).
INTRODUÇÃO:
Rio do Rastro foi a prova mais difícil que eu já fiz, pois uma forte tempestade pegou todos de surpresa.
Houve desmaios, casos de hiportemia e super lotação no atendimento médico. Ninguém poderia prever tal tempestade na Serra!
Serra do Rio do Rastro: Quando a Bela Vira Fera!
Nem tive tempo de conhecer direito, o Centro da pequena Treviso. O município que tem apenas 4 mil habitantes e economia baseada na extração de carvão, não exibe construções mais imponentes do que a Paróquia de Santo Alexandre, diante da praça central.
Ali foi montada a estrutura de largada da prova, para 1.500 maratonistas vindos de todo Brasil. Era quase-manhã de domingo, 31.08.2019, quando o sol ainda relutava para nascer, em um parto difício, atrás de nuvens cinzentas. Fazia muito frio, especialmente para mim - um carioca perdido na multidão, que tinha cabeça e mãos enfiadas no gorro e em luvas de crochê. Não tive coragem de retirar o casaco quebra-vento, nem consegui entender como vários corredores sulistas estavam confortáveis vestindo camisetas. Torci pela apoteótica hora da largada, que na Uphill é anunciada pelo rufar de tambores japoneses, tocados por samurais - assim caracterizados. Fiquei decepcionado por não conseguir registrar tal momento, pois tinha a visão encoberta pelos corredores da frente... No entanto, já era hora de correr: então larguei!
Pela frente eu teria 42 km de prova na estrada, passando pelo município de Lauro Muller e finalizando em Bom Jardim da Serra - a 1.400 metros do nível do mar. Nada disso, no entanto, passava por minha cabeça naquele início de prova. Ainda havia muita gente correndo próxima das outras. Ainda havia a luz crescente do dia querendo se revelar totalmente.
Não tardou para eu me despir do leve casaco ao sentir o suor na testa. Também não tardou para o verde que margeia a estrada se revelar na luz do dia. Ao longe, o verde rasteiro do pasto se corrompia de amarelo na subida dos montes ou escurecia nas copas das árvores. Quilômetros passavam dissipando os corredores, em um percurso de subidas e descidas suportáveis. Passei com sobras pelo primeiro ponto de corte, no km 19.
Quando batalhões de corredores invadiram as ruas de Lauro Muller, eu era mais um soldado. Perfilados nas calçadas, o povo aplaudia como se aplaudem recrutas que partem para a guerra: Eles sabiam o que teríamos pela frente na subida da serra!
De volta à estrada, o segundo ponto de corte surgiu, no km 30. Não tive problemas, pois meu tempo era bom. Foi quando a serra me convidou para subir e me dizer algumas verdades, como: _"Corredor, baixa a bola!... Você não é tão bom o quanto imagina!... A partir de agora vai ter que trotar e caminhar, se quiser chegar lá em cima!"_.
Mas eu não fiquei ofendido e até tirei uma foto sorrindo. Nem eu, nem ninguém imaginava o que estava por vir...
... E foi assim que aconteceu:
1. de um minuto para o outro começou a ventar forte e quando dei conta, cortinas de nuvens já haviam coberto todo o encanto da serra.
2. Pingos gelados e grossos, de chuva, faziam barulhos ao estatelarem no chão.
3. A tempestade se tornou torrencial. A temperatura despencou brutalmente, congelando minhas luvas encharcadas. Meu casaco quebra-vento parecia inóquo.
4. O asfalto da serra virou corredeira. Suas curvas íngremes e fechadas só me concediam poucos metros de visibilidade. Eu, que já havia perdido a capacidade de correr, então me esforçava para conseguir caminhar!
5. Fotógrafos posicionados em pontos estratégicos da serra se encolhiam (não sei como) em mini barracas que o vento queria arrastar.
6. O zigue-zague da estrada, hora me colocava a favor do vento, hora contra. Nenhuma das duas condições era boa: quando o vento estava a favor, eu me desequilibrava e ficava com medo de chocar com a mureta (até de despencar!); quando o vento estava contra, era difício simplesmente caminhar.
7. Quando as rajadas de chuva coneçaram a espetar meu rosto, eu tive dúvidas se era granizo, fazendo barreira com as mãos. Que eu me lembre, nunca passei sufoco maior do que naquela Serra!
Quando a subida terminou eu estava aliviado e abatido. Ainda havia um trecho plano a percorrer até o pórtico de chegada. Era esperado que tivesse um corredor de pessoas ali, nos aguardando com aplausos, mas a tempestade não permitiu essa glória. Voltei a correr, no ritmo que pude, apenas para tentar me aquecer no final. Atrás de mim e na frente, vários outros corredores haviam sofrido igual... Quando cruzamos a chegada, conquistamos a medalha, o "título de ninja" e uma bela história para ser contada aos nossos netos! #
TREINOS DO DIA:
1 h de musculação na Academia Race.
6,40 km de corrida na Oliveira Belo.
Ritmo: 5:14 / km
Tempo: 33:28 min.
Até a parte LXXXVII
Abraços!
Bira.
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